Pesquisador alerta sobre os riscos das mudanças climáticas e convoca jovens à busca de soluções

Estuário de Piraquê-Açu-Mirim, em Aracruz-ES, possui o maior estoque de carbono do Brasil. Foto: Divulgação/Ufes
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– Por Hélio Marchioni e Lidia Neves –

O coordenador científico do Instituto de Estudos Climáticos da Ufes, Carlos Nobre, alertou sobre as mudanças climáticas no Espírito Santo, no Brasil e no mundo e convocou os jovens para buscar soluções sustentáveis para a manutenção das florestas em pé. Os avisos foram dados em entrevista ao programa Ciência Ufes que foi ao ar na Rádio Universitária 104.7 FM nesta sexta-feira, 3. O programa, que comemora sua 100ª. edição, é comandado pelo jornalista Hélio Marchioni e teve a participação da editora desta Revista Universidade, Lidia Neves.

Carlos Nobre ingressou, no último mês, na britânica Royal Society, uma das mais respeitadas e antigas sociedades científicas do mundo e é um pesquisador bastante reconhecido e premiado por seus estudos sobre a “savanização” da Amazônia. Ele voltou a avisar, na entrevista, da necessidade de reflorestamento e sobre o ponto de não retorno para a recuperação da floresta em casos de excesso de desmatamento, como ocorre no sul da região amazônica.

Ouça o programa Ciência Ufes

Em relação ao Espírito Santo, destacou o desenvolvimento de estudos sobre o clima e a busca por neutralização das emissões de carbono no estado. Uma dessas pesquisas busca também soluções para a recuperação da floresta de Mata Atlântica, por meio do aumento da produtividade agrícola e da liberação de áreas para reflorestamento. “No Brasil, quase todas as emissões vêm do desmatamento e da agricultura. É possível aumentar sua produtividade e reduzir a área agrícola, com uma abundância de produção de alimento e de forma sustentável”, afirma. Outra parte dos estudos envolve a parceria com o poder público para diminuir os efeitos das mudanças climáticas e contribuir para maior resistência às variações, que envolvem secas extremas e chuvas intensas.

Além disso, ele destacou a força do financiamento do negacionismo científico e ambiental por setores do agronegócio no Brasil e pela indústria dos combustíveis fósseis no planeta. “O Brasil é um dos três países no mundo com maior preocupação sobre as mudanças climáticas. Na sociedade, a parcela dos negacionistas é bem pequena, mas barulhenta. Esse barulho é estimulado por setores econômicos que não querem reduzir suas emissões de gases do efeito estufa. Esses setores começaram a financiar falsos cientistas para que eles colocassem em dúvida os estudos sobre o aquecimento global. A mesma estratégia foi utilizada pela indústria do cigarro, que contratava médicos para dizer que o cigarro não fazia mal algum. Essa já é uma estratégia conhecida”, enfatizou Nobre.

Soluções

Por outro lado, Carlos Nobre é um otimista: atualmente está investindo seus estudos em soluções sustentáveis para a Amazônia, as quais envolvam uma indústria que mantém a floresta em pé, e mandou um recado para as novas gerações: “Para os jovens que pretendem entrar na Universidade Federal do Espírito Santo e querem desenvolver suas carreiras, eu coloco esse enorme desafio: a minha geração detectou o risco das mudanças climáticas, de alteração dos biomas e do desaparecimento de espécies. Nos últimos 50 anos foram extintos mais de 50% dos mamíferos do mundo. Nós temos que alterar essa rota. Nós mostramos os riscos, mas não conseguimos implementar as soluções. É muito importante que essa nova geração se sinta empoderada para propor soluções baseadas na natureza, que busquem soluções baseadas na ciência. A minha geração tem que pedir desculpas às novas gerações. Por outro lado, eu estou otimista. Essa nova geração tem uma outra postura com relação ao mundo político, sobre trajetórias sustentáveis, muito diferente das gerações anteriores. Eu estou otimista que essa nova geração vai fazer a transição tão necessária para que nos próximos 10 ou 20 anos possamos colocar o planeta Terra e o nosso país numa trajetória de salvar o planeta, numa trajetória de sustentabilidade.”

Com início em agosto de 2019, o Ciência Ufes é um programa de divulgação da ciência, das pesquisas e das ações da Ufes que têm impacto direto na vida das pessoas. O programa vai ao ar toda sexta-feira, às 10 horas, entrevistando os pesquisadores da Ufes que produzem a ciência que está no cotidiano das pessoas e, muitas vezes, elas nem percebem. A rádio Universitária FM está na frequência 104.7, e ainda pode ser ouvida pela internet no endereço universitariafm.ufes.br.

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