– Por Sueli de Freitas –
Nesta semana, mais precisamente na quarta-feira, 17 de março, a Ufes completa um ano de suspensão de suas atividades presenciais, medida emergencial adotada como forma de proteger a comunidade universitária do contágio pelo novo coronavírus. Neste período, muita coisa aconteceu na Ufes em todas as áreas e mesmo com o distanciamento social que foi imposto pela pandemia.
Na área de pesquisa, os números revelam que a Universidade não ficou parada neste período. De acordo com o banco de dados do Sistema Acadêmico de Pesquisa e Pós-Graduação (SAPPG), até 31 de dezembro de 2020 foram cadastrados 7.918 projetos. Desde o dia da suspensão das atividades presenciais até o final do ano de 2020, foram 669 projetos. A Plataforma Stela Experta traz os dados das pesquisas que envolvem os termos relacionados à COVID-19: 122 projetos até o dia 11 de março último.
No que diz respeito às publicações científicas, dados da Base Scopus apontam que, de 2020 a 11 de março de 2021, foram 2.024 artigos publicados no Brasil com o termo COVID-19, o que coloca o país em 11º lugar no ranking mundial. A Ufes está em 25º entre as universidades brasileiras que mais publicaram sobre a pandemia, com 32 artigos no período.
“Vejo como excelentes esses números. A Ufes tem cerca de 1.700 docentes, sendo que em torno de mil atuam diretamente na pós-graduação. Os dados de pesquisas refletem o alto grau de engajamento dos docentes da Ufes com a temática COVID”, avalia o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Ufes, Valdemar Lacerda Jr., lembrando, também, dos vários outros setores da Universidade que se movimentaram no enfrentamento à pandemia: “Várias outras ações demonstram que a Ufes não ficou parada, como por exemplo, os diversos projetos de extensão, como recuperação de equipamentos hospitalares e fabricação de álcool gel e álcool 70 e as quase mil defesas de teses/dissertações que ocorreram. Outro fato que mostra a pujança da Universidade neste período de pandemia foram as disciplinas ofertadas pelos programas de pós-graduação, 1.406 no primeiro semestre de 2020 e 1.014 no segundo semestre”.
Conheça algumas das pesquisas sobre COVID-19 realizadas na Ufes
Reorganização
Para que as atividades de pesquisa continuassem, apesar das medidas de restrição de circulação de pessoas devido à pandemia, a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG) orientou os programas a reorganizarem as rotinas, promovendo rodízio entre os alunos e outras ações, de acordo com as recomendações do Comitê Operativo de Emergência para o Coronavírus da Ufes (COE-Ufes).
“Foi um ano difícil, minha área de atuação é de pesquisa aplicada, e os cronogramas foram mantidos. A gente tinha alguns resultados já levantados e aproveitou para processar, e assim fomos tocando as pesquisas, mas não foi simples”, afirma o professor Anselmo Frizera, do Departamento de Engenharia Elétrica, que durante o ano de 2020 coordenava quatro projetos de pesquisa. Além de manter suas pesquisas, Frizera aderiu ao projeto de extensão envolvendo estudantes e professores do Centro Tecnológico para manutenção de respiradores da rede estadual de hospitais. Ele conta que atuou na gestão do projeto e colocou a mão na massa fabricando peças em impressora 3D e usando resina odontológica. “Fazia tudo aqui na minha sala, enquanto os alunos consertavam os equipamentos. Os estudantes se capacitaram para saber se comportar numa situação de risco de contaminação. Foi um trabalho heroico que fizeram”, afirma.
Nessa empreitada de combate à pandemia, a Ufes fomentou um edital interno para projetos de pesquisa e extensão direcionado a ações de enfrentamento à pandemia, sendo aprovados 14 de pesquisa e 14 de extensão. Alguns professores da Ufes conseguiram captar recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em chamadas também específicas sobre a COVID-19. Além disso, a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) lançou uma chamada específica para projetos de pesquisa relacionados ao coronavírus e, dos 34 aprovados, 16 foram de pesquisadores da Ufes.
Alternativa econômica
“Minha área de formação é Química, mais especificamente síntese orgânica e ressonância magnética nuclear. Logo no início da pandemia, vi uma excelente oportunidade de tentar utilizar um subproduto da fabricação do biodiesel, a glicerina, em medidas profiláticas no enfrentamento da COVID”, conta o professor Valdemar Lacerda Jr., que está desenvolvendo um projeto que visa apresentar alternativas para descontaminação de locais públicos.
Ele explica que a glicerina detém na sua composição, além do glicerol, água, sabão e etanol, sendo efetiva nas medidas de descontaminação de baixo custo, o que a torna de alto potencial como medida profilática, não apenas ao coronavírus mas também a outras doenças provocadas por vírus e bactérias. “Essa proposta visa ao desenvolvimento de um processo viável econômica e tecnicamente, com o uso da glicerina oriunda da produção de biodiesel para a diminuição da contaminação, reduzindo, assim, os custos das prefeituras, de órgão públicos e de hospitais com o uso de sanitizantes comerciais, apresentando um valor mais nobre à glicerina oriunda da produção de biodiesel, que atualmente apresenta-se de baixo custo financeiro e pouquíssimo uso industrial”, afirma.
Medicina e Direito
Outra professora que está com projetos de pesquisa em desenvolvimento relacionados ao enfrentamento à COVID-19 é Patrícia Deps, do Departamento de Medicina Social do Centro de Ciências da Saúde da Ufes. Com diversos trabalhos nas áreas de saúde pública, relação entre médico e paciente, Medicina e áreas social e humana, direitos humanos, Direito e ética médica, a professora publicou no ano de 2020 pelo menos dez artigos científicos, sendo três sobre a pandemia.
“Foi tudo inesperado, achamos que duraria meses e estamos com a pandemia até agora. Desde o início organizamos os grupos de pesquisa e extensão on-line, mesmo não prevendo essa duração imensa. Estávamos apreensivos com os estudantes de Medicina, temendo que eles se sentissem deprimidos. Fizemos muitas reuniões, estivemos unidos mesmo que remotamente. A participação no grupo do movimento de pessoas afetadas por hanseníase e seus familiares [clique aqui para conhecer] ajudou bastante a enfrentar esse período de dificuldades”, afirmou ela, referindo-se a um dos grupos de extensão dos quais participa.
Dentre os projetos de pesquisa relacionados à COVID-19, estão os que têm interface com a área de Direito. Um deles é desenvolvido por um grupo que estuda Medicina defensiva, tratando de decisões éticas e aspectos jurídicos relacionados às questões da pandemia. O outro trata dos processos jurídicos decorrentes da pandemia, que resultou num artigo escrito pela professora em parceria com uma bioeticista da Fiocruz sobre princípios éticos que devem ser observados na tomada de decisões durante a pandemia. “Esse artigo é direcionado à comunidade científica, a toda sociedade e aos gestores de saúde pública no país e no exterior”, explicou. Ela também destaca como produtos dos trabalhos de pesquisa uma webconferência sobre direitos humanos e pandemia e um simpósio sobre o aumento dos casos de violência contra a mulher no contexto da pandemia.
O portal da Ufes publica esta semana uma série de matérias sobre as atividades realizadas pela Universidade para contribuir com a sociedade no enfrentamento à COVID-19. Confira.
Edição: Thereza Marinho
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