OS MOVIMENTOS DO MERCADO DE TRABALHO FORMAL EM 2020 NO ESPÍRITO SANTO A PARTIR DOS DADOS DO NOVO CAGED

Estudantes subgrupo de Empregos e Salários¹

Os dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (NOVO CAGED)² para o ano de 2020 evidenciam os efeitos da crise do coronavírus sobre o mercado de trabalho formal brasileiro. Tal processo pode ser observado no saldo líquido entre admitidos e desligados, presente no gráfico 1, que apresenta uma dinâmica de destruição de postos de trabalho entre os meses de março e junho. Destaca-se o mês de abril em que são destruídos 939,6 mil empregos no Brasil e mais de 19 mil postos de trabalho no Espírito Santo. 

Gráfico 1: Saldo líquido mensal janeiro a setembro de 2020, BR, ES.
Fonte: Novo CAGED – SEPRT/ME. Elaboração própria.

Os movimentos do mercado de trabalho capixaba não diferem do cenário nacional no período de crise econômica e sanitária. De janeiro a setembro³, o Espírito Santo acumulou uma destruição de 11,4 mil postos de trabalho formais. Este é o primeiro resultado negativo, para o período, desde 2016 (gráfico 2). 

Gráfico 2: Evolução Saldo janeiro a setembro. Acumulado entre 2015 e 2020, ES. Fonte: Os dados de
2020 são do Novo Caged- SEPRT/ME, para os demais anos os dados são do CAGED. Elaboração própria.

De acordo com o gráfico 3, nota-se que a partir de março o número de demitidos se elevou enquanto as admissões recuaram fortemente. O pior mês registrado para as demissões foi em março (-32,4 mil). As admissões tiveram o seu pior resultado em abril (11 mil). Contudo, é possível observar sinais de recuperação a partir de junho, pois a partir deste mês até setembro, os admitidos seguem uma trajetória de crescimento enquanto os desligados se estabilizaram.

Gráfico 3: Admitidos e Desligados de janeiro a setembro de 2020, ES.
Fonte: Novo CAGED – SEPRT/ME. Elaboração própria.

A queda brusca do número de ocupações formais ocorrida em abril, com um saldo líquido negativo de 19,1 mil é atípica para o Espírito Santo, pois não se viu uma queda tão acentuada para esse mês nos últimos cinco anos, conforme o gráfico 4. Tal quadro confirma o impacto da pandemia no mercado de trabalho capixaba.

Gráfico 4: Evolução do saldo líquido  para o mês de abril 2015-2020, ES
Fonte: Os dados de 2020 são do Novo Caged- SEPRT/ME, para os demais anos os dados
são do
CAGED. Elaboração própria.

As consequências da pandemia do novo coronavírus para o mercado de trabalho formal capixaba também podem ser analisadas sob a ótica setorial. Assim, é possível observar no gráfico 5 que os efeitos do distanciamento social afetaram, principalmente, o nível de emprego formal nos setores de Serviços e Comércio, respectivamente. O saldo líquido acumulado para o setor de Serviços foi de -9,4 mil postos de trabalho formal, seguido pelo Comércio (-7,4 mil) e Indústria (1,6 mil). 

Gráfico 5: Saldo líquido por setor de janeiro a setembro de 2020, ES
Fonte: Novo CAGED- SEPRT/ME. Elaboração própria

É preciso observar com atenção o setor de Serviços espírito-santense, pois este é o que mais emprega. Observando o comportamento dos serviços, no gráfico 5, nota-se que o mês de abril foi o mais crítico. Esse resultado é a manifestação do aumento expressivo dos desligamentos (-13,1 mil), influenciado, principalmente, pelos subsetores de alojamento e alimentação (-2,8 mil), transporte, armazenagem e correio (-3,3 mil) e informação, comunicação e atividades financeiras (-4,1 mil). Dos três subsetores, o de alojamento e alimentação foi o que apresentou a maior perda no saldo líquido de empregos para mês de abril (-2,5 mil), expondo os efeitos da pandemia. 

A partir de maio, tendo em vista o relaxamento das medidas de isolamento social, os dados apontam para uma lenta recuperação do saldo líquido apresentada também a nível setorial, com destaque para a retomada do setor de serviços.  No entanto, tal recuperação não foi suficiente para recompor o estoque de postos de trabalho formal do início do ano. Com a crise atual, se percebe uma queda ainda mais profunda no patamar do emprego formal, interrompendo o movimento de suave recuperação a partir de 2017, após perder mais de 55 mil postos entre 2015 (924,7 mil) e 2016 (868,8 mil)4. Por isso, apesar da recuperação iniciada entre os meses de julho e setembro, os dados do NOVO CAGED apontam que o estoque de empregos formais em setembro (719,8 mil) permaneceu inferior ao registrado em dezembro de 2019 (912,6).

NOTAS


[1] Contribuíram diretamente para a redação desta análise Gisele Paiva Furieri, Luiz Carlos Santos, Otavio Luis Barbosa e Ruth Stein Silva.
[2] A partir de janeiro de 2020, o uso do Sistema do Caged foi substituído pelo Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial). Para viabilizar a divulgação das estatísticas do emprego formal durante esse período de transição, foi feita a imputação de dados de outras fontes. O Novo Caged é composto por informações captadas dos sistemas eSocial, Caged e Empregador Web. Para mais informações sobre o Novo Caged ver Nota Técnica em http://pdet.mte.gov.br/.
[3] A série histórica do Novo Caged é atualizada mensalmente, o que significa que a cada mês os dados de todos os meses anteriores também se modificam. Os dados desse relatório estão de acordo com a atualização de outubro de 2020.
[4] Dados da RAIS, Relação Anual de Informações Sociais. A RAIS é um Registro Administrativo, de periodicidade anual, criada com a finalidade de suprir as necessidades de controle, de estatísticas e de informações às entidades governamentais da área social. Para mais informações sobre a RAIS ver em http://pdet.mte.gov.br/.
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