Artigos publicados pela Ufes analisam discursos no ambiente digital

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– Por Vitor Guerra* –

As práticas discursivas no ambiente digital são a temática escolhida para o 19° volume da Revista Calidoscópio, publicada e editada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. A Ufes marca presença na edição com três artigos publicados por estudantes do Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGEL) da Universidade.

Segundo Júlia Almeida, coautora de um dos trabalhos e professora do referido programa de pós-graduação, a publicação dos artigos é fruto de um trabalho de sala de aula, de interesses e de leitura acerca do ambiente digital e análise do discurso que o PPGEL vem trabalhando há alguns anos, embasado nos estudos de Marie-Anne Paveau, professora de ciências da linguagem na Université Paris 13.

“O nosso programa tem se firmado em várias áreas de pesquisa, a linha de texto e discurso recentemente ganhou essa força com a pesquisa dos meios digitais. De certa forma, a aprovação desses artigos consolida a Ufes e o Programa de Linguística como interessados no digital”, afirma a professora. 

Humor

A pesquisadora Amália Pratte, mestre pelo PPGEL, é a autora principal do artigo O aumento humorístico nos comentários de Instagram do perfil Um Sábado Qualquer. Em seu texto, ela trata da relação entre o humor e o contexto digital no perfil humorístico criado pelo chargista Carlos Rueda. Orientada por Almeida, que também assina o artigo, Pratte buscou compreender o comportamento da produção humorística dentro da plataforma digital Instagram.

“A partir do momento que o autor posta uma tira humorística no ambiente digital, buscamos entender como esse humor ganha continuidade nos comentários. Isso é chamado por nós de aumento humorístico, ou seja, como o humor é afetado a partir de todos os recursos da plataforma”, sintetiza Pratte.

Política e direitos

O artigo O bolsonarismo no Facebook a partir da perspectiva das fórmulas discursivas, de autoria das doutorandas Lidia Neves-Hora, Camilla Cavalcanti e Ana Paula Costa, analisa o termo “bolsonarismo” através das postagens do Facebook.  

“Nós utilizamos o conceito de fórmulas discursivas, da linguista francesa Alice Krieg-Planque, para verificar como essa expressão se cristaliza nos discursos, como ela circula, quais são as polêmicas em torno dela”, afirma Neves. As pesquisadoras ressaltam, ainda, que pretendem avançar em alguns métodos de pesquisas usados no trabalho aprovado.

Já o artigo de Girley Vieira, também doutorando do PPGEL, com sua orientadora, professora Micheline Tomazi, buscou compreender como comunidades quilombolas se mobilizaram através da internet a fim de resistir às adversidades da pandemia. Intitulado #VidasQuilombolasImportam: discurso de resistência à necropolítica na gestão da crise do Covid-19, o trabalho reflete as dificuldades desse grupo no período.

“Com as ruas fechadas, sobrou apenas o ambiente digital, mais especificamente as plataformas de redes sociais; então nós analisamos como esses discursos produzidos e veiculados pelas comunidades quilombolas no ambiente digital serviram como forma de resistência para cobrar autoridades e reivindicar seus direitos”, afirma o pesquisador.

Compartilhamento

O digital, principalmente com as redes sociais, passou a dominar, nos últimos 10 anos, a relação que estabelecemos com a comunicação, reitera Almeida. “Na análise do discurso, vários aspectos têm sido abordados nos estudos; por exemplo, formação de comunidades com objetivos específicos on-line que estabelecem um grupo de compartilhamento de informações e hábitos semanais”, ressalta a professora. Um exemplo disso é o TBT (sigla em inglês para quinta-feira para relembrar, que consiste na prática de postar fotos antigas nesse dia da semana). “A internet tem a capacidade de agrupamento muito forte e ações discursivas específicas”, completa Almeida.

Para Vieira, a transformação digital afeta as estruturas e as próprias formas de como nós nos relacionamos. O pesquisador aponta para um esgotamento de modelos conceituais que existiam, mas que hoje não são suficientes para dar conta dos objetos de discursos. 

“O que a linguística tem feito bastante é promover um diálogo com a ciência de dados, para empregar na análise desses discursos digitais ferramentas tecnológicas”, diz Vieira. Para o estudante, a união entre as ferramentas tecnológicas, como softwares scripts, auxiliam nos estudos da análise do discurso, podendo trazer resultados interessantes para as duas áreas.

* Voluntário em projeto de Comunicação

Edição: Sueli de Freitas

Imagem: Pixabay

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