POLÍTICA MONETÁRIA: ALÉM DA ESTAGNAÇÃO ECONÔMICA?

Prof. Dr. Henrique Pereira Braga                                                                                                  Departamento de Economia da UFES

Como é sabido, a expansão da acumulação de capital tem por pressuposto o crescimento do sistema de crédito. A partir dessa interpretação é que observamos o que ocorreu como crédito na economia brasileira de janeiro até agosto de 2019.  Em termos agregados, cresceu em 2,1% o saldo total de crédito nesse período, sendo que o custo médio do crédito aumentou 0,4 pontos percentuais, fechando o mês de agosto na casa de 21,3% a.a.. O saldo total do crédito para pessoa jurídica reduziu 3,4%, enquanto o crédito para pessoa física subiu 6,6%. Esses resultados apontam para o reforço das trajetórias distintas dessas duas modalidades de crédito, algo já apontado em análises passadas. Contudo, cabe analisar os dados mais de perto.

Observando o crédito para pessoa física com recursos livres, nota-se um crescimento de 10,0%, enquanto o crédito com recursos direcionados cresceu 2,9%. Dentro do crédito com recursos livres para pessoa física, destaca-se o aumento do saldo do crédito pessoal, que cresceu 11%, do crédito para aquisição de veículos, que ampliou 9,1%, e do cartão de crédito, que cresceu 5,9%. A soma do saldo de crédito dessas modalidades respondeu, até agosto 2019, por 89,9% do crédito com recursos livres para pessoas físicas. No recurso direcionado, destaca-se o crescimento do crédito para o financiamento imobiliário, de 3,6%, e o declínio do crédito rural, de 1,8%. Essas duas modalidades responderam, até agosto de 2019, por 93% do saldo do crédito direcionado à pessoa física.

No crédito para pessoa jurídica com recursos livres, ocorreu uma elevação, de janeiro até agosto de 2019, de 1,6%, de forma que o aumento de 0,9% do saldo do crédito para capital de giro, que corresponde por 36,1% do crédito com recursos livres para pessoa jurídica, e de 45,6% na aquisição de veículos, que responde por 4,9% da referida modalidade, parecem ter compensado o declínio de 0,3% no crédito para exportação, que responde por 12,8% dessa carteira de crédito. No recurso direcionado, nota-se um declínio de 9,7%, cuja maior queda foi verificada no crédito rural, 21,9%, que responde por 9,3% do crédito com recursos direcionados para pessoa jurídica; enquanto o crédito com recursos do BNDES declinou novamente, dessa vez em 8,5%, sendo que esse crédito responde por 69,1% do total do crédito com recursos direcionados para pessoas jurídicas.

Os números acima ilustram a manutenção das trajetórias distintas das duas modalidades de crédito. Desde de dezembro de 2016, tanto o saldo total do crédito destinado à pessoa jurídica atingiu um volume menor do que o mesmo indicador para pessoal física, quanto ambos assumiram tendências diferentes: enquanto o primeiro declinou desde dezembro de 2015, quando atingiu o volume de 1,70 trilhão de reais, chegando ao seu menor volume em fevereiro de 2018 (1,40 trilhão de reais), tendo uma leve recuperação até dezembro de 2018 (1,47 trilhão de reais), voltando a declinar nesse ano de 2019 (fechou agosto em 1,41 trilhão de reais); o segundo manteve, desde 2013, sua trajetória de crescimento, chegando em 1,91 trilhão de reais em agosto de 2019.

O que esses dados sugerem, portanto, é que o crescimento dos componentes do crédito vinculados ao consumo continua não sendo capaz de reverter o quadro de estagnação da acumulação de capital no Brasil. Assim, será necessário mais do que a renovação da frota de veículos para que tanto a capacidade utilizada quanto o investimento cresçam novamente. Enquanto isso não acontece, continua a deteriorar nossa posição na divisão internacional do trabalho.

 
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