Por Prof Dr. Vinicius Vieira Pereira (Coordenador do subgrupo Nível de atividade – Grupo de Conjuntura/Economia/UFES).
A divulgação dos indicadores das Contas Nacionais Trimestrais pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, que aponta para uma taxa de crescimento do Produto Interno Bruto a preços de mercado de 0,2% no período de abril a junho, em comparação com o trimestre imediatamente anterior, frustrou as expectativas de quem contava com crescimento da economia acima de 1,5% em 2018. Em se tratando do maior agregado econômico do país, uma taxa da ordem de 0,2% significa ausência de, e não, crescimento. No acumulado dos primeiros seis meses do ano de 2018, quando comparada com igual período de 2017, a atividade econômica do país cresceu 1,1% e, no acumulado dos últimos doze meses, ou seja, se julho encerrasse um ano calendário, o PIB do país teria crescido 1,4% em um ano. Nada animador, haja vista a retração da economia brasileira no acumulado de 2015 e 2016 da ordem de 7% e o baixíssimo sinal de recuperação, 1%, em 2017.
Os dados informados pelo instituto de pesquisa levaram vários analistas de diferentes entidades a reavaliarem suas projeções para 2018, apostando, agora, numa taxa de crescimento abaixo de 1,5% ao final deste ano, especialmente após a revisão para baixo dos resultados relativos ao primeiro trimestre do ano, de 0,4% para apenas 0,1%, quando comparado ao último trimestre de 2017. Preocupação que se agrava frente à queda do investimento no país, afinal, a Formação Bruta de Capital Fixo apresentou queda de 1,8% no período de abril a junho em comparação com o primeiro trimestre do ano. Ao que tudo indica, a queda nos juros básicos não significou ainda redução dos custos do financiamento do investimento privado. E, se o aumento do investimento é sinal de crescimento, a queda desse indicador ascende a luz vermelha sobre o futuro imediato da geração de emprego e renda no Brasil.
Enquanto a greve dos caminhoneiros, em maio, contribuiu fortemente para os resultados pífios apresentados, as incertezas no cenário eleitoral, ameaças de novas greves e paralisações, engessamento dos gastos públicos, especialmente no âmbito de novos investimentos por parte das estatais, mercado de trabalho em baixa, endividamento das famílias e desaceleração do consumo parecem compor o panorama que tende a retardar
o processo de retomada do crescimento econômico até o fim de ano. Além disso, os dados referentes ao segundo trimestre mostram que setores de peso, como a agropecuária e a indústria, apresentaram estagnação, um, e queda de 0,6%, outro, respectivamente, com destaque negativo para a construção civil e a indústria de transformação, subsetores grandemente responsáveis pela geração de empregos na economia.
Ainda numa análise da demanda, desaceleraram também, no segundo trimestre, as exportações e as importações de bens e serviços, – 5,5% e – 2,1%, respectivamente. No
que diz respeito às exportações, o resultado trimestral foi o pior desde 2014 e, pelo lado das importações, o pior desde 2016. Segundo o IBGE, a redução é explícita nos casos das exportações de produtos de metalurgia, têxteis, petróleo e gás, além de produtos químicos e alimentícios. Com uma economia fortemente dependente das exportações de commodities e das importações de insumos para a indústria e derivados de petróleo, a
queda em ambos os indicadores mostra redução do ritmo do comércio exterior e seus efeitos sobre a geração de renda e emprego dentro do país.
Dentre as atividades que apresentaram crescimento e contribuíram para a variação positiva do PIB, destacam-se aquelas ligadas ao setor de Serviços que, em seu conjunto, variou 0,3%, com destaque para as atividades de informação, comunicação, imobiliárias, financeiras e de seguros. No entanto, mesmo nesse setor da economia, apesar do crescimento acima citado, algumas atividades relevantes recuaram, como as de transporte, armazenagem, correio e aquelas ligadas à administração, à defesa, saúde, educação e seguridade. Em suma, se tomarmos o setor terciário como aquele que operacionaliza os fluxos e os processos de produção e distribuição na economia, perceberemos que a perda de dinamismo nos outros dois setores, primário e secundário, na ausência de claros sinais de recuperação, tenderá a provocar uma trajetória descendente nos indicadores das atividades de serviços, ajudando a agravar ainda mais o
quadro para 2018.
Parece que a política de reformas liberalizantes implementada pelo governo em exercício, em busca do tão almejado ajuste fiscal, começa a cobrar o seu preço. Apesar da imposição de teto para os gastos públicos, da reforma trabalhista, do encolhimento dos bancos públicos, entre outras, o setor privado da economia não se apresentou como o bastião do desenvolvimento capitalista do Brasil. Fatores como a instabilidade institucional do país, os altos custos do crédito, o alto índice de endividamento das famílias e das empresas, a fragilidade do mercado de trabalho, marcado pelo desemprego e pela informalidade, a queda nos níveis de consumo e a completa ausência de políticas de estímulo à indústria e à produção, de um modo geral, falam mais alto e jogam as expectativas do desenvolvimento para baixo.
Nesse cenário, o crescimento econômico torna-se pontual e sem dinamismo, a depender, exclusivamente, ora do crescimento mundial, para reduzir nossa capacidade ociosa, ora de políticas de estímulo ao consumo, visando provocar o ânimo dos empresários. O crescimento do PIB continua a depender de uma safra agrícola recorde, de um aumento das encomendas de nossas commodities, de um subsídio ou da liberação de uma parcela do FGTS, enquanto aguarda a possibilidade de contar, efetivamente, com o aumento da produtividade do trabalho e do capital, a partir de política sustentáveis no longo prazo.