Referência em cirurgia bariátrica

Alunos realizam cirurgia bariátrica por vídeo
Alunos realizam cirurgia bariátrica por vídeo orientados por professor
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– Por Lidia Neves –

O Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes é o único no Espírito Santo que usa a técnica da videolaparoscopia para o procedimento, aplicado para reduzir os casos mais graves de obesidade. No estado, só a Ufes tem curso de Cirurgia por Videolaparoscopia, que forma residentes e profissionais, além dos graduandos. A experiência motivou várias pesquisas e colocou a Universidade como referência no tema.

A obesidade atinge 18,9% da população brasileira, segundo a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) do Ministério da Saúde. Diversas enfermidades estão associadas à obesidade, como diabetes mellitus, disfunções pulmonares, doenças cardiovasculares, problemas hepáticos, psiquiátricos e reprodutivos.

Para combater a doença, inicialmente é feito o tratamento clínico, acompanhado de dieta, orientação para mudança de hábitos, atividades físicas, atenção psicológica e uso de medicamentos por, no mínimo, dois anos. Os pacientes que não obtêm a resposta esperada podem ser encaminhados por uma equipe multidisciplinar para a cirurgia bariátrica (veja no box quando o procedimento é recomendado).

O modelo mais comum de bariátrica é chamado de bypass gástrico e consiste na diminuição do estômago e realização de uma emenda da parte menor com o intestino. Após a cirurgia, o alimento passa pelo pedaço menor do estômago e o suco gástrico e o pancreático passam a fazer outro trajeto. A absorção e a digestão ocorrem já no intestino.

“Quando a gente desvia a grande curvatura do estômago, a gente diminui a expressão de um hormônio chamado grelina, que é o hormônio da fome. E esse é o principal mecanismo de atuação da cirurgia bariátrica. Ao desviar uma parte do intestino, a gente muda a expressão de vários hormônios, que alteram a sensação de saciedade e regulam o funcionamento do pâncreas, por isso os pacientes melhoram do diabetes”, explica o professor Gustavo Peixoto Soares Miguel, responsável pelo Programa de Cirurgia Bariátrica do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam-Ufes).

Primeiro hospital a realizar o procedimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Espírito Santo, o Hucam-Ufes já contabiliza a realização de mais de 1.200 cirurgias bariátricas – são cerca de 150 por ano atualmente. Três hospitais realizam a bariátrica pelo SUS no Estado, mas só o Hospital Universitário faz cirurgia por videolaparoscopia.

A técnica mais moderna evita a necessidade de fazer um corte de 10 a 20 centímetros (cm) na barriga do paciente: através de pequenos orifícios de até 1,2cm e o uso de pinças, é possível realizar os procedimentos, acompanhados por meio de um monitor. Além de ser menos invasiva, estudos comprovam que a cirurgia por videolaparoscopia possibilita uma recuperação mais rápida e tem menores índices de mortalidade.

O Hospital Universitário passou a usar o vídeo nas bariátricas em 2014, mesmo ano em que teve início o modelo atual do Curso de Cirurgia por Videolaparoscopia. Só em 2017 o procedimento foi incluído no SUS. No entanto, só é remunerado o custo da cirurgia aberta, que é mais barata. “De 2014 até 2017, nós fazíamos porque era importante como ensino, para que nossos alunos aprendessem com a tecnologia mais moderna e não ficassem apenas aprendendo uma cirurgia já em desuso, que é a cirurgia aberta”, diz o professor Gustavo Peixoto. Atualmente, a cada três bariátricas abertas, o Hucam-Ufes faz uma por videolaparoscopia.

Formação em cirurgia por vídeo

A Ufes tem tradição na capacitação de cirurgiões com o uso do vídeo. Em 1992, o professor Elton Francisco Nunes Batista, do Departamento de Clínica Cirúrgica do Centro de Ciências da Saúde (CCS), criou o Curso de Videocirurgia. Até 2008, foram formados 150 profi ssionais no estado. O curso foi interrompido em 2008, por falta de infraestrutura, e retomado em 2014, por iniciativa do professor Gustavo Peixoto, do mesmo departamento, com apoio da Ufes e do Hucam.

