– Por Vitor Guerra* –
Um robô desenvolvido na Colômbia em parceria com a Ufes e outras universidades internacionais contribui para a reabilitação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O Robô Castor, como ficou conhecido o projeto, já foi testado, com resultados positivos, na Colômbia e no Chile. Atualmente, vem sendo estudado pela área de robótica social do Laboratório de Telecomunicações da Ufes (LabTel).
O professor do Programa de Pós-Graduação de Engenharia Elétrica (PPGEE) e pesquisador no LabTel Camilo Díaz lidera a equipe que está trabalhando no robô na Ufes e explica os diferenciais do Castor. “Vários robôs são usados em terapias, mas aqui buscamos criar um dispositivo que seja flexível e resistente. Construímos o robô com impressora 3D, que o deixa mais barato e simplifica a manutenção”, afirma Díaz.
Veja imagens do robô em funcionamento:
O Castor é feito com a tecnologia Compliant Soft Robotics, que busca dar aos dispositivos um toque mais humano, reproduzindo suas características físicas, permitindo que o Castor simule uma maior elasticidade e mobilidade humana.
A mestranda do PPGEE Maria Fernanda Padilla indica que o robô pode influenciar habilidades sociais de crianças com TEA. “Ao estudar a adição do robô às terapias tradicionais, avaliou-se uma melhoria na terapia ocupacional e foi possível perceber a adaptabilidade do Castor às necessidades de crianças não verbais e com sensibilidade auditiva”, explica.
A pesquisadora destacou o impacto na motivação das crianças que participavam de terapias com o auxílio do Castor. “Tivemos um engajamento em terapias de longo prazo, com cenas surpreendentes, como as primeiras palavras de um dos participantes”, relata.
Funcionamento
O robô Castor tem um minicomputador integrado que permite controlar diversos comandos, como movimentação dos braços e pescoço. Além disso, os olhos são simulados por um display LCD, que permite reproduzir várias expressões faciais. “Para crianças com autismo, isso é muito importante, porque o robô simplifica expressões faciais, algo que elas têm dificuldade de entender”, afirma Díaz.
O professor considera que o funcionamento do robô entrega condições que podem ajudar bastante nas terapias. “Os comandos são enviados por uma interface com wi-fi. As funções estão divididas na movimentação dos braços, pescoço, expressões faciais, alto-falante e olhos”. O robô também possui motores nos braços, que ajudam na interação social, possibilitando que ele abrace as crianças.
No LabTel, o foco dos pesquisadores é instrumentar o Castor com novos sensores. Apesar de o robô já existir em outros países, o dispositivo utilizado no laboratório será o primeiro do mundo com sensores específicos para monitorar as interações com as crianças durante a terapia.“Com isso, vai ser possível perceber como as crianças estão interagindo com o robô, se estão tocando nele, dando abraços ou até mesmo apertando”, relata Díaz.
“Estamos trabalhando em validar no Castor sensores de pressão de fibra óptica de baixo custo. Isso vai nos permitir aprimorar o funcionamento e criar toda uma estrutura mais suave para ele”, afirma Gaitán. O custo é de aproximadamente R$ 7,5 mil, o que é considerado um valor acessível, uma vez que outros robôs utilizados em terapias TEA chegam a custar R$ 65 mil. Além disso, o robô Castor possui código Open Source, ou seja, pode ser replicado a baixo custo.
Parcerias
Como é um código aberto, o Castor é um projeto que envolve diferentes universidades. O desenvolvimento do Castor teve início na Escuela Colombiana de Ingeniería Julio Garavito, em um acordo com a Universidade del Rosário. “A ideia foi desenvolver algo dentro do campo da robótica social para crianças. Queríamos construir algo que fosse difícil de quebrar e fácil de consertar. Quando pensamos no Castor, tivemos esse sonho de deixar essa tecnologia de fácil acesso para as pessoas, por isso o open-source. O código aberto facilitou muito os testes em diferentes países, o que trouxe resultados muito positivos”, explica Marcela Múnera., professora da University of the West of England Bristol (UWE), do Reino Unido.
Sob a supervisão de Múnera e Carlos Cifuentes, professor da mesma universidade, o projeto teve seus primeiros resultados apresentados em artigo científico na revista Actuators. Além da UWE, a Ufes e a Corporação de Reabilitação Club de Leones Cruz del Sur (Chile) estudam aprimoramentos para o robô.
No Brasil, o Castor tem financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Internacionalmente, a pesquisa também foi financiada pela Royal Academy of Engineering (Inglaterra) e pelo Departamento Administrativo de Ciencia, Tecnología e Innovación (Colômbia).
* Jornalista do LabTel/Ufes. Colaborou Isabela Xavier
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