Projeto de conservação acompanha novo filhote de harpia

Filhote de harpia, de penugem branca, vista no ninho, no alto de uma árvore, com vista da floresta
Filhote de harpia que nasceu na Reserva Natural Vale, em Linhares, no norte do Espírito Santo. Foto: Reprodução/ Projeto Harpia na Mata Atlântica
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– Por Laís Santana –

Um dos raros casais de gavião-real (Harpia harpyja) no fragmento de Mata Atlântica espírito-santense finalmente obteve sucesso reprodutivo. O filhote de harpia nasceu na Reserva Natural Vale, em Linhares, entre o final de fevereiro e o início de março, enquanto o ninho era monitorado pelo Projeto de conservação da espécie.

O casal começou a ser observado em 2016, e desde então teve cinco tentativas de reprodução documentadas pelo Projeto, mas só agora obteve sucesso no nascimento do bebê. É a primeira vez que todo o ciclo reprodutivo da espécie está sendo monitorado na Mata Atlântica, desde o namoro do casal ao desenvolvimento do filhote.

“O filhote já tem 9 meses de idade e se desenvolve bem”, atualiza Aureo Banhos, coordenador do Projeto Harpia na Mata Atlântica e docente do departamento de Biologia da Ufes, campus de Alegre. “Ele deve permanecer utilizando o ninho e sendo alimentado pelos pais até os 2 anos e meio. Depois ele deixa a árvore e o casal pode se reproduzir novamente naquele mesmo local”, explica. Contudo, a perspectiva de conservação da espécie não é otimista: por mais que os casais de harpia consigam ter várias crias durante toda a vida fértil, que pode ultrapassar os 30 anos, poucos filhotes do casal sobrevivem até a vida adulta. “A população está declinando”, aponta o biólogo.

Em 2014, essas aves de rapina passaram a ser consideradas ameaçadas de extinção no Brasil, país com a maior concentração de harpias no mundo. O Projeto Harpia monitora mais de 50 ninhos ativos na Amazônia e na Mata Atlântica, sendo apenas quatro no Espírito Santo: na Reserva Biológica de Sooretama e na Reserva Natural Vale, ambas no norte do estado.

Professor Aureo Banhos monitora casal de harpias no norte do Espírito Santo. Foto: João Marcos Rosa/ Nitro Imagens/ Direitos reservados

No momento, o maior obstáculo para o nascimento e sobrevivência dos gaviões-reais na Mata Atlântica é a fragmentação da floresta, uma vez que eles dependem de árvores para construir ninhos e se alimentam de presas arborícolas, como macacos e bichos-preguiça, explica o pesquisador. Os fragmentos que restaram da Mata Atlântica são pequenos demais até para a sobrevivência de um único casal de harpias.

“Me parece muito mais comum termos este insucesso reprodutivo na Mata Atlântica do que na Amazônia, onde a situação é mais confortável devido à grande extensão de floresta”, aponta o professor Banhos. “O problema é que agora a Amazônia está sofrendo tanto quanto a Mata Atlântica sofreu no passado. Se o sucesso reprodutivo das harpias já é naturalmente baixo, nas condições degradadas das florestas, ele fica ainda mais vulnerável” lamenta.

Ameaça

A harpia normalmente escolhe viver nas árvores mais altas para garantir uma visão privilegiada da mata, a proteção da prole e a resistência para suportar o peso do robusto ninho do gavião-real. Tanto na Mata Atlântica quanto na Amazônia, duas espécies de árvore bastante escolhidas para nidificação: o embiruçu e o jequitibá-rosa. Contudo, as mesmas árvores são comumente selecionados como madeiras de corte para exploração.

Além de sofrer com o desmatamento, a ave de rapina também está ameaçada por outras atividades humanas, como as listadas pelo professor Aureo Banhos: “Temos percebido como ameaça a caça e perseguição dessas aves nas áreas rurais, as redes de eletrificação rural – em virtude das colisões das harpias com essas estruturas e consequentes mortes por eletrocussão – e a malha rodoviária, devido aos atropelamentos de indivíduos. Isso ocorre quando os indivíduos se dispersam de sua área natal em busca de áreas para se reproduzir e se alimentar”.

O biólogo ressalta que, apesar de ser um predador forte, o gavião-real não apresenta ameaça alguma aos humanos. “Às vezes a falta de conhecimento leva o animal a ser mais perseguido. Por isso é muito comum as pessoas matarem a ave por acreditar que ela vai ferir crianças ou algum animal doméstico. Mas elas são especialistas em presas de florestas..”

O Projeto

O Projeto Harpia começou em 1996 no Instituto Nacional da Amazônia, em Manaus, sob tutela da professora Tânia Sanaoite. Em 2005 as ações se estenderam para a Mata Atlântica. Desde de 2010  a Ufes participa do Núcleo Mata Atlântica do Projeto Harpia, que se ocupa das pesquisas e da conservação do gavião-real. “É um projeto grande e, graças aos estudos da harpia, vários alunos da Ufes acabam indo para a Amazônia fazer estágio, mestrado ou doutorado”, orgulha-se Aureo Banhos, que coordena o projeto na Mata Atlântica. “Temos também muitos parceiros e voluntários no Espírito Santo apaixonados por esta espécie, que colaboram com as atividades do Projeto no campo, coletando dados e gerando informações, fazendo ciência cidadã”, ressalta o professor.

“Temos vários subprojetos sendo realizados, como o que busca entender a dieta do animal na mata através das carcaças de presas que ele deixa cair na base da árvore do ninho”, cita o biólogo. “Estudamos também as espécies que interagem com o ninho, e percebemos que as harpias acabam se tornando uma espécie de engenheiras do ecossistema. Afinal, onde tem ninho de harpia, tem um ecossistema diferente”, detalha. O grupo analisa para onde os indivíduos se dispersam depois que saem do ninho, as áreas que ocupam e quantas aves existem na região. “Fazemos estudos genéticos para verificar se a diversidade genética está sendo reduzida com a redução do tamanho da população e  as consequências da fragmentação florestal no fluxo genético das harpias na Mata Atlântica.”

O grupo atua no sul da Bahia e no Espírito Santo – o chamado Corredor Central da Mata Atlântica –, na região de Foz do Iguaçu e no Rio Grande do Sul. O Projeto também planeja começar as atividades na Serra do Mar, localizada no sul de São Paulo e litoral do Paraná, em parceria com organizações locais, na busca por novos registros da “maior e mais poderosa águia do mundo”, nas palavras do professor Aureo.

São apoiadoras do Projeto Harpia – Mata Atlântica as seguintes instituições: Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes); Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio); Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa); Instituto Últimos Refúgios; Beauval Nature; Nitro Imagens; Reserva Natural Vale; Reserva Particular de Proteção Natural (RPPN) Estação Veracel; Instituto Uiraçu; Refúgio Biológico Bela Vista; Tyrannus Soluções Ambientais; Instituto Marcos Daniel; Parque das Aves; Tiergarten Nürnberg; Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental.

É possível acompanhar o Projeto Harpia no Instagram @projetoharpiabrasil e no Facebook.

3 Comentários

  1. Bom dia. Ontem vi uma ave muito grande de penas parcialmente branca, entrar no meio das arvoresbno parque da fonte grande,proximo a antiga pedreira de santo Antônio, parecia ser uma harpia. Era muito grande em relação a um carcará

  2. Quem está colaborando para a extinção das harpias nao são apenas os que desmatam mas sim sao ,,,,alguns indios que estão matando pra vender suas penas ,,tenho como dar certeza disso!

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