Apresentação
Após alguns meses de crescimento, de redução dos indicadores de desemprego e relativa estabilidade monetária e financeira, o Brasil retoma o funcionamento normal das economias capitalistas subdesenvolvidas, submetidas ao projeto neoliberal. A volatilidade da taxa de câmbio e as pressões sobre os preços levam a equipe econômica a retomar a política de aumentos na taxa básica de juros. O estrangulamento energético, fruto também das medidas neoliberais, é o último golpe contra as expectativas de retomada do crescimento da economia em 2001.
Ao contrário do que os formuladores da política econômica no Brasil imaginam, do que prega o receituário neoliberal e daquilo que defensores do “pensamento único” apregoam, o Estado capitalista intervém e deve intervir sobre as atividades econômicas. O objetivo e a forma dessa intervenção são as questões fundamentais.
O projeto neoliberal aprofundado pelo governo FHC é um conjunto de medidas de intervenção estatal cujo objetivo é atender as necessidades objetivas de criar espaços na esfera produtiva para a reprodução do capital produtivo mundializado e para facilitar e garantir a reprodução do capital especulativo parasitário na esfera financeira, através da expansão do capital fictício. Essas medidas constituem uma unidade sob o comando da esfera financeira e foram implementadas através da desregulamentação dos mercados de bens, de serviços, de trabalho e de capital, da privatização do setor produtivo estatal e de concessões para o capital privado atuar na esfera dos serviços públicos.
A forma da intervenção estatal aparece sob a idéia de eficácia, eficiência e de competitividade, medida através de indicadores puramente quantitativos. Aparece, também, através da aparente redução da intervenção pública. Para tanto, os intelectuais orgânicos das camadas dirigentes disseminaram a ideologia da ineficiência do setor produtivo estatal, um dos fundamentos do projeto neoliberal. Defenderam a idéia da impossibilidade de um projeto nacional desenvolvimentista, pois, segundo eles, esse projeto impede o desenvolvimento da competitividade empresarial e estimula a corrupção e desvio de recursos públicos através dos mecanismos de incentivos fiscais, dos subsídios setoriais e das renúncias fiscais. Mas, o importante é a idéia de que o desenvolvimento só pode ocorrer de maneira associada e dependente, ou subordinada – essa idéia nem sempre é mostrada de forma clara.
Entretanto, devemos ir além da aparência da forma para podermos compreender o momento atual no Brasil. O projeto para o Brasil, do governo FHC, necessita objetivamente das formas “arcaicas”, das formas da “ineficiência” do setor público, e da corrupção para a implementação do “projeto associado-dependente”. É através delas que as frações de classe que detêm o poder político se associam ou se subordinam ao poder executivo, contra os interesses da maioria da população.
Nesse sentido, os gestores da política econômica são eficientes e competentes. Eles executaram uma política de privatização do patrimônio público, aprovada pelo poder legislativo e sancionada pelo judiciário, cujos resultados beneficiaram largamente os capitalistas nacionais e estrangeiros. A equipe econômica mantém uma política fiscal com uma arrecadação recorde e déficits nominais também recordes, sem aumentos significativos nas despesas, mas com brutais transferências para a esfera financeira, a título de juros da dívida pública. A política monetária, executada pelo Banco Central, produziu prejuízos para o Tesouro Nacional, que estão sendo pagos de forma “disfarçada”, através da emissão de títulos da dívida, que comprometem ainda mais recursos fiscais a serem obtidos no futuro.
Tudo isso acaba sendo aceito pelas classes subalternas, em parte pela sua própria posição subordinada e em parte pela produção e disseminação da ideologia dominante do “pensamento único”, como a única alternativa para o país. O mais grave é que a implementação desse projeto leva a situações de estabilidade monetária sem o crescimento da economia ou a situações de pequenos surtos de crescimento com elevada volatilidade nas taxas de câmbio e de juros. Além disso, produz uma desestruturação do tecido produtivo tendendo a transformar as economias subdesenvolvidas, como a brasileira, em economias primário-exportadoras ampliando ainda mais as profundas desigualdades sociais já existentes. Assim, cabe às classes subalternas mudarem essa situação em prol de seus próprios benefícios.
