A CRISE DA ECONOMIA DO ESPÍRITO SANTO: UMA BREVE ANÁLISE DO SEU NÍVEL DE ATIVIDADE E SETOR EXTERNO

Analisando os resultados, seja no nível interno ou em termos do comércio internacional, a economia capixaba obteve resultados negativos generalizados durante o primeiro semestre de 2020. À crise econômica que se arrasta desde 2015 juntaram-se os efeitos resultantes da desaceleração da produção provocada pela pandemia do coronavírus. O Produto Interno Bruto (PIB) do Espírito Santo apresentou, nos dois primeiros trimestres de 2020, comparativamente aos mesmos trimestres do ano anterior, queda de 10,2% e de 6,3%, respectivamente. No acumulado do primeiro semestre do ano, a queda foi de 5,9%, ampliando assim as expectativas de queda previstas já a partir do final de 2019. No caso capixaba, o comportamento do PIB apresenta-se em ligeira queda desde 2017, acompanhando o caso brasileiro, observando-se brusca queda no primeiro semestre de 2020 (Gráfico 1).

Gráfico 1: Variação trimestral do PIB brasileiro e capixaba (Variação % em relação ao mesmo período do ano anterior)
Fonte: IBGE. *O resultado do Produto Interno Bruto capixaba desde 2018 ainda está sujeito a correções.
Elaboração própria.

Em valores correntes, a estimativa para o PIB nominal foi de 30,3 bilhões de reais no segundo trimestre do ano e de 122,5 bilhões de reais no acumulado dos últimos quatro trimestres. Com dados desagregados, observamos, no acumulado do ano de 2020, retrações na Indústria (-20,8%), Serviços (-7,9%) e Comércio varejista ampliado (-4,2%). Os destaques na indústria ficaram por conta dos setores da Indústria Extrativa (-34,7%), Metalurgia (-36,9%), Produtos alimentícios (-29,4%) e produção de Produtos minerais e não metálicos (-25,4%). É importante apontar que a redução do nível de atividade da indústria em um nível muito maior  ao apresentado pela média brasileira já ocorria desde o início de 2019, mas se intensificou durante o período da pandemia. Assim, tendo como referência o mês de agosto de 2020, a queda da atividade industrial capixaba acumulada nos últimos 12 meses foi de 19,3%, ao passo que em âmbito nacional essa queda foi de 5,5% (Gráfico 2). Além disso, observou-se queda da demanda interna, principalmente, produtos alimentícios, e o recuo da demanda externa, afetando substantivamente os segmentos de mineração de ferro em pelotas, óleos brutos de petróleo e produtos siderúrgicos, o que ajudou a agravar o quadro de crise da produção no estado.

Gráfico 2: Pesquisa Industria Mensal – Produção Física (PIM-PF) brasileira e capixaba (Variação percentual acumulada nos últimos 12 meses)
Fonte: IBGE. Elaboração própria.

Quanto ao comércio varejista ampliado, a situação não é tão animadora para o mercado, apresentando queda no volume de vendas em quase todas as bases de comparação para o Espírito Santo. Apesar de medidas como o Auxílio Emergencial, benefício de 600 reais mensais pagos pelo governo federal a trabalhadores informais e de baixa renda, microempreendedores individuais e também contribuintes individuais do Instituto Nacional do Seguro Social, e que visa mitigar os efeitos da paralisação de atividades sobre a renda desse segmento da população, a variação acumulada do ano no Comércio Varejista ampliado foi de -4,2% no Espírito Santo. Esse declínio significativo no Comércio Varejista ampliado resultou, sobretudo, da combinação das variações negativas no Varejo restrito (-1,5%) e em Veículos, motocicletas, partes e peças (-12,5%). No setor de serviços a dinâmica não é muito diferente, posto que apresentou queda de -7,9% no acumulado do ano contra igual período do ano anterior. Alguns dos contribuintes para essa variação negativa foi, sobretudo, o declínio  em Serviços prestados às famílias (-32,0%) e  em Serviços profissionais, administrativos e complementares (-11,1%).

Há impactos que ainda não são previsíveis no futuro próximo, porém, os dados já computados podem dar uma margem de expectativas para o setor externo no estado. Ao analisar as exportações e importações temos dados importantes a serem destacados. Tomando os dados relativos ao período de janeiro a agosto de 2020 em comparação ao mesmo período de 2019, o que mais chama a atenção é a brutal queda das exportações e das importações no período, -30,6% e -25,1% respectivamente. Apesar desses resultados, o saldo da balança comercial ainda ficou positivo em aproximadamente US $502 milhões no período da pandemia. No entanto, significou uma queda de 48,3% em relação ao mesmo período do ano anterior. Por se tratar de uma economia altamente dependente da exportação de commodities, os setores mais afetados são os que correspondem à exportação de bens intermediários, combustíveis e lubrificantes e que representam 83,8% e 10,6% respectivamente. A maior atenção se dá na categoria bens intermediários que apresentou uma queda de 28,1%. Nas importações, a representatividade das categorias está mais equilibradas em comparação às exportações, porém o setor de bens de capital são os de maior parcela com 36,5% do total importado, seguido de bens intermediários, bens de consumo e combustíveis e lubrificantes com participação de 31,4% ,18,8% e 13,3% respectivamente.

Com exceção das importações de bens de capital, que cresceram 5,7%, um crescimento concentrado no breve período antes da pandemia, todas as categorias de importação apresentaram uma redução de valor. Combustíveis e lubrificantes acumularam uma perda de 50,2%, seguido pelos bens intermediários e bens de consumo com redução de 35,5% e 20,3% respectivamente, o que reflete a redução no ritmo da atividade econômica interna. Os principais países de destino das exportações são EUA com 33%, China 14,4% e Holanda com 6%. Em relação aos países parceiros, as importações foram: China com 22,3%, EUA com 12,2% e Argentina com 8,3%.

Diante dos dados apresentados, pode-se deduzir que a dependência da produção e da exportação capixabas em relação ao mercado internacional fará com que a recuperação da economia no estado vincule-se à recuperação da economia global. Assim, o cenário prossegue com grandes incertezas. Segundo o FMI, em seu relatório, World Economic Outlook (“Perspectivas da Economia Mundial”)¹, divulgado em 13 de outubro de 2020, a recuperação econômica mundial será “longa, irregular e incerta”, afinal, a recessão projetada pela organização prevê queda de 4,4% do PIB mundial este ano, o que causará sérios transtornos para a retomada em 2021, a depender de cada país e da forma como os governos nacionais enfrentarem as consequência da crise desencadeada pelo Covid-19.

NOTAS


[1] Disponível em: https://www.imf.org/en/Publications/WEO/Issues/2020/09/30/world-economic-outlook-october-2020.