Ufes e parceiras vão fazer a medição da qualidade do ar em Belém durante a COP30

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Ana Julia Cabral*

Nem toda poluição do ar é visível, mas o material particulado fino, chamado de PM2.5, é o mais letal à vida humana. Pensando nisso, o Laboratório de Telecomunicações da Ufes (LabTel) e o Centro de Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento do Espírito Santo (Cpid), em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA) e a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), desenvolveram um dispositivo que mede a quantidade de PM2.5 na atmosfera e transmite os dados de um satélite em tempo real. A inovação estará em Belém durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP30, em novembro.

O protótipo, que está em fase final de desenvolvimento e ajustes para sua estreia na COP30, é integrado a um automóvel, movido a energia solar, e a um sistema de inteligência artificial, que reúne os dados do satélite e dos sensores. O equipamento transmite dados, por minuto, à base do sistema.

A instalação do equipamento no veículo foi feita em parceria com a rede de Inteligência Artificial Recriando Ambientes (Iara). Já o sensor foi desenvolvido na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e otimizado por pesquisadores capixabas para medir as partículas de PM2.5. Um total de 15 sensores será levado pela Ufes à capital do Pará. O sistema que gerencia o sensor foi desenvolvido por pesquisadores do LabTel. 

Mapa

Os dados do monitoramento terrestre de partículas e os obtidos por satélite resultam num mapa que permite vasta utilização das informações por diversos setores produtivos e a vigilância ambiental. Daniele Pawelski, pós-doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica (PPGEE) da Ufes e líder da equipe do LabTel na pesquisa, explica que “a ideia é disponibilizar essa sobreposição de dados do equipamento, de satélite e também meteorológicos fazendo um mapeamento dinâmico da qualidade do ar, não somente de um momento, mas com um histórico dessas informações”.

O professor da Unifesspa e membro da equipe de pesquisa da inteligência artificial do projeto no Pará, Hugo Kuribayashi, afirma que a estreia em Belém tem “a intenção de construir um mapa de cobertura da qualidade do ar na cidade extrapolando, em alguma medida, as coletas feitas pelo carro”, ou seja, “nos bairros por onde o carro não passar, a gente conseguirá ter uma estimativa da qualidade do ar porque vamos complementar com as informações do satélite”.

Ele destacou que a medição terrestre, feita a partir do veículo com os sensores, é muito importante, mas será necessário criar um banco de dados que cubra toda a cidade e que forneça outras informações relevantes, como temperatura e umidade. O sistema feito com IA vai automatizar o recebimento desses dados num só lugar. 

Em breve, testes serão realizados na cidade de Canaã de Carajás, no Pará. Os pesquisadores querem detalhar a forma de combinar os dados terrestres obtidos pelo veículo do projeto com dados de sensoriamento remoto, como temperatura, umidade e nível de partículas.

Agenda 2030

O projeto está relacionado à Agenda 2030 da ONU – plano global com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável. A criação desse protótipo dialoga diretamente com iniciativas apoiadas pela Conferência, como ação climática, saúde e bem-estar. 

“Certamente teremos uma visibilidade [na COP30] infinitamente maior que jamais teríamos em outras condições. Vamos usar o carro no próprio ambiente da Conferência”, pontuou Renato Francês, que integra o grupo de pesquisadores da UFPA.

Poluição invisível

A PM2.5 é a menor partícula poluente derivada de metais ou compostos orgânicos e penetra profundamente nos pulmões e corrente sanguínea. O impacto dessa partícula é alarmante, podendo intensificar doenças respiratórias e cardiovasculares, tornando-se um problema de saúde pública.

A industrialização e o uso de máquinas de produção em diversas cidades brasileiras agravam o cenário. Segundo o Relatório Estado do Ar Global 2024, mais de 90% do total global das mortes por poluição do ar são provocadas pela PM2.5. 

Um mapa de rastreamento de poluição como esse é uma ferramenta valiosa para identificar áreas com alta concentração de poluentes, permitindo que autoridades e cidadãos tomem medidas para mitigar os impactos na saúde e no meio ambiente, aponta o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o INPE.

*Bolsista em projeto de comunicação

Editora: Sueli de Freitas

Revisão: Monick Barbosa

Imagens: LabTel

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