- Política Econômica
- Inflação
- Nível de Atividade
- Emprego e Salários
- Política Monetária
- Política fiscal
- Setor Externo
A economia no ritmo de um tango argentino
A fragilidade externa da economia brasileira e do ritmo atual de seu crescimento, que vinha injetando uma nova onda de otimismo nos agentes econômicos, tornaram-se mais do que evidentes com as recentes turbulências provocadas pela crise argentina nos mercados de câmbio e de juros. Com o dólar batendo na casa de R$ 2,30, o Banco Central, sem reservas suficientes para intervir no mercado de câmbio, optou por promover uma nova elevação das taxas de juros de 15,75% para 16,25%, minando as já frágeis forças do crescimento e deixando claro que seus limites encontram-se condicionados ao comportamento da balança de pagamentos e da inflação. Com isso, previsões otimistas, mas nem por isso suficientes para compensar os efeitos dos últimos anos de estagnação da economia brasileira, de expansão de 4,5% do PIB neste ano começaram a sofrer revisões, não sendo poucos os que já não apostam numa taxa superior a 4%. Ainda assim, uma previsão que pode ser considerada extremamente otimista diante dos atuais cenários que se desenham para a economia nacional e internacional neste ano.
Apesar das iniciativas adotadas para novamente “salvar” a economia argentina – perdão do FMI para o estouro das metas fiscais no primeiro trimestre do ano; liberação de US$ 3,9 bilhões dos recursos previstos no pacote de “blindagem financeira” firmado em dezembro do ano passado; anúncio de um novo pacote de aumento de tributos e de corte de gastos mal recebido pelo mercado etc. – a situação do país se encontra longe de ser resolvida. A verdade é que mesmo com a reestruturação de sua dívida externa, sabe-se que o problema argentino somente será resolvido se encontrada uma solução para a armadilha da conversibilidade do peso, condição que a mera substituição do dólar por uma cesta de moeda não satisfaz. Enquanto esse nó não for desatado, a tensão até poderá ser aliviada com a adoção das medidas atuais, mas o fato é que a possibilidade de uma moratória da dívida argentina continuará presente, atuando como fonte permanente de instabilidade para as demais economias emergentes, principalmente para a brasileira.
Para o Brasil, isso significa que câmbio e juros deverão continuar pressionados, enfraquecendo, por um lado, as já débeis forças do crescimento econômico e jogando, por outro, lenha na fogueira da inflação, além de impactar negativamente sobre a dívida pública. Um novo pacote de impostos e de corte de gastos para garantir o cumprimento das metas fiscais acertadas com o FMI pode ser lançado no segundo semestre como desdobramento natural deste quadro, conduzindo novamente a economia para uma trajetória recessiva.
Além da complicada situação argentina, outros elementos confirmam não serem animadoras as perspectivas colocadas para a economia brasileira até o final do ano. Entre estes, destaque-se o ainda incerto, mas inevitável (apesar da nova redução das taxas de juros promovida pelo FED) grau de desaceleração da economia norte-americana. Além deste, o reingresso das contas externas brasileiras numa trajetória de deterioração e a crise de energia prevista para o segundo semestre devem também atuar como forças anti-crescimento. Por isso, apesar do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, já começar apressadamente a enxergar uma “parte do céu azul na Argentina”, com o encaminhamento de algumas questões paliativas para a solução da crise atual, tudo indica que o Brasil deve continuar sendo sacudido por muitas turbulências e manter-se numa trajetória de baixo crescimento ou de estagnação.
Inflação
Com exceção do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que apresentou uma queda insignificante, e do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), todos aos demais índices de preços mantiveram comportamento de alta entre os meses de fevereiro e março do corrente ano. As declarações oficiais indicam que as pressões sobre os preços não são decorrentes da atual desvalorização cambial. Segundo o diretor da Federação do Comércio do Rio de Janeiro, Luis R. da Cunha, o aumento do dólar bem como os aumentos das tarifas públicas não lhe preocupam. Segundo ele, a única coisa que pode ameaçar o país a não atingir a meta de inflação, de 4% ao ano, é haver um novo choque agrícola, entre julho e agosto, por causa da falta de chuvas.
