– Por Breno Alexandre* –
Uma pesquisa realizada pelo Programa de Pós Graduação em Política Social (PPGPS) da Ufes, em parceria com o Instituto Locomotiva, analisou a situação do microempreendedor da favela no contexto de pandemia no ano de 2020, em relação a aspectos econômicos, sociais e emocionais. Intitulado Empreendedorismo nas favelas brasileiras, o estudo mostrou que os negócios estavam em crescimento até o início das medidas de isolamento social e tiveram queda para 83% dos participantes, além de identificar uma piora da saúde mental daqueles empresários.
Das 721 pessoas entrevistadas em 18 cidades das cinco regiões do país (inclusive no Espírito Santo), 47,9% apontaram que seu empreendimento estava crescendo antes da COVID-19. Dentre os que tiveram redução no faturamento, metade ficou de porta fechada por três meses ou mais e 8% ainda estava fechado no momento da pesquisa, realizada em setembro e outubro de 2020.
Alguns empecilhos atrapalharam a adaptação para o mundo on-line vivenciado no cenário da pandemia. Segundo a professora Maria Lucia Garcia, do PPPGPS-Ufes, sete em cada dez entrevistados só possuem acesso à internet por meio de um plano pré-pago, no smartphone. “Antes da pandemia, 34% já trabalhavam de maneira online, e apenas 23% conseguiram adaptar o seu negócio nesse contexto”, revela a professora, que coordena o Grupo de Estudos Primeira Infância e Desenvolvimento da Ufes.
O estudo indicou, ainda, que 77% não possuem registro de seu negócio, seja por meio de Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) ou registro na prefeitura. Em relação ao auxílio emergencial do governo federal, 58% o solicitaram, sendo que uma parte expressiva recebeu todas as parcelas e as usou para o pagamento de contas de sua família. A grande maioria trabalha por conta própria, e apenas 15% tem funcionários.
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Saúde mental
A análise também mostrou o impacto da pandemia na saúde mental dos entrevistados. Os principais problemas de saúde mental relatados foram a ansiedade (que atinge 32%), medo de ficar doente (24%), tristeza (19%), medo de morrer (16%), dificuldade para dormir (16%), preocupação (10%) e pensamentos ruins (10%).
Foi registrado um aumento dessas situações em relação ao período pré-COVID, principalmente do medo de ficar doente (crescimento de 15 pontos percentuais), tristeza, ansiedade e medo de morrer, que aumentaram 12 pontos percentuais cada. Além disso, 48 pessoas apontavam probabilidade de depressão. Dentre elas, a predominância é de mulheres negras com filhos em idade escolar.
A maioria dos que apresentaram sintomas de adoecimento mental procurou assistência na família e nos amigos. Somente um em cada quatro dos que manifestaram doenças mentais buscou apoio profissional e destes, 40% não retornaram após a primeira consulta.
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Continuação do estudo
A ideia dos pesquisadores é repetir essa pesquisa após um ano, para recolher informações acerca da evolução dos aspectos postos em questão. No total, foram ouvidas 382 mulheres, 337 homens e duas pessoas de outros gêneros. No Espírito Santo, foram entrevistadas 51 pessoas.
A análise dos dados está sendo feita em parceria com as universidades de Keele e de Coventry, na Inglaterra. O estudo é parte do Programa Institucional de Internacionalização da Ufes (PrInt-Ufes) e conta com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes).
*Bolsista de Comunicação
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