Pesquisa aponta impactos dos processos migratórios na dinâmica de famílias da Grande Vitória

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Thiago Sobrinho

Mais do que impactar o desenvolvimento de políticas públicas, os processos de migração em regiões metropolitanas do Brasil influenciam os projetos e concepções de futuro das populações que vivem nesses espaços. É o que aponta o estudo realizado por pesquisadores da Ufes intitulado Dinâmica demográfica familiar e padrão migratório no Brasil: transformações desde os anos 1990.

Inédita até então, a pesquisa foi conduzida ao longo de três anos pelo Laboratório de Análises Geográficas, Demográficas e da População (Lagedep) do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Ufes, com a colaboração de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC/Campinas). Os pesquisadores do Lagedep (uma equipe interdisciplinar formada por geógrafos, economistas, sociólogos e demógrafos) utilizaram como recorte espacial a Região Metropolitana da Grande Vitória, mais especificamente bairros nos municípios de Cariacica, Serra, Viana, Vila Velha e Vitória.

O professor Ednelson Dota, coordenador da pesquisa, explica que as grandes alterações na demografia elevam a demanda por serviços, o que leva a um aumento de investimento em serviços e recursos para dar conta da demanda crescente.

Contudo, quando há redução no número de filhos ou no tamanho médio das famílias brasileiras, como o estudo mostra, isso também traz impactos. “Essa redução muda a forma com que as famílias vivem o espaço urbano, a maneira que elas enxergam o domicílio e o próprio lugar de moradia nas cidades”, afirma o professor.

Então, ao passo que a população vai mudando, o espaço urbano se transforma. “Ao longo do tempo, há um impacto na própria cidade, na forma que ela se desenvolve e nas áreas de crescimento”, ressalta Dota.

Já na vida da população, as influências dessas mudanças foram identificadas na maneira como elas vivem e como irão fazer planos para o futuro, como casar mais tarde e ter menos filhos, por exemplo.

Recorte

A escolha dos bairros na Região Metropolitana da Grande Vitória, de acordo com o relatório da pesquisa, baseou-se em dados do Censo de 2010, selecionando áreas com intensa migração intrametropolitana, além da integração e complementaridade nas dinâmicas urbanas e regionais, e contexto socioeconômico de vulnerabilidade à pobreza.

Comparando os dados do Censo de 2010 com as informações coletadas, os pesquisadores chegaram à conclusão de que mais da metade dos deslocamentos residenciais se deram dentro do próprio município.

Isso acontece, segundo Dota, por diversos fatores: desde o desejo de viver numa casa melhor ou acessar um aluguel mais barato até formar uma nova família ou mesmo a dissolução de uma família preexistente.

Tendência nacional

Ainda de acordo com Ednelson Dota, embora o estudo de caso tenha se debruçado sobre dados e características urbano-regionais da Região Metropolitana da Grande Vitória, os resultados do projeto podem prever as tendências das estruturas familiares nas próximas décadas no Brasil e em outros países da América Latina.

“Então é possível, sim, a partir de dados de outras fontes, chegar a resultados semelhantes aos que a gente encontrou aqui na Região Metropolitana da Grande Vitória para o contexto urbano regional metropolitano brasileiro e latino-americano”, garante Dota.

No contexto capixaba, o estudo pode ser um aliado para se pensar políticas públicas em regiões metropolitanas e se tornar um aliado tanto para as prefeituras municipais quanto para o Governo do Estado.

“Inclusive, estamos aplicando análises derivadas da pesquisa em um projeto de redução de riscos aos desastres para o município de Serra”, aponta o professor, sobre a aplicação dos resultados do projeto.

A investigação foi realizada com financiamento da Secretaria Nacional da Família (SNF) em conjunto com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Edição: Thereza Marinho

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