Para Heron do Carmo, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (FIPE-USP), a desvalorização do Real ainda não atingiu os índices de preços. Segundo ele, a pesquisa da Fipe não confirmou a pressão do câmbio sobre os preços (FSP, 05/04/01). Isso pode ser verificado através da queda dos preços dos produtos que sofrem a influência cambial, como os produtos industrializados (-0,20%) e os de higiene e limpeza (-0,08%). Os aumentos estão concentrados em poucos itens, todos no grupo Alimentação (1,6%), afirma Heron.
Apesar das declarações de que a alta do dólar, ocorrida nas últimas semanas, ainda não afetou os preços internos, o Comitê de Política Monetária (Copom) mostrou-se preocupado com o cumprimento da meta de inflação fixada para o ano de 2001 e aumentou a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual. Segundo a ata do Copom, “a magnitude da variação cambial recente, frente à aceleração do ritmo da atividade econômica, pode aumentar o grau de repasse para os preços domésticos e elevar a inflação deste ano”.
Quanto aos preços dos combustíveis, energia, transportes públicos e telefonia, o reajuste médio esperado pelo Bacen é de 8,9%, contribuindo com um aumento de 2,0 pontos percentuais no IPCA. O preço da energia elétrica deverá produzir um impacto de 15,8% no IPCA. Os aumentos de preços na telefonia deverão apresentar um impacto de 8%. Esses aumentos são concedidos com base no IGP-M dos últimos 12 meses anteriores ao mês em que os aumentos forem autorizados.
Ao contrário das previsões anteriores, há indícios de que a desvalorização do Real e os aumentos nos preços das tarifas públicas, administradas pelas concessionárias privadas, podem afetar os índices de preços. Os preços dos insumos importados usados nos setores agrícola e industrial já estão aumentando. Inseticidas, adubos e fertilizantes tiveram aumentos de cerca de 30% a 50%, segundo o Jornal do Campo. Por outro lado, os históricos aumentos nas tarifas que subiram, em média, 234,78% desde a criação do Plano Real, mostram uma influência positiva sobre os índices de preços. Os dados do IBGE mostram que as tarifas da telefonia subiram 344,82%, desde 1994; as do gás, 272,87%; as da energia, 156,73%; o preço da gasolina, 199,76%; o do transporte público, 199,76%; e o da água, 93,22%. Por outro lado, a renda pessoal média cresceu apenas 18,9% (O Dia, 06/05/01).
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é calculado pelo IBGE e abrange as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador e Curitiba, além dos municípios de Brasília e Goiânia. Refere-se à famílias com rendimentos mensais de até 40 salários mínimos e é a referência para a política de metas de inflação. Segundo Eulina N. dos Santos, gerente do Sistema de Índices de Preços do IBGE, o item que mais contribuiu para aumentar o índice em fevereiro foi a passagem de ônibus. Ela aumentou em seis capitais brasileiras (Porto Alegre, Belém, Fortaleza, Salvador, Curitiba e Goiânia), contribuindo com 0,1 ponto percentual no resultado do IPCA. Ressaltou ainda, que, caso não houvesse esse aumento, o índice seria de 0,36%.
Em março, o IPCA foi de 0,38%, o menor índice do mês (tabela 2.1). O item que mais contribuiu para a queda do índice foi a Educação, que variou -2,88%, em fevereiro, e 0,49%, em março. Mesmo com a retração observada desde janeiro, a taxa de inflação, estimada pelo IPCA, acumulada no ano, está em 1,42%. Maior do que a taxa acumulada no primeiro trimestre do ano passado, que foi de 0,97%. O grupo de Alimentação e Bebidas foi o que mais pressionou para cima o índice no mês de março, pois aumentou de 0,05%, em fevereiro, para 1,17%, em março. Esse aumento ocorreu devido à entressafra de alguns produtos, às variações climáticas ocorridas no período e à elevação da demanda por frango no mercado internacional, estimulada pelas doenças bovinas da febre aftosa e do ‘mal da vaca louca’.