“A contratação de docentes novos, a aquisição de materiais e a parceria com o Hospital Universitário foram essenciais para a reestruturação do Departamento de Clínica Cirúrgica e o curso foi retomado com várias melhorias didáticas”, relata o professor. Entre as inovações, foram adquiridos sistemas operados em pequenos tablets e torres de vídeo e pinças mais ergonômicas.

O Curso Básico de Videolaparoscopia acontece anualmente e é o único oferecido no Espírito Santo. São ensinados os fundamentos teóricos e práticos, como as manobras fundamentais, acessos, uso do instrumental e operações como a retirada da vesícula biliar e do apêndice. Com o aprendizado, o aluno estará apto também a realizar outros procedimentos
com técnicas semelhantes.

Na turma de 2018, foram formados 30 médicos pós-graduandos (residentes) de quatro instituições do Estado e dois cirurgiões já pós-graduados. A estrutura montada também foi utilizada para o treinamento de graduandos de medicina que já cursaram a disciplina de técnica operatória.

Com a qualificação, que é aberta também para médicos já formados, a equipe de cirurgiões que fazem bariátrica por videolaparoscopia no Hucam-Ufes já se expandiu para cinco profissionais. “A maioria dos chefes de cirurgia bariátrica do Estado e da região do entorno do Espírito Santo (sul da Bahia, leste de Minas e norte do Rio de Janeiro) é de egressos do Hospital Universitário”, afirma Peixoto.

Fotos: Acervo pessoal/ Prof. Gustavo Peixoto

Referência em pesquisa

As cirurgias bariátricas no Hucam-Ufes motivaram diversas pesquisas nos programas de pós-graduação em Ciências Fisiológicas e em Biotecnologia, que abordam desde a preparação para a cirurgia até o pós-operatório, passando por análises de tecido e patologias associadas.

A tese de doutorado do professor Gustavo Peixoto, defendida em 2009, comprovou que uma nova técnica, a gastrectomia vertical, é equivalente às cirurgias bariátricas mais tradicionais. Nessa modalidade, o estômago do paciente tem uma redução de 80% e é grampeado em forma de tubo, do esôfago ao duodeno. A diferença em relação à técnica do bypass gástrico é que, neste caso, ela só mexe no estômago,
não há a necessidade de alterar o intestino.

A pesquisa do professor da Ufes foi usada como referência técnica para o Conselho Federal de Medicina aprovar o novo método cirúrgico no Brasil.

Saiba em que casos a cirurgia bariátrica é recomendada

A Organização Mundial de Saúde (OMS) usa o Índice de Massa Corporal (IMC) para classificar o excesso de peso e a obesidade. O índice é obtido pela divisão do peso (em quilogramas) pelo quadrado da altura.

São consideradas obesas as pessoas com IMC maior ou igual a 30 kg/m2. A obesidade mórbida ou grave é indicada por um índice igual ou superior a 40 kg/m2. Os que têm cima de 50 kg/m2 são classificados como super obesos. A cirurgia bariátrica é recomendada para os super obesos e para os casos graves que já tenham tentado o tratamento clínico por pelo menos dois anos. Também pode ser indicada para quem tem IMC inferior a 35 kg/m2 e com problemas de saúde como apneia do sono, hipertensão arterial e diabetes mellitus.

A idade mínima para a cirurgia é de 16 anos. Pacientes com menos de 18 anos passam por avaliação clínica e psicológica especial, além de autorização dos pais e aprovação da comissão de ética do hospital em que o procedimento será realizado. Não há idade máxima, mas para idosos é necessária uma avaliação especial dos riscos e benefícios.

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