Ana Clara Andrade*
O Laboratório de Nanomateriais Funcionais da Ufes, em colaboração com o Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da Universidade de São Paulo (USP) e a Universidad del Norte (Colômbia), desenvolveu um biossensor que detecta no grão de café a presença da ocratoxina A (OTA), uma substância cancerígena produzida por fungos. A tecnologia faz a detecção em apenas 30 minutos e seus insumos de produção são, em sua totalidade, nacionais, tornando-a mais barata do que o método laboratorial já utilizado.
Essa inovação permite a detecção e quantificação desta toxina diretamente no campo. Antes, com as análises feitas em laboratório, os resultados demoravam até quatro dias para ficarem prontos. “A simplicidade, a rapidez e o baixo custo são úteis no monitoramento de toda a cadeia produtiva do café, agregando valor a esta commodity, com atendimento à legislação nacional e internacional e, além de tudo, garantindo a qualidade e a segurança alimentar dos consumidores”, ressalta o professor Jairo Oliveira, do Departamento de Morfologia da Ufes, que participou da pesquisa.
A próxima etapa do projeto é produzir um dispositivo eletrônico que possa ser manuseado no campo, tendo a capacidade de fazer centenas ou milhares de leituras através dos resultados obtidos pelo biossensor. “É um dispositivo eletroquímico simples, muito parecido com um glicosímetro vendido nas farmácias para quantificação da glicose. Alguns microlitros da amostra (extrato do café) são colocados na superfície de um eletrodo em forma de chip, e, em seguida, este chip é colocado no dispositivo que faz a leitura e disponibiliza o resultado”, explica Oliveira.
Ocratoxina A
A OTA é um metabólito secundário produzido por várias espécies de fungos como Aspergillus e Penicillium. Ela é encontrada, geralmente, em cereais, café, vinho, frutas secas, cerveja e suco de uva. Seus efeitos são nefrotóxicos, imunotóxicos e teratogênicos, ou seja, causam danos aos rins, ao sistema nervoso central e podem apresentar riscos ao feto durante a gestação.
A Agência Internacional de Pesquisa do Câncer classificou o metabólico como possível carcinógeno. Atualmente, o limite máximo tolerável (LMT) para a presença do em café torrado, moído ou solúvel é de 10 microgramas (µg) por quilo no Brasil, enquanto que na União Europeia (UE) o LMT é de 3 µg/kg.
Como alguns dos principais compradores de café brasileiro fazem parte da UE, que sancionou legislações ligadas à quantidade de OTA presentes no produto, Oliveira acredita que o baixo custo e tempo são fatores favoráveis para a exportação que reassegura e agrega valor ao produto.
Patente
Os valores para análises laboratoriais dos níveis de OTA nos grãos de café variam entre R$400 a R$600. “A equipe responsável pelo desenvolvimento do biossensor estima que uma análise utilizando a tecnologia ficaria entre 15% a 20% dos preços praticados atualmente, tendo, ainda, o diferencial do tempo de análise, que é, em média, 20 minutos”, conta Oliveira.
O pedido de patente já está em andamento com a equipe da Agência USP de Inovação (Auspin) por meio de um acordo de colaboração entre a Ufes e a USP. A pesquisa completa pode ser acessada neste link.
O projeto foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
* Bolsista de projeto de Comunicação
Foto: Acervo do projeto
Edição: Sueli de Freitas
Faça um comentário