Para Eulina N. dos Santos, ainda é cedo para avaliar o cumprimento da meta de 4% fixada no acordo com o FMI, para a inflação de 2001. Segundo o chefe do Centro de Estudos de Preços da Fundação Getúlio Vargas, Paulo Sidney Cota, o IPCA deverá ficar em torno de 5% este ano. Isso, se o dólar não subir mais.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) é calculado pelo IBGE para famílias com rendimentos mensais de até 08 salários mínimos e nas mesmas regiões metropolitanas do IPCA. Esse índice, encerrou o mês de fevereiro em queda, em relação à janeiro. Em fevereiro, o INPC foi de 0,49%, contra 0,77% em janeiro. A maior variação regional do índice ocorreu em Belém, 2,20%. Em março, o índice permaneceu praticamente estável. A taxa acumulada no ano atingiu 1,75%.
O Índice de Preços no Consumidor (IPC), calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE-USP), apresentou variação de 0,11%, em fevereiro. Os principais responsáveis por esse aumento foram os grupos Saúde (0,88%) e Habitação (0,25%). A alta foi compensada, em parte, pela queda nos preços do Vestuário (-1,21%). Em março, a taxa de inflação foi de 0,51%, a maior desde agosto de 2000, ficando acima das expectativas iniciais da própria Fipe. O grupo Alimentação (1,6%) foi o principal responsável pelo aumento, com destaque para os aumentos no feijão (17,4%) e na laranja (13,1%). Por outro lado, os preços dos produtos industrializados continuaram em queda (-0,1%). Segundo Heron do Carmo, a inflação atual está afetando muito a classe mais pobre devido aos aumentos das tarifas no 2º semestre do ano passado e aos fortes reajustes nos alimentos básicos e de consumo diário.
O Índice Geral de Preços no Mercado (IGP-M), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), apresentou uma taxa de 0,23%, em fevereiro. A variação de preços foi menor no atacado. O Índice de Preços no Atacado (IPA) aumentou em 0,08%, com os produtos agrícolas apresentando deflação de -1,11% e os produtos industriais encarecendo 0,52%, influenciados pela alta no dólar. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,42%. Em março o IGP-M subiu 0,56%, muito acima do resultado de fevereiro. A taxa acumulada no ano de 2001 é de 1,42% e de 9,60% nos últimos doze meses.
O Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI), estimado pela FGV-RJ, entre os dias 01 e 28 de cada mês, variou 0,34%, em fevereiro, abaixo da variação de 0,49%, do mês anterior. Os três índices que formam o IGP-DI são o Índice de Preços no Atacado (IPA), o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e o Índice Nacional de Construção Civil (INCC). Em março o IGP-DI cresceu 0,80%, mais do que o dobro da taxa de fevereiro. A maior alta de preços foi registrada pelo IPA (1,01%), puxado pelos produtos agrícolas (3,03%). O IPC, que mede a variação de preços no varejo, cresceu 0,56%, com a maior alta no grupo Alimentação (1,41%).
O Índice de Custo de Vida do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômico (ICV-DIEESE) manteve uma tendência de elevação no primeiro trimestre do ano. Ele aumentou 0,23% em fevereiro e o principal grupo responsável por esta elevação foi o de Saúde, em decorrência dos aumentos nos medicamentos e produtos farmacêuticos (2,98%). Em março, o ICV manteve variação positiva, 0,48%, 0,25 ponto percentual acima da taxa apurada em fevereiro. A pressão inflacionária partiu dos alimentos que aumentaram 1,23%, contribuindo com 0,31% no total do índice. Por outro lado, a queda de -1,24% nos preços dos produtos de vestuário contribuiu para amenizar a pressão sobre o índice. A taxa acumulada no ano está em 1,54% e em 6,97% nos últimos 12 meses.
No mês de abril, o preço da cesta básica subiu em todas as dezesseis capitais onde a Pesquisa Nacional da Cesta Básica foi realizada. Os maiores aumentos foram apurados em Vitória (7,93%), Belo Horizonte (7,20%), Florianópolis (6,75%) e Curitiba (6,52%), enquanto as menores variações ocorreram em Natal (0,27%), Aracaju (0,28%), Rio de Janeiro (0,83%) e Salvador (0,91%). Dez capitais registraram, em abril, um custo superior a R$ 100,00, enquanto os menores preços foram registrados em Salvador e Recife (tabela 2.2).
