Sueli de Freitas*
Como insetos aquáticos pré-históricos foram preservados em excelente estado na Formação Crato, localizada na Bacia do Araripe, no Ceará, local considerado um dos mais importantes depósitos fossilíferos do período Cretáceo de todo o mundo? Como efêmeras e libélulas se preservaram de diferentes formas nessas rochas? Para responder a essas perguntas, pesquisadores da Ufes e parceiros coletaram em Santa Teresa, município da região serrana capixaba, insetos aquáticos que foram submetidos a experimentos visando replicar os processos de morte e decomposição de fósseis de mais de 110 milhões de anos.
A pesquisa foi liderada por cientistas do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (PPGBan) da Ufes, sob orientação da professora Taissa Rodrigues, em colaboração com o Museu Estadual de História Natural de Stuttgart, na Alemanha, além de pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e da Universidade Regional do Cariri (Urca).

Amostras
Ao analisar 253 efêmeras e 236 libélulas modernas coletadas em Santa Teresa e 306 fósseis vindos do Crato, a equipe descobriu fortes evidências de que muitos dos insetos se fossilizaram perto de onde morreram, em águas com baixa salinidade e muito calmas, com poucos distúrbios.
Os experimentos feitos no Laboratório de Paleontologia da Ufes revelaram que algumas partes do corpo desses animais, como o tórax de ninfas de efêmeras e o aparelho bucal de ninfas de libélulas, soltavam-se rapidamente após a morte. Como essas mesmas partes estão intactas em muitos fósseis, há indícios de que os insetos foram soterrados rapidamente após a sua morte e com pouco transporte dentro da água onde viviam.
Segundo Arianny Storari, egressa do curso de doutorado em Biologia Animal da Ufes e atualmente pesquisadora de pós-doutorado na Alemanha, “uma das descobertas mais empolgantes foi entender que biofilmes de microrganismos ajudaram os corpos dos insetos a afundar até o fundo do lago”. Ela conta que, durante os experimentos, “observamos que, em água hipersalina, os insetos boiavam, e que por isso a presença de filmes microbianos provavelmente ajudou esses animais a afundar e, assim, a se fossilizar durante as épocas em que havia aumento da salinidade da água no antigo lago Crato”.
O estudo, de natureza multidisciplinar, não apenas apresenta novas informações sobre processos de fossilização de insetos aquáticos, mas também traz dados sobre as condições ambientais de um antigo ecossistema aquático de grande biodiversidade durante o Cretáceo da América do Sul, abrindo portas para mais pesquisas no futuro.
“Uma possível continuidade deste estudo será determinar quais tipos de microrganismos poderiam ter agido na fossilização dos insetos. Ao mesmo tempo que fungos e bactérias ajudam a decompor o corpo dos animais após a morte, eles também foram fundamentais para que a própria fossilização pudesse ocorrer”, ponderou a professora Rodrigues. “Existem muitas possibilidades de pesquisas que dialogam com várias áreas do conhecimento para entendermos melhor a biodiversidade do Brasil no passado”, afirmou ela.
A pesquisa foi publicada em setembro no periódico científico Plos One, tendo como autores Arianny Storari (Ufes e Museu Estadual de História Natural de Stuttgart), Frederico Salles (UFV), João Luiz Guedes da Fonseca (Ufes), Antonio Álamo Feitosa Saraiva (Urca) e Taissa Rodrigues (Ufes).
*Com informações das pesquisadoras
Imagens: Arianny Storari
Revisão: Monick Barbosa
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