– Por Jorge Medina –
O pesquisador da Ufes Diego Flores redescobriu quatro poemas traduzidos por Machado de Assis que estavam esquecidos pelos editores e estudiosos. São traduções poéticas que foram publicadas quando o autor ainda era vivo, mas que não foram estudadas na obra machadiana: O Rei dos Ôlmos; Lua da Estiva Noite; O Coração; e Inocência.
O Rei dos Ôlmos (Balada de Goethe), assinada por Y. e atribuída a Machado de Assis, é uma tradução de Erlkönig, do poeta alemão Johann Wolfgang von Goethe, publicada na edição nº 241 da Semana Ilustrada, em 23 de julho de 1865. De acordo com Flores, o escritor brasileiro certamente não traduziu sozinho diretamente do alemão, visto que os seus estudos formais da língua de Goethe só começariam muito mais tarde, em 1883. “Assim, só podemos supor com alguma segurança que essa tradução foi intermediada por alguém ou por outra tradução, possivelmente francesa”, explica.
A serenata Lua da Estiva Noite foi composta em 1867 para ser cantada, acompanhada de flauta e piano, com música do pianista Artur Napoleão, amigo de Machado de Assis. “A autoria dessa serenata foi atribuída exclusivamente ao poeta brasileiro mas, na verdade, foi traduzida diretamente do poema Serenade, do norte-americano Henry Wadsworth Longfellow”, esclarece o pesquisador.
O Coração, tradução do poema alemão Das Herz, de Hermann Neumann, foi publicado anonimamente junto com texto-fonte na edição 782 da Semana Ilustrada, em 1875. Considerando que o poeta-tradutor ainda não conhecia o idioma alemão, provavelmente ele versificou o poema a partir de uma tradução literal do amigo Henrique Fleuiss, autor do desenho alegórico publicado junto com o poema.
Por fim, Inocência, de Luís Guimarães Júnior, também da década de 1870, foi vertida para o francês, constituindo o único trabalho em que Machado de Assis transporta um texto poético da língua portuguesa para uma língua estrangeira. Flores supõe que essa tradução foi um trabalho que o escritor fez a pedido de um amigo e que pouca relação guarda com a sua obra autoral ou sua poética.
Lacuna
De acordo com o pesquisador Diego Flores, a redescoberta das traduções poéticas, por muito tempo esquecidas, ajuda a preencher a considerável lacuna deixada pela crítica quanto às traduções de Machado e ao papel que elas tiveram em sua carreira ou em sua obra. Além disso, contribui para o conhecimento do escritor Machado de Assis a partir dos textos traduzidos por ele, buscando entender o que as escolhas feitas e o que os textos escolhidos representam para sua formação na maneira como dialogam com sua vida e obra e de que forma a maneira como foram traduzidos ajudam a entender o perfil do poeta-tradutor Machado de Assis.
Essas descobertas são provenientes de pesquisas que resultaram na tese de doutorado de Flores, intitulada Machado de Assis Poeta-Tradutor, defendida em outubro deste ano no Programa de Pós-Graduação em Letras da Ufes. A pesquisa foi orientada pelo professor Raimundo de Carvalho e coorientada pelo professor Eduardo Luis Batista.
Machado de Assis
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839 e morreu na mesma cidade em 29 de setembro de 1908. Foi um escritor brasileiro, considerado por muitos críticos, estudiosos, escritores e leitores um dos maiores, senão o maior, nome da literatura do Brasil. Escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista e crítico literário.
Sua obra constitui-se de nove romances, 200 contos, dez peças teatrais, cinco coletâneas de poemas e sonetos, e mais de 600 crônicas. Ela foi de fundamental importância para as escolas literárias brasileiras dos séculos XIX e XX e surge nos dias de hoje como de grande interesse acadêmico e público.
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