Os produtos responsáveis pelo aumento da cesta básica foram: o feijão, que aumentou em quinze das dezesseis capitais; o tomate, que chegou a aumentar 47,92% em Florianópolis; a banana e manteiga, que aumentaram em dez capitais; a batata, que registrou variação de 40,43%, em Florianópolis; e a carne, que aumentou 4,11%, em Brasília, e 3,15%, em Curitiba; o pão e o óleo de soja.
Nos primeiros quatro meses de 2001 apenas Recife apresentou redução nos preços do conjunto de produtos que compõem a cesta básica, uma queda de -8,56%. Os maiores aumentos ocorreram em Vitória (17,78%). Belo Horizonte (14,63%), Porto Alegre (13,73%), Curitiba (13,45%) e Goiânia (10,41%).
Nos últimos doze meses os aumentos nos preços da cesta básica ocorreram em Porto Alegre (22,19%), Vitória (16,50%) e Belo Horizonte (15,51%). Recife, com redução de -5,79%, e João Pessoa (-0,01%), foram as cidades com as menores variações.
O DIEESE estima que o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas, em São Paulo, atendendo a suas despesas com alimentação, moradia, educação, saúde, vestuário, higiene, lazer e previdência social, deveria ser de R$ 1.092,97, ou seja, 6,1 vezes o salário mínimo vigente de R$ 180,00.
Nível de Atividade
O PIB – Produto Interno Bruto – cresceu 4,46% em 2000, sendo a maior taxa desde 1994, quando aumentou 5,85%. Foi um resultado notável se compararmos com os dois anos anteriores. Em 1998, o PIB cresceu apenas 0,22% e, em 1999, 0,79%. Com essa taxa de crescimento, o PIB brasileiro chegou a R$ 1.089,7 bilhões a preços correntes e o PIB per capita atingiu R$ 6.560,00. O crescimento no ano 2000 foi liderado pelo setor industrial, com uma taxa de crescimento de 5,01%, seguido pelos serviços (3,85%) e pela agropecuária (3,02%). Os subsetores com maior crescimento, no ano passado, foram as comunicações (16,96%), a indústria extrativa mineral (11,48%) e a extração vegetal (4,33%).
No quarto trimestre de 2000, o PIB apresentou crescimento de somente 0,25%, em relação ao trimestre anterior. As taxas com ajuste sazonal indicam que setor agropecuário teve uma contração de -7,39%, o setor industrial cresceu 1,46% e o setor de serviços cresceu apenas 0,74%.
Entre o quarto trimestre de 2000 e o mesmo período do ano anterior, a economia brasileira apresentou um crescimento de 4,11%. Esse desempenho foi obtido pelo crescimento de 4,85% do setor industrial, de 3,91% do setor de serviços e pela queda de -7,32% da agropecuária. Os subsetores que mais contribuíram para esse crescimento foram o de Comunicações (16,49%) e o de Extração Mineral (15,55%). Os subsetores que menos contribuíram foram o de Lavouras (-8,50%), o de Extração Vegetal (-7,18%), o de Produção Animal (-4,69%) e o de Transporte (-0,18%).
A produção física industrial cresceu 7,7% em março de 2001, em relação ao mesmo mês do ano anterior, mas caiu -0,3% em relação ao mês de fevereiro. Em doze meses, a produção cresceu 6,3% e acumulou um crescimento de 6,9%, em 2001. Apesar do elevado crescimento em relação ao ano anterior, os indicadores industriais do primeiro trimestre do ano mostram um certo esgotamento do ritmo de crescimento.
Em março de 2001, a indústria de bens de capital cresceu 21,9% e a de bens de consumo duráveis, 22,4%. Esses setores acumularam, no ano, um crescimento de 19,0% e 15,4%, respectivamente. A produção de bens intermediários cresceu 6,2%, no mês, e 5,9%, no ano. Os bens de consumo semiduráveis e não duráveis cresceram apenas 0,8%, no mês, e 0,7%, no ano.
A tendência ao esgotamento do ritmo de crescimento aparece na comparação do mês de março em relação a fevereiro. Com exceção dos bens de capital, todos os segmentos industriais apresentaram taxas negativas de crescimento.
