Estudo pioneiro mostra eficiência de drones no controle de doenças do cafeeiro

Drone pulverizador reduz o desperdício do fungicida e evita a contaminação do ambiente. Fotos: LMDA/Ufes
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– Por Leandro Reis –

Marcada pelo protagonismo da tecnologia, a Agricultura 5.0 subiu mais um degrau para se consolidar como uma revolução na produção agrícola. Um estudo pioneiro conduzido por pesquisadores da Ufes mostrou que o uso de drones no controle de doenças do cafeeiro tem maior precisão se comparado aos métodos tradicionais. A pesquisa, realizada pelo Laboratório de Mecanização e Defensivos Agrícolas (LMDA), do Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas do campus de São Mateus, utilizou drones pulverizadores para aplicação de fungicidas nas plantações, divergindo da técnica convencional, que consiste no emprego de pulverizadores tratorizados.

Os resultados foram divulgados em janeiro na conceituada revista suíça Agronomy MDPI. Trata-se do primeiro estudo publicado nacional e internacionalmente na área de Tecnologia de Aplicação por meio de veículos aéreos não tripulados (VANT) no controle da ferrugem-do-café e da cercosporiose. A pesquisa foi coordenada pelo professor Edney Vitória, do Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical (PPGAT), com a participação dos estudantes da Ufes Luis Felipe Ribeiro e Maria Eduarda Ribeiro, além da colaboração de pesquisadores do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), do Departamento de Engenharia Agronômica da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e da Syngenta Crop Protection.

O estudo conta, ainda, com a parceria da National Center for International Collaboration Research on Precision Agricultural Aviation Pesticides Spraying Technology (Centro Nacional de Pesquisa de Colaboração Internacional em Tecnologias de Aplicação Aérea de Defensivos Agrícolas), do College of Electronic Engineering and Artificial Intelligence (Faculdade de Engenharia Eletrônica e Inteligência Artificial) da South China Agricultural University (Universidade Agrícola do Sul da China), localizada em Guangzhou, na China. Os pesquisadores chineses foram responsáveis pela avaliação de toda a metodologia utilizada no experimento.

Segundo o professor Edney Vitória, a participação dos chineses foi decisiva para o estudo, uma vez que o país continua fazendo grandes investimentos para desenvolver e inovar tecnologias relacionadas aos drones pulverizadores. “A China detém a maior frota do mundo de drones pulverizadores, por conta do tamanho de sua população e do grande número de culturas e áreas para plantio, além de possuir as duas maiores empresas de fabricação de drones, a DJI e a XAG”, afirma.

A parceria surgiu na plataforma Research Gate, uma espécie de rede social que promove interações entre cientistas e pesquisadores de vários campos do conhecimento. O convite partiu do estudante de Agronomia Luis Felipe Ribeiro, orientando do professor Vitória no LMDA. “Percebi que alguns pesquisadores chineses e paquistaneses estavam acessando nossos artigos científicos e os recomendando”, lembra Ribeiro. Depois de entrar em contato com um integrante da equipe chinesa, o estudante recebeu uma resposta positiva. Em seguida, a colaboração foi oficializada com o coordenador do núcleo chinês, Yubin Lan, que convidou o LMDA para uma visita técnica ao centro de pesquisa na China. “Ainda teremos a participação deles em outros estudos”, adianta o professor.

Pesquisa de campo

A pesquisa foi realizada em campo no período de junho de 2021 a junho de 2022, numa propriedade em Marechal Floriano, sudeste do Espírito Santo, com café tipo arábica. A escolha pela região se deu por dois motivos, segundo o professor: a participação do pesquisador do Incaper César Krohling, especialista em doenças do café e coordenador de uma área naquela região para experimentos em café; e pelas circunstâncias estruturais da área para a aplicação de fungicidas.

“A região serrana do Espírito Santo tem uma grande área de café plantada em morros. Nessas condições, os tratos culturais são um problema para o agricultor. Às vezes não é possível utilizar o trator devido à inclinação e, neste caso, as aplicações são realizadas com pulverizadores costais (que se tratam de um modelo com reservatório carregado nas costas, como uma mochila, e aplicado de forma manual pelo agricultor). Mas esses equipamentos são ergonômica e operacionalmente muito ruins”, explica o professor.

Como os autores afirmam no artigo, nos últimos anos houve avanços significativos quanto à eficácia de fungicidas na proteção à saúde das plantas. No entanto, no que diz respeito às lavouras de café, as tecnologias para aplicação não acompanharam a mesma eficiência dos produtos, levando ao desperdício e consequente contaminação do meio ambiente e das pessoas envolvidas no cultivo da espécie. É o caso do tradicional pulverizador tratorizado, que aplica o fertilizante a uma taxa de 400 litros por hectare (L/ha).

“Os pulverizadores tratorizados, quando mal regulados e calibrados, tendem a aplicar uma quantidade de calda (produto combinado a água) maior do que a necessária. Consequentemente, há um escorrimento do produto para o solo, acesso nas folhas ou nos frutos e maior susceptibilidade em relação à deriva (produto levado pelo vento que pode contaminar outras culturas e mananciais, por exemplo)”, explica o professor.

Já o drone pulverizador, como foi demonstrado no estudo, aplica o fertilizante de forma mais concentrada, a uma taxa de 10 L/ha, sem desperdiçar o produto. “Obedecidas as condições climáticas adequadas para a aplicação, as chances de perda do produto por escorrimento e deriva são mínimas, pois a densidade das gotas é menor em relação ao pulverizador tratorizado”, explica. Além disso, o drone prescinde de profissionais capacitados para operar equipamentos convencionais de aplicação, sobretudo em regiões de estrutura complexa como as montanhas.

Regulação

Segundo o professor Vitória, os drones pulverizadores já são utilizados no cultivo do café há pelo menos quatro anos. No Brasil, há 2.223 drones aeroagrícolas registrados na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Porém, boa parte dos prestadores de serviços envolvidos no trabalho não detém conhecimento técnico para desempenhar a função.

“Isso pode diminuir a eficiência na aplicação e comprometer a eficácia do controle da praga ou doença”, afirma o professor. “Pesquisas como esta são importantes para dar um retorno à sociedade sobre a segurança e a qualidade dessa forma de aplicação, desde que conduzida com critérios técnicos”.

Em setembro de 2021, inclusive, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) emitiu a Portaria nº 298, criando regras para a operação de drones com agrotóxicos e afins. O documento obrigou operadores a se registrarem no Ministério, realizarem cursos e apresentarem relatórios mensais de atividades. Atualmente, apesar do grande número de drones registrados, apenas 19 prestadores de serviço estão cadastrados no Mapa.

Novos estudos

Além do estudo publicado na Agronomy MDPI, o LMDA está conduzindo novas pesquisas com drones pulverizadores. Segundo o professor Vitória (na foto, à esquerda), são dez novos experimentos em andamento, entre dissertações de mestrado e iniciação científica. Os assuntos vão de controle da ferrugem nas lavouras de café conilon até a eficácia de biofertilizantes no cultivo de pimenta-do-reino.

Há quase dois anos no Laboratório, Luis Felipe Ribeiro (na foto, à direita) considera a experiência no núcleo fundamental não só para o desenvolvimento de sua carreira, mas para a produção de informações para todos os envolvidos no processo. “Nosso objetivo final é levar mais conhecimento e tecnologia aos produtores rurais de modo a aumentar a produtividade dos cultivos agrícolas”, afirma. “Isso mostra o enorme potencial do nosso campus e do nosso curso”.

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