Após sair de uma grave crise interna, que golpeou o crescimento entre 2015 e 2016, a economia brasileira não conseguiu engrenar uma nova rodada de crescimento. Em 2017 e 2018, respectivamente, o crescimento do PIB foi de apenas 1,0 e 1,1%, resultado que indica um processo de estagnação.
As principais variáveis que compõem o Produto Interno Bruto (PIB), tais como o consumo das famílias, o investimento, o consumo do governo e o desempenho da indústria ainda não foram reaquecidos, o que demonstra que os motores internos do crescimento estão fracos. Com o mercado interno em baixo dinamismo será que uma recuperação da economia poderia vir de algum dinamismo externo?
Recentemente o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou uma redução da previsão da taxa de crescimento global para 3%, a menor desde o estouro da crise financeira internacional de 2008.
O pessimismo em relação ao crescimento econômico global tem várias origens perpassando, por exemplo, pelas investidas norte-americanas na guerra comercial com a China e os enfrentamentos com o Irã, o processo de saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit), a desaceleração do crescimento chinês, a quase-estagnação de várias potências globais como Alemanha, França, Itália, Japão e Coreia do Sul, as incertezas financeiras na Argentina, entre outros fatores.
Estando integrada à economia internacional, num processo que se intensificou com a abertura externa no início da década de 1990, a economia brasileira já está sofrendo os efeitos das mudanças dos ares internacionais.
A análise da conjuntura do setor externo da economia brasileira, considerando o acumulado de janeiro a agosto de 2019, comparado com o mesmo período de 2018 nos ajuda a compreender aspectos de como a dinâmica externa está afetando a economia brasileira.
Nesse período de análise, as exportações reduziram-se em 5,5% e as importações em 1,3%, o que levou a uma retração do superávit comercial de 19,04%. Nas exportações, o grupo mais afetado foi o de manufaturados (-7,5%), justamente o de maior adicionado, acentuando a tendência à reprimarização da pauta exportadora do país. Nas importações o principal grupo afetado foi o de bens de capital (-7,2%), que pode refletir a baixa demanda interna por bens como máquinas e equipamentos, importantes para o investimento.
O saldo da renda primária, que representa os pagamentos aos fatores de produção (terra, capital e trabalho), teve um aumento do déficit em 26,6% no período. Esse resultado pode ser explicado pela maior remessa de lucros, que alcançou um déficit de US$ 35,25 bilhões, o que indica que as empresas estrangeiras instaladas no Brasil estão enviando mais lucros para suas matrizes localizadas no exterior.
O saldo do Investimento Direto Estrangeiro (IDE), que significa o montante de recursos direcionados para a criação de nova capacidade produtiva ou compra de mais de 10% do capital de determinada empresa, ou seja, com perfil mais próximo ao médio e longo prazo, permaneceu positivo, porém com queda de 36,8%. Duas foram as explicações desse fato, a primeira relacionada com a menor entrada de IDE (-10,5%) e aumento da saída de investimento direto do Brasil para o exterior (151,4%). Esse dado pode indicar que, a despeito das incertezas internacionais, os detentores de riqueza estão preferindo alocar seu capital fora do Brasil.
Já o saldo de investimento em carteira, de curto prazo, apresentou uma mudança importante, pois reverteu um saldo positivo de US$ 2,9 bilhões no acumulado de 2018 para um saldo negativo de US$ 7,1 bilhões em 2019. Esse resultado demonstra que o investidor com perfil mais especulativo está preferindo retirar sua riqueza do país.
O movimento dos investimentos especulativos e seus impactos sobre a variação cambial levou o Banco Central a tomar uma medida inédita em mais de dez anos, que foi realizar operação direta de compra e venda de reservas internacionais no mercado de câmbio. As reservas internacionais são uma espécie de colchão amortecedor contra choques externos. Em setembro de 2019 elas totalizavam US$ 376,43 bilhões. De acordo com a Agência Brasil, “Depois de leiloar US$ 26,9 bilhões das reservas internacionais nos últimos meses, o Banco Central (BC) venderá mais US$ 11,3 bilhões no mercado à vista em novembro” [1]. Dada a instabilidade internacional, pode-se deduzir que a venda direta dólares pelo Banco Central pode se tornar uma medida mais comum.
Com o resto mundo na iminência de uma nova crise e com os motores do crescimento interno desaquecidos, pergunta-se: qual será a saída para retomar o crescimento da economia brasileira?