Esses dados contrastam com o desempenho industrial verificado em fevereiro de 2001. Nesse mês, a produção de bens de consumo duráveis cresceu 11,0% em relação a janeiro, 3,5%, em relação a fevereiro do ano anterior, e a taxa de crescimento acumulada no ano atingiu 11,2%. Esses resultados levavam a indústria automobilística a previsões muito otimistas. Em fevereiro, consideravam que as montadoras brasileiras deveriam registrar, em 2001, o segundo melhor ano de sua história com uma produção crescendo numa velocidade muito maior do que se esperava. Até o início do ano, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) projetava a produção de 1,7 milhão de veículos em 2001. Como as fábricas trabalhavam em ritmo acelerado, a previsão foi ampliada para 1,9 milhão de unidades. Com os resultados obtidos em março e com o racionamento de energia, essas previsões deverão ser significativamente modificadas.
Na agricultura, principal fonte de exportações do país, o problema é o excesso de produção mundial. Os armazéns estão lotados de café, a safra de açúcar cresceu e há uma superoferta de soja, e isso contribui para uma acentuada contração no setor agropecuário para equilibrar a oferta com a demanda.
Nível de atividade do Espírito Santo
A produção industrial do Espírito Santo, que havia apresentado uma queda de -2,5%, em fevereiro de 2001, volta a crescer 9,7%, em março. O crescimento industrial, no primeiro trimestre do ano, foi de 4,2% e a taxa acumulada em doze meses foi de 5,4%, em março de 2001.
A queda ocorrida no indicador do mês de fevereiro marca o fim de uma série de crescimentos contínuos neste tipo de comparação. É que desde agosto de 1999 o indicador mensal não havia ainda apresentado nenhuma queda. Esse recuo mensal é consequência do menor número de dias úteis de fevereiro de 2001 com relação a fevereiro de 2000. As maiores quedas vieram da indústria metalúrgica, com taxa de -5,3%, devido à redução na produção de placas de aço comum, e dos produtos alimentares, com queda de -33,7%, ocasionada pelo mau desempenho da produção de bombons e café solúvel. A extração mineral apresentou alta de 18,2%, e isso colaborou para amenizar o fraco desempenho da produção industrial.
No mês de março, a produção física industrial do Espírito Santo voltou a crescer. As classes e gêneros com as maiores taxas foram a extrativa mineral (36,85%) e papel e papelão (33,93%). A produção de alimentos caiu -17,39% e a metalúrgica, -1,77%. Os demais gêneros apresentaram taxas de crescimento muito pequenas. Segundo o IBGE, os produtos que mais se destacaram, na produção mensal, foram o petróleo em bruto e a celulose.
Apesar do crescimento de 4,17%, o desempenho da indústria capixaba no primeiro trimestre do ano indica uma perda de dinamismo, pois é a “menor taxa trimestral desde os 3,4% atingidos no terceiro trimestre de 2000” (IBGE). Essa perda de dinamismo reflete-se na queda de -2,58% na indústria de transformação, cujos principais responsáveis foram a indústria de produtos alimentares (-20,83%) e a química (-3,83%). O crescimento de 8,11% da indústria têxtil, de 0,49% do papel e papelão e de 0,09% da metalurgia não foi suficiente para evitar a queda na indústria de transformação. Sem o crescimento de 27,01% da indústria extrativa mineral essa queda não seria compensada.
O registro de novos inadimplentes caiu no mês de fevereiro de 2001 com relação a janeiro do mesmo ano. Essa queda, segundo os dados do SPC, foi de -4% e de -35,02% na comparação com o mês de fevereiro de 2000. As baixas, em relação a janeiro, também apresentaram queda (-25,55%) e, em relação a fevereiro do ano anterior, essa taxa ficou negativa em -26,01%. Nesse mesmo mês, as consultas diminuíram -8,27%, o que aponta uma redução nas vendas a prazo. Outro fator que acentua essa redução é o aumento de apenas 1,67% no volume de consultas a cheques. A inadimplência observada nas compras com cheques aumentou no mês de fevereiro (66,45%), em relação a fevereiro de 2000, mas diminuiu em relação a janeiro de 2001 (-5,65%). As consultas ao SPC em janeiro de 2001 reduziram -13,06% e as realizadas aos cheques locais caíram -12,62%. Isso demonstra um baixo desempenho das vendas em geral no estado.
