Estudo revela elevada diversidade genética de árvore nativa ameaçada de extinção

A Freziera atlantica pode atingir altura de até 25 metros e produz grandes quantidades de frutos ao longo do ano. Fotos: João Paulo Zorzanelli/Ufes
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– Por Sueli de Freitas –

Em estudo desenvolvido no Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular do Centro de Ciências Agrárias e Engenharias da Ufes, em Alegre, foi detectada uma elevada diversidade genética da Freziera atlantica, árvore nativa da Mata Atlântica que corre risco de extinção. A boa notícia é que, havendo uma diversidade genética significativa, há maior probabilidade de indivíduos da espécie estarem aptos a enfrentar distúrbios que podem acontecer no meio ambiente.

A Freziera atlantica foi descrita em 2015 num trabalho de João Paulo Zorzanelli, atualmente pesquisador do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) e doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais (PPGCFL/Ufes). No doutorado – orientado pela professora Sustanis Horn Kunz, do PPGCFL/Ufes, e pelo professor Fábio Demolinari de Miranda, do Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento (PGGM/Ufes) –, Zorzanelli fez a pesquisa sobre a diversidade genética da espécie. O resultado foi publicado num artigo da revista Trees: Structure and Function, que trata dos primeiros avanços para o conhecimento dos aspectos biológicos da espécie e propõe estratégias para a sua conservação. 

A espécie é da família Pentaphylacaceae. É considerada ameaçada de extinção em função da baixa quantidade de indivíduos adultos, identificados, até então, apenas na Serra do Valentim, no Espírito Santo, e na Serra da Papuã, na Bahia. “Outros locais precisam ser pesquisados”, afirma Kunz. As árvores atingem uma altura de até 25 metros e produzem grandes quantidades de frutos ao longo do ano, formando um grande banco de sementes no solo. A dispersão das sementes, acreditam os pesquisadores, se dá por meio das aves. 

Método

Na pesquisa de doutorado, foram avaliadas a diversidade e a estrutura genética da população localizada na Serra do Valentim, entre os municípios de Iúna, Ibatiba e Muniz Freire, numa altitude máxima de 1.650 metros. A região apresenta importante diversidade vegetal e tem como principais fatores de ameaça a extração ilegal da palmeira Juçara, as áreas de pastagem nas proximidades e os frequentes incêndios florestais. 

Foram coletadas três folhas sadias de 44 árvores. O material foi levado a laboratório para obtenção do DNA genômico. Com o uso de termociclador – equipamento que automatiza o processo de amplificação de uma sequência específica de DNA – foram feitas as amplificações e, a partir de dados estatísticos, estimados os parâmetros de diversidade genética molecular intrapopulacional. 

Diversidade e preservação

Segundo a professora Kunz, a diversidade genética, que corresponde às variações genéticas entre os indivíduos de uma mesma espécie, aponta como cada um deles vai se comportar diante de uma alteração no ambiente em que estão inseridos. “É possível que alguns indivíduos consigam ter maior capacidade de sobreviver a uma seca, por exemplo. Com a diversidade genética, alguns podem estar mais aptos e enfrentar os distúrbios que acontecem num ambiente. Por outro lado, se não há uma boa variedade genética, frente a uma perturbação, pode haver a morte de todos os indivíduos. Isso implica, portanto, em como vai ser a manutenção da biodiversidade”, afirmou. Ela explicou que é o cruzamento entre os indivíduos e as mutações ao longo do tempo que levam à variedade genética de uma mesma espécie. 

No artigo da revista TreesStructure and Function, os pesquisadores sugerem algumas ações para a preservação da Freziera atlantica, entre elas o envolvimento das comunidades locais nessa discussão, com orientações para utilização de práticas não agressivas de uso e manejo do solo, especialmente em relação ao fogo. Também indicam, numa segunda etapa, a aplicação de conhecimentos científicos, como o plantio da espécie em áreas degradadas pelo fogo e em pontos mais íngremes, com monitoramento contínuo.

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