Um novo estudo publicado nesta quinta-feira, 11, no periódico suíço Frontiers in Forests and Global Change, oferece a mais abrangente avaliação dos efeitos da Floresta Amazônica no clima global até o momento. A equipe internacional, composta por mais de 30 autores, dentre eles o professor do Departamento de Oceanografia da Ufes Angelo Bernardino, identificou que, em vez de fornecer uma gigantesca manutenção climática, a Amazônia pode realmente estar aquecendo a atmosfera global.
O estudo intitulado Carbon and Beyond: The Biogeochemistry of Climate in a Rapidly Changing Amazon não apenas revisou os impactos do desmatamento e da perda de florestas na região no dióxido de carbono, como também examinou os inúmeros agentes de mudança menos reconhecidos, incluindo gases do efeito estufa, como metano e óxido nitroso, carbono negro de incêndios, compostos orgânicos voláteis biogênicos, aerossóis, ozônio e a soma da evaporação da água do solo e da transpiração das plantas. Essa extensa avaliação destaca que, nesse momento, a Amazônia está provavelmente aquecendo nosso clima e sua perda contínua causará mais prejuízos não somente para a região, mas também para o mundo.
“Observamos todo o sistema ambiental da Amazônia, tentando levar em consideração não somente o dióxido de carbono”, disse Kris Covey, autor principal e professor visitante de estudos e ciências ambientais na Skidmore College (EUA). “Ao avaliar o impacto combinado desses fatores pela primeira vez, ficou claro que a Amazônia não está fornecendo os benefícios climáticos que esperamos da maior floresta tropical do mundo”.
“Analisar as complexas interações entre a Amazônia, seus efeitos no clima e as influências humanas é mais ou menos como tentar prever o mercado de ações; é feito de partes móveis: múltiplas forças climáticas, não só o carbono, como também metano, óxido nitroso, particulados e efeitos biofísicos, cada um sendo influenciado por estressores humanos que vão desde a construção de barragens e caças a mudanças climáticas”, disse Fiona Soper, professora assistente do Departamento de Biologia e da Bieler School of Environment, da Universidade McGill (Canadá). “Sintetizar essas mudanças é um grande desafio, mas está claro que a maioria dos impactos humanos diretos — extração de recursos, conversão agrícola — remove a vegetação da floresta e, assim, influencia não somente o sequestro de carbono, como também aumentam o potencial de emissões de incêndios e, em alguns casos, outros gases do efeito estufa. Neste artigo, reunimos esses desafios, identificamos padrões gerais e nossas maiores lacunas de compreensão, como a dinâmica dos sistemas de água doce exclusivos da Amazônia”.
Revisão de dados
Este artigo resultou de uma reunião especial organizada pela National Geographic Society em parceria com a Rolex na cidade de Manaus, em julho de 2019. Os principais pesquisadores da área se reuniram para revisar e sintetizar décadas de publicações e dados sobre os propulsores de mudanças ressurgentes na Amazônia — de catalisadores sociais cada vez mais preocupantes, como o desmatamento, o desenvolvimento de energia hidrelétrica e mineração, até incêndios florestais e tempestades cada vez mais graves — e suas implicações mais amplas nos sistemas climáticos regionais e globais.
“Nossa pesquisa mostrou que existem muitas diferenças e ameaças na Bacia Amazônica. Mais estudos serão necessários em toda a extensão da bacia, desde a nascente até o mar. Ainda temos pouco conhecimento sobre a influência da captura de carbono dos manguezais na região, por exemplo”, afirma o professor Ângelo Bernardino.
Diversidade
A Bacia Amazônica contém a maior floresta tropical do mundo, que representa mais de 60% das florestas tropicais remanescentes no planeta. Na Bacia Amazônica, dezenas de milhões de pessoas dependem do que a floresta proporciona e a Amazônia é o lar de mais espécies de plantas e animais do que qualquer outro ecossistema terrestre do planeta.
“A Amazônia não pode mais armazenar o dióxido de carbono que o mundo está produzindo e não pode compensar nossos erros graves”, disse Tom Lovejoy, pesquisador sênior de biodiversidade e ciência ambiental da United Nations Foundation. “Precisamos que a Amazônia volte ao normal. O desmatamento e a degradação têm que parar. É imperativo que protejamos a Amazônia para seu benefício próprio e o de todo o planeta”.
Conheça as principais descobertas do estudo:
– Uma incerteza considerável nos efeitos diretos e indiretos da Amazônia no clima global, e uma incerteza ainda maior na resposta desses feedbacks climáticos quanto às mudanças no uso da terra e à degradação florestal.
– Apesar dessas incertezas, após levar em consideração o impacto de uma ampla gama de feedbacks biofísicos — da floresta e do clima — (isso é, dióxido de carbono [CO2], mas também metano [CH4], óxido nitroso [N2O], albedo, evapotranspiração, compostos orgânicos voláteis biológicos, ozônio e aerossóis), concluiu-se, pela primeira vez, que o efeito mais provável da Floresta Amazônica é o aquecimento global.
– Esse efeito de aquecimento é impulsionado em grande parte pelas emissões de óxido nitroso (N2O), carbono negro de incêndios e metano (CH4) da Floresta Amazônica, que parecem superar o efeito de resfriamento atmosférico do sequestro de carbono da floresta.
– O sumidouro de carbono anual da Bacia Amazônica vem diminuindo há algum tempo e as forças sociopolíticas que estimulam a perda de florestas estão se acelerando. Os feedbacks biofísicos do clima que seguem essas alterações sugerem que a contínua conversão da floresta aumentará o aquecimento atmosférico no futuro.
– Dada a grande contribuição de feedbacks climáticos menos reconhecidos (isso é, árvores amazônicas vivas emitem diretamente aproximadamente 3,5% de todo o metano [CH4] global emitido para a atmosfera), o foco contínuo no carbono florestal (e restrito a ele) é incompatível com uma genuína tentativa de se entender e gerenciar as mudanças climáticas globais na Bacia Amazônica.
Com informações da National Geographic
Imagem: ICMBio
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