Emprego e Salários
Como mostramos nos boletins anteriores, os índices de desemprego no Brasil vêm apresentando pequenas oscilações ao longo do ano, com quedas pontuais no período das festas natalinas. Apesar disso, a tendência de alta continua e as taxas estão cada vez mais elevadas. Vejamos a situação no primeiro trimestre de 2001.
A Pesquisa Mensal de Emprego (PME), realizada pelo IBGE nas seis maiores regiões metropolitanas do país – Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre – estimou uma taxa de desemprego aberto de 6,5% para o mês de março. O desemprego aberto é formado por pessoas desempregadas que estão à procura de trabalho na semana anterior à pesquisa. Essa taxa aumentou 0,8 ponto percentual em relação a fevereiro de 2001. O número de pessoas que buscou emprego em março subiu 14,7% em relação ao mês anterior (FSP, 27/04/01). De fevereiro para março deste ano, o setor de atividade com a maior alta na taxa de desemprego foi a Construção Civil, com 7,8%, seguido pelo Comércio e Indústria de Transformação, com 6,7%. Em março de 2001, o indicador aumentou em todas as regiões metropolitanas pesquisadas, sendo que a variação registrada em São Paulo e Porto Alegre foi, aproximadamente, de 0,5 ponto percentual e nas demais regiões ficou em torno de 1 ponto percentual.
O número de pessoas ocupadas ou trabalhando aumentou de fevereiro para março deste ano (0,7%) e de março do ano passado para março deste ano (1,9%). O rendimento real manteve-se estável de janeiro para fevereiro deste ano e caiu ligeiramente em relação a fevereiro do ano passado.
A Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), realizada pelo DIEESE na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), mostra que a taxa de desemprego total, do mês de março, foi de 17,3% contra 17%, do mês de fevereiro, aumentando 0,3 ponto percentual no contingente de desempregados. O desemprego total é formado pelo desemprego aberto e oculto (pelo trabalho precário e pelo desalento). O comportamento da taxa de desemprego total deveu-se principalmente ao crescimento da taxa de desemprego aberto, que passou de 10,7%, em fevereiro, para 11,2%, em março, uma vez que a taxa de desemprego oculto diminuiu de 6,3% para 6,1%, no mesmo período.
Pelo segundo mês consecutivo, o setor industrial foi o único a apresentar crescimento no nível de ocupação (2,0%, em março). Este desempenho favorável ampliou o número de ocupados na maioria dos ramos de atividade, destacando o desempenho positivo dos setores Química e Borracha (5,3%) e Metal-Mecânico (2,5%). Nos Serviços, persistiu o movimento de declínio iniciado em dezembro de 2000, usual nessa época do ano.
O rendimento médio dos ocupados permaneceu relativamente estável (-0,2%) e o dos assalariados apresentou acréscimo de 1,1% em fevereiro, interrompendo a trajetória de declínio verificada nos últimos três meses. Nos últimos 12 meses, houve retração de -4,6% no salário médio do setor privado. A diminuição foi mais intensa para os assalariados do Comércio (-8,5%) do que para os da Indústria (-4,8%) e dos Serviços (-3,2%). Os assalariados sem carteira assinada no setor privado tiveram diminuição de -5,6% em seu rendimento médio e aqueles com carteira assinada, de -3,8%, segundo a posição na ocupação. Os trabalhadores autônomos tiveram redução de -6,8% em seus rendimentos, no período.
Emprego e salário no Espírito Santo
O Instituto de Desenvolvimento Industrial do Espírito Santo (IDEIES) registrou, no mês de janeiro, uma variação de 0,33% no emprego industrial, depois dos resultados negativos nos últimos dois meses de 2000. Dentre os gêneros que mais contribuíram para a elevação no nível do emprego, destacam-se: Químico, crescimento sazonal devido à próxima safra do álcool, Extração Mineral e Construção Civil (tabela 4.2). Por sua vez, os setores que mais reduziram as ofertas de vagas foram: “Outros” e Vestuário e Calçados. A taxa de variação no nível de emprego, acumulada nos últimos doze meses, foi de 7,86%. Os setores que mais contribuíram para este crescimento foram a Construção Civil (42,07%), Material Plástico (21,13%) e Mecânica (13,87%).
