Câncer em adultos jovens no Brasil cresceu 219% em vinte anos, aponta pesquisa 

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Sueli de Freitas

Uma pesquisa do Grupo de Estudos e Pesquisas em Oncologia (Geponc) da Ufes com base nos dados dos Registros Hospitalares de Câncer (RHC) revela que a incidência de neoplasias malignas em adultos jovens (entre 19 e 44 anos) aumentou 219% entre os anos 2000 e 2019 no Brasil, com maior incidência de cânceres de mama e de colo do útero. 

Intitulado Tendências de câncer de início precoce (IO) no Brasil: uma análise abrangente de dados de registros hospitalares de câncer (2000–2019), o estudo foi apresentado na sessão de pôsteres científicos do Congresso Anual da American Society of Clinical Oncology (Asco), realizado em Chicago (EUA) entre os dias 30 de maio e 3 de junho. 

“O Asco reuniu mais de 45 mil especialistas em oncologia de mais de 100 países, consolidando-se como o principal evento internacional de apresentação de avanços científicos, clínicos e tecnológicos na luta contra o câncer”, disse o professor Luís Carlos Lopes-Júnior, do Departamento de Enfermagem da Ufes e coordenador do Geponc, que fez a apresentação no Asco. 

Registros 

Conduzido por Lopes-Júnior com a colaboração do pesquisador e oncologista do Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam) da Ufes, Vitor Fiorin, e dos doutorandos do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC) da Ufes Wesley Grippa, Raphael Pessanha, Oscar Enriquez-Martinez, Jonathan Grassi e Luiz Cláudio Neto, o estudo teve o resumo publicado na Journal of Clinical Oncology.

A pesquisa é fruto de uma análise abrangente dos dados nacionais de RHC, integrando informações clínicas e sociodemográficas de 701.115 indivíduos atendidos em unidades hospitalares da rede oncológica em todo o país. Os casos anuais da neoplasia maligna aumentaram significativamente, de 93.714 (de 2000 a 2004) para 222.301 (de 2015 a 2019), evidenciando uma tendência crescente e consistente, segundo os pesquisadores envolvidos. 

“Os dados evidenciam um padrão preocupante e ainda pouco explorado de aumento de câncer em faixas etárias tradicionalmente consideradas de baixo risco”, afirmou Lopes-Júnior. Ele relata que “a média de idade dos pacientes foi de 35 anos, com predomínio do sexo feminino (71,9%), e maior concentração nas regiões Sudeste e Nordeste”.

A maioria dos casos foi diagnosticada em estágio localizado (51,7%), ou seja, de tumor restrito ao órgão de origem, seguido por estágio regional (28,3%), quando o tumor se espalha para linfonodos ou tecidos adjacentes, e metastático (19,8%), tumor com disseminação para órgãos mais distantes da origem. 

O professor destaca que “as descobertas reforçam a urgência de fortalecer os sistemas nacionais de vigilância oncológica, de modo a subsidiar políticas públicas específicas para o rastreamento e diagnóstico precoce de cânceres em adultos jovens”. Segundo ele, a análise também ressalta a importância de se considerar fatores como escolaridade, hábitos de vida e histórico familiar na construção de estratégias mais eficazes de prevenção e cuidado.

Imagem: Freepik

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