Por Ghenis Carlos Silva*
Um estudo realizado na Ufes desenvolveu um hidrogel capaz de acelerar o processo de enxerto ósseo. O osso é um tecido que se regenera lentamente comparado a outros tecidos do corpo humano, variando conforme a gravidade do caso. Colocar o enxerto e aguardar a sua recelularização, como ocorre convencionalmente, é um processo demorado. Mas com a aplicação do hidrogel enriquecido na estrutura do enxerto, espera-se acelerar a cicatrização óssea.
O hidrogel produzido é derivado de osso bovino fetal. Essa estrutura, que geralmente é descartada, foi submetida a um processo de descelularização, que retira todos os componentes da matéria orgânica do boi e que preserva a estrutura óssea. Essa, por sua vez, foi cortada em tamanhos e formatos distintos: bloco, cilindro e em pó.
“Com isso, temos a estrutura do enxerto. Então, temos esses diferentes modelos de biomaterial para encaixarem-se de acordo com a lesão do paciente. E isso já existe no mercado. O que fizemos foi digerir a estrutura óssea, obtendo o material necessário para o hidrogel. A partir disso, o enriquecemos com PRP [plasma rico em plaquetas] e, por fim, banhamos a estrutura óssea com o hidrogel”, explica a pesquisadora Fernanda Colombeki, que realizou o estudo durante seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Ufes (PPGB).
Diferencial
O diferencial da pesquisa consiste na utilização de PRP, extraído pelo processo de centrifugação do sangue, que o separa dos demais elementos. Esse recurso contém fatores de crescimento que, ao serem aplicados no hidrogel, potencializam seus efeitos de cicatrização óssea.
Foto do osso bovino entre lavagens no processo de descelularização
O plasma é uma parte do sangue composta por água e proteínas. Sua função é facilitar a circulação das células sanguíneas. As plaquetas, por sua vez, são agentes responsáveis pela reparação de vasos sanguíneos e cicatrização de feridas a partir da formação de coágulos. Esses fatores, alinhados às substâncias de teor cicatrizante do próprio hidrogel, podem tornar a cicatrização mais efetiva.
Testes e possibilidades
Por ser proveniente de pesquisas recentes, a tendência é que esse biomaterial seja usado em pequenos casos, como em cirurgias odontológicas e que envolvem pequenas lesões. Para além do mercado, também pretende-se implementar a pesquisa no Sistema Único de Saúde (SUS), promovendo maior acessibilidade para o tratamento de lesões no tecido ósseo.
Colombeki explica que o hidrogel ainda está em fase de estudos e que ainda não foi submetido aos testes finais.“Os resultados iniciais apontaram que o PRP é muito promissor em potencializar a regeneração óssea. Foi realizado um teste específico de proliferação celular, comparando o hidrogel puro e o hidrogel com o PRP. Essas substâncias foram aplicadas em células tronco e em sequência, foi possível perceber que as células tronco estimuladas com o Hidrogel PRP tinham maior proliferação celular”, detalha Colombeki.
O estudo é vinculado ao PPGB da Ufes e conta com o apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes) e do Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde (ICEPi).
Para além dessa pesquisa, a produção de biomaterial ósseo, que pode ser usado em procedimentos ortopédicos e odontológicos, já garantiu a Ufes a conquista de sua 14° patente. Veja aqui.
* Bolsista em projeto de Comunicação
Fotos: Acervo da pesquisa
Edição: Thereza Marinho e Sueli de Freitas
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