Pesquisa da Ufes relaciona uso de pesticidas a aumento de doenças em agricultores capixabas

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Sueli de Freitas

Uma pesquisa realizada pela Ufes observou que agricultores do Espírito Santo expostos a pesticidas manifestaram alterações na pressão arterial, doenças cardiovasculares e renais, abortos espontâneos e transtornos neurológicos. O resultado está no artigo Laying the groundwork: exploring pesticide exposure and genetic factors in south-eastern Brazilian farmers, publicado na revista Current Research in Toxicology, da Elsevier.

Orientada pelos professores Débora Meira e Iúri Louro, ambos do Núcleo de Genética Humana e Molecular, do Departamento de Ciências Biológicas e do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Ufes, a pesquisa teve a participação de estudantes da Ufes e da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (Emescam) e de pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), além da colaboração de Stephanie Seneff, cientista sênior do Laboratório de Ciência da Computação e Inteligência Artificial do Massachusetts Institute of Technology (MIT), dos Estados Unidos.

Resultados

O estudo contou com um total de 304 participantes com mais de 18 anos de 22 municípios das microrregiões de Alegre, Cachoeiro de Itapemirim e Itapemirim, no sul do Espírito Santo. Na região, os agricultores utilizam diversos agrotóxicos, sendo o glifosato um dos mais comuns. Dos trabalhadores entrevistados, 72,01% eram homens e 27,99% mulheres.

“Verificamos que trabalhadores agrícolas expostos a pesticidas apresentaram aumento significativo em problemas de saúde quando comparados com o grupo de controle formado por pessoas que trabalham em fazendas orgânicas. Nossa investigação se concentrou no gene CYP2C9, com a hipótese inicial de que haveria uma associação direta com o desenvolvimento de câncer em agricultores. Contudo, os resultados revelaram outras importantes correlações”, afirma a professora Débora Meira.

Imagem de estudo sobre agrotóxicos

Ela explica que o gene CYP2C9 codifica a enzima hepática CYP2C9, que metaboliza vários substratos endógenos e xenobióticos específicos, especialmente pesticidas. “Metabolizadores normais mostraram maior suscetibilidade a condições como hipertensão, doenças cardiovasculares e problemas renais, e metabolizadores intermediários apresentaram associação significativa com transtorno de déficit de atenção e abortos espontâneos, indicando que os sintomas relatados pelos agricultores estão relacionados ao genótipo de CYP2C9”, diz.

Doenças neurológicas

Segundo a professora, na literatura, o uso de glifosato foi correlacionado com doenças como obesidade, diabetes, doenças renais em estágio terminal, Alzheimer e Parkinson. Essas associações sugerem um possível papel do pesticida na emergência de doenças neurológicas, com destaque para problemas neurodesenvolvimentais, como o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e autismo.

“O estudo sugere que o glifosato interfere na função cerebral e nos sistemas neurotransmissores, o que pode contribuir para essas condições. Isso é muito preocupante, visto que o número de matrículas de alunos com transtorno do espectro autista (TEA) nas escolas brasileiras cresceu consideravelmente de 2022 (429 mil matrículas) para 2023 (636 mil), indicando um aumento de 48% em um ano”, afirma.

No artigo, os pesquisadores alertam que “indiferente aos grandes movimentos de conscientização sobre a toxicidade dos agrotóxicos, o Brasil continua sendo o maior consumidor de produtos agrotóxicos do mundo, atingindo níveis alarmantes em termos de danos ambientais decorrentes da contaminação do solo e da água”. 

Imagens: Freepik e revista Current Research in Toxicology 

Edição: Leandro Reis

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