Futebol feminino é tema de pesquisas

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Éric Nobre*

A vivência de atletas no futebol feminino é tema central do Grupo de Pesquisa em Gênero e Esporte (Grupa), vinculado ao Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Ufes. Sob a coordenação da professora Mariana Zuanetti, pesquisadores buscam entender como se dá o incentivo ao esporte e à profissionalização das jogadoras de alto rendimento. “O futebol feminino não deve ser uma cópia do masculino. A ideia é propor novos modelos e por isso estamos estudando esse momento do esporte”, afirma Zuanetti.

A pesquisadora Kerzia Railane Santos Silva tem uma longa história com o futebol. Ela deu sua contribuição para o esporte desde muito cedo em times semiprofissionais até se tornar uma mestra no assunto pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Física (PPGEF). Com foco no contexto de desenvolvimento da categoria de base do futebol feminino, a dissertação intitulada “A base vem forte: a formação das jovens garotas futebolistas no Brasil em tempos de mídias sociais” traz entrevistas com atletas de diferentes idades e estados e seus respectivos responsáveis para entender a rotina de treinos, estudos e lazer. A pesquisadora analisou como as redes sociais, sobretudo o Instagram, influenciam na carreira delas.

“Dos resultados alcançados por meio da imersão neste estudo, destaco o fato de que elas estão a construir um projeto de vida vinculado ao futebol, perseguindo-o desde a tenra idade. Nesse contexto, o engajamento da família deu origem ao ato de compartilhar essa trajetória, via redes sociais, como o Instagram. Essa conduta vem fomentando o reconhecimento social e a quebra de estereótipos, assim como vem chamando a atenção de pessoas e grupos específicos sobre as aspirantes a atletas de futebol”, diz a pesquisadora.

Dados

Segundo as pesquisas feitas pelo Grupa, o Norte do país é a região que mais tem jogadoras, sobretudo os estados do Amazonas e do Pará. Mesmo que praticar esportes seja algo majoritariamente destinado às mulheres com rendas mais altas, o futebol caminha inversamente, tendo como maioria mulheres de baixa renda, principalmente as não brancas. Os dados mostraram que 72% das mulheres que jogam futebol são pretas, pardas, amarelas e indígenas.

Na pesquisa de Silva, ficou evidente a quantidade significativa de meninas que vêm do futsal, esporte que tem mais possibilidades de prática cotidiana. Além disso, as redes sociais são um atravessamento na carreira desde o início, fazendo com que, inclusive, elas tenham assessoria de imagem desde muito cedo. Setenta por cento das meninas vislumbram uma carreira internacional e enxergam a aquisição do idioma inglês como algo essencial. 

Lazer

Coordenadora do projeto, Zuaneti comenta a importância de apresentar o futebol para as meninas desde cedo. Ela cita uma propaganda em que a jogadora Andressa Alves conta que nunca quis ganhar uma boneca e que o futebol dela começou tirando a cabeça das bonecas para fazer de bola. “Democratizar o futebol não é apenas  profissionalizar as atletas, mas também garantir que as meninas, ao nascer, tenham o direito de ganhar uma bola de futebol para o lazer”, comentou a professora.

História 

O futebol feminino foi proibido no Brasil por um decreto do então presidente Getúlio Vargas, em 1941. A proibição só foi derrubada em 1979 e a regulamentação aconteceu quatro anos depois, em 1983. Mesmo com as lutas pela democratização do esporte, ainda se via uma negligência na prática feminina e a história expõe um descaso coletivo em relação à modalidade que perdura até os dias atuais. 

Apenas em 2013 aconteceu o primeiro campeonato de futebol feminino no Brasil. Alguns movimentos das federações, em especial da Fifa em 2016, começaram a visar à igualdade de gênero como algo importante. Apesar disso, as pesquisadoras consideram que apenas em 2019, quando a Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) criou a regra que obriga os grandes times a terem equipes femininas em todas as categorias (base e profissional) que o futebol feminino viveu um marco, mudando significativamente a estrutura do esporte, mesmo ainda tendo muito a evoluir.

*Bolsista em projeto de comunicação

Edição: Sueli de Freitas

Imagem:  Joshua Choate/Pixabay

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