Por Prof. Dra. Ana Carolina Giuberti (Economia/UFES)
A economia capixaba encerrou o ano de 2018 com resultado positivo para o Produto Interno Bruto (PIB). De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), o crescimento foi de 2,4%, fruto do bom desempenho do setor de comércio, que registrou crescimento de 7,7% no varejo restrito e 13,5% no varejo ampliado, e da agricultura, com crescimento de 40,7% no ano, com 10 das 11 principais culturas se recuperando após a crise hídrica dos anos anteriores. O mercado de trabalho também acompanhou este crescimento, encerrando o ano com a taxa de desocupação de 10,2%, queda em relação aos anos anteriores, e com saldo de 17.389 postos de trabalho formais criados, de acordo com os dados do IBGE e do CAGED, divulgados pelo IJSN.
Por outro lado, a indústria, setor dinâmico da economia, que impulsiona o crescimento e desenvolvimento econômico por sua capacidade de absorver grandes volumes de mão-de-obra, ainda que com baixa qualificação, e alcançar alta produtividade do trabalho, a partir de poucas condicionantes, apresentou queda de 0,9%, enquanto o setor de serviços apresentou recuo de 1,1%.
Em comparação aos resultados registrados pelo Brasil, cujo crescimento foi de 1,1% em 2018, os indicadores para o estado foram superiores. Para o resultado brasileiro foi preponderante o crescimento do setor de serviços (1,3%), diante da estagnação do setor de agropecuária (0,1%) e do baixo crescimento da indústria (0,6%).
Para um panorama mais completo, no entanto, os resultados da economia capixaba devem ser lidos em conjunto com a trajetória dos principais setores econômicos – indústria, comércio e serviços – nos últimos anos, trajetória esta mensurada pela variação dos seus indicadores acumulados em 12 meses.
Conforme pode ser observado no gráfico, os dados mostram que o setor de serviços não se recuperou da crise econômica: embora a queda acumulada no volume de serviços tenha se reduzido gradativamente, as variações acumuladas mantiveram-se negativas em todo o período.
A indústria, por outro lado, exibiu uma trajetória de recuperação e alcançou resultados positivos entre setembro e dezembro de 2017. Contribuíram para esta recuperação, o crescimento da fabricação de produtos alimentícios, o setor de metalurgia e a indústria extrativa, sendo esta última na medida em que as fortes quedas registradas em função da comparação entre o período atual e o período em que a Samarco estava em atividade (efeito de diferentes bases de comparação) foram sendo substituídas por valores acumulados positivos. Contudo, a recuperação apresentada ao final de 2017 não foi sustentada ao longo de 2018.
Outro ponto a ser ressaltado neste período é que a indústria extrativa, após responder sozinha por 25%, em média, de todo o valor adicionado bruto (VAB) da economia capixaba, entre 2011 e 2014, perdeu participação, em 2015, com a forte queda dos preços das commodities minerais produzidas no estado e, em 2016, com a paralisação das atividades da Samarco, fazendo com a que participação do setor recuasse para 5%. Com isso, a participação da indústria geral passou de 34%, em média, no período, para 17%, em 2016. Apesar destes fatos, entende-se que a indústria mantém seu papel dinâmico na economia local, embora a magnitude dos seus efeitos deva ser acompanhada nos próximos anos.
O comércio varejista ampliado, por sua vez, exibiu trajetória de recuperação, e sustenta a 16 meses taxas acumuladas positivas. No entanto, a trajetória que estava em aceleração exibe agora um patamar constante de crescimento nos últimos cinco meses.
Em conjunto, os resultados de 2018 e as trajetórias dos principais setores da economia indicam que após lidar com fatores que agravaram a crise econômica a nível local, como a crise hídrica e a paralisação das atividades da Samarco, a economia capixaba recuperou-se em ritmo superior à economia nacional. Porém, o avanço deste processo de recuperação está condicionado ao cenário político-econômico nacional. Portanto, neste primeiro trimestre do ano, o cenário é de cautela para 2019, como sinalizam os anunciados R$ 10 bilhões de investimentos à espera do que virá no cenário nacional.