– Por Sueli de Freitas –
A dissertação de mestrado Melhoramento Genético de Euterpe edulis para Produção de Frutos, de autoria de Guilherme Canal, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Agronomia da Ufes, foi a vencedora do 1º Prêmio MCTI-FINEP SiBBr de Biodiversidade, promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) na categoria Produção Acadêmica. Foram 29 projetos apresentados, sendo 19 para a categoria Produção Acadêmica e dez para a categoria Desenvolvimento Tecnológico e Inovação. O Prêmio contou com a colaboração institucional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI).
Canal foi orientado na sua pesquisa pelo professor Adésio Ferreira. Atualmente, o estudante faz doutorado no Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento (PPGGM) da Ufes, com o mesmo orientador, e segue na pesquisa sobre o Euterpe edulis, espécie mais conhecida como palmito juçara ou juçaizeiro, cujo fruto se assemelha ao açaí.
O resultado do prêmio, divulgado no último mês, foi comemorado por Canal e seu orientador. “É o reconhecimento nacional de um trabalho com mais de 12 anos do grupo de pesquisa do Centro de Ciências Agrárias e Engenharias (CCAE) e parceiros, que trabalham com a espécie, enfatizando a importância do uso do fruto como potencializador de ações de sustentabilidade, com grande impacto científico, social, econômico, ambiental e tecnológico”, afirmou Ferreira. Ele destacou que esse trabalho só foi possível “devido ao apoio fundamental de agências de pesquisas”, destacando o CNPq, a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), além da empresa Vale. “O prêmio demonstra o potencial de formação dos estudantes nos nossos programas de pós-graduação”, disse o professor, que é o coordenador do PPGGM/Ufes.
Melhoramento genético
O programa de melhoramento do juçaizeiro pelo Laboratório de Biometria Vegetal da Ufes, localizado em Alegre, teve início em 2011, com atividades práticas. As palmeiras da espécie em extinção ocupam uma área de aproximadamente 12 hectares. Essas árvores podem ultrapassar os 15 metros de altura. Os frutos dão em cachos e são esféricos, na cor preta, similares ao açaí. O produto resultante do processamento desse fruto apresenta valor energético, antioxidantes e diferentes tipos de nutrientes, como potássio, ferro, zinco, proteínas, vitaminas e fibras, entre outros.
“No início da pesquisa que originou a dissertação, nós conseguimos fazer uma parceria com duas empresas proprietárias de plantios de juçara. Assim, foi possível determinar a população para trabalhar o melhoramento. Isso foi importante, pois, em ambientes naturais, a atividade ilegal de abate das plantas inviabilizava as avaliações periódicas”, explica Canal.
Com a população de árvores definida, foi realizada a avaliação de aspectos produtivos de aproximadamente 500 genótipos. O objetivo, conta o pesquisador, era gerar bases para a condução de um programa de melhoramento para a espécie, sempre destacando a importância de preservá-la e a sua utilização comercial. “Avaliamos variáveis morfoagronômicas, ou seja, características de interesses agronômicos, como, por exemplo, produção de frutos, suas associações e, ainda, realizamos práticas seletivas para destinar sementes de qualidade a produtores rurais”.
Nesse processo, foram analisadas as seguintes características: altura da planta, número de cachos, circunferência e altura do peito, comprimento de raque, número de ráquilas, massa fresca do fruto e da semente, quantidade de polpa do fruto, massa fresca de fruto no cacho, produção de frutos por planta e número de frutos por cacho.
“Os resultados demonstraram o potencial elevado de aumento da produtividade da espécie. Nós partimos de uma população com uma média de produção de frutos de 8,43 quilos por planta e conseguimos selecionar uma população melhorada na qual a produção média apresentada foi de 21,22 quilos por planta”, diz Canal.
O pesquisador destaca que o trabalho expôs o potencial de uma técnica nunca utilizada para a espécie: a seleção genômica, que está sendo testada na atual etapa do doutorado. “A seleção genômica é um método no qual selecionamos as melhores plantas, de modo mais acurado, utilizando de forma conjunta informações fenotípicas e moleculares. Os genótipos em avaliação têm seu DNA coberto por grande densidade de marcadores, gerando informações que são associadas às informações fenotípicas, por meio de técnicas estatísticas, para selecionar os genótipos superiores”, explica.
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