Os salários reais pagos pela indústria capixaba, no mês de janeiro, sofreram queda de -4,66% em relação a dezembro do ano anterior. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, registrou-se uma elevação de 6,56%, e um ganho de 1,90% nos últimos doze meses.
Os dados da intermediação de mão-de-obra mostram que a demanda por ocupação, no SINE-ES, aumentou 70,0%, enquanto o número de vagas captadas cresceu apenas 38,3%, no mês de março. No trimestre, a demanda cresceu 6,5% e a oferta de vagas, 88,3%, em relação ao mesmo período do ano passado (tabela 4.3). A taxa de alocação subiu de 59,92% em fevereiro para 60,45% em março, e o número de inscritos aumentou em 70%, totalizando 8.748 cadastrados no último mês do trimestre. O destaque do trimestre foi o aumento na taxa de alocação, que mostra o percentual de trabalhadores alocados em relação às vagas captadas, que passou de 40,96% de janeiro a março de 2000 para 55,10% no mesmo período do ano corrente (tabela 4.3).
Política Monetária: Base Monetária
A base monetária manteve-se estável em janeiro deste ano em comparação com dezembro do ano passado (tabela 5.1). Pelo critério da média dos saldos dos dias úteis, a base monetária caiu para R$ 43,3 bilhões, no mês de março. Isso significou uma pequena redução de -2,2% em relação a fevereiro e de -6,5% em relação a dezembro. Esta pequena redução da base refletiu-se, principalmente, na redução de -3,2% do papel moeda emitido, que totalizou R$ 27,7 bilhões. As reservas bancárias totalizaram R$ 15,7 bilhões, mantendo-se estáveis em relação a fevereiro. A base monetária ampliou-se em 5,9% nos últimos em 12 meses.
A tabela 5.2 mostra o comportamento das contas que mais influenciaram as variações na base monetária. As elevadas desvalorizações do real acompanhadas da volatilidade na taxa de câmbio se expressaram, principalmente, nas operações do Tesouro Nacional e nas operações com títulos públicos. Os dados da tabela mostram, igualmente, que o impacto do setor externo foi relativamente pequeno. A destruição de moeda, em março, foi resultado da emissão de R$ 3,2 bilhões em títulos públicos, do superávit primário do tesouro nacional de R$ 2,7 bilhões e do resultado das operações com o setor externo (R$ 668 milhões). Segundo o BACEN, a redução das operações com títulos, em comparação aos meses anteriores, ocorreu em todos os grupos de títulos devido à redução da oferta pública e à deterioração das expectativas dos agentes. A retirada de moeda do sistema provocada pelas operações com o setor externo deve-se mais à desvalorização do Real do que, propriamente, a um aumento das operações comerciais (a cotação do dólar já acumula uma alta de mais de 11% nesse início de ano).
Operações de Crédito
Assim como no último trimestre do ano passado, as operações de crédito com o setor privado seguem uma trajetória de crescimento, enquanto que as operações com o setor público apresentam um comportamento inverso. O total de crédito concedido ao setor privado pelo sistema financeiro, no mês de março, foi de R$ 322,6 bilhões, representando uma elevação de 2,4% em comparação com fevereiro. Contribuíram para esta elevação o aumento do crédito para a indústria – 3,1% no mês devido, principalmente à variação cambial – e para pessoas físicas – aumento de 3,7% no mês e de 10,8% no trimestre.
A dívida total do setor público com o sistema financeiro alcançou R$ 13,3 bilhões, em março, representando uma alta de 6,8% em relação ao mês anterior. Em comparação com o trimestre anterior, a dívida pública bancária apresentou uma contração de -4,8%. A dívida do Governo federal era de R$ 3,8 bilhões, em março, e a dos estados e municípios chegou a R$ 9,6 bilhões, no mesmo mês. O total de crédito concedido pelo sistema financeiro foi de R$ 335,8 bilhões, o que representou uma alta de 2,6% no mês e 5,3% no trimestre.
Com relação aos níveis de risco, 65,4% do total de empréstimos concedidos pelo sistema financeiro foram classificados como de menor risco (AA ou A) e apenas 5,3% como sendo de maior risco (H), em março. Destaca-se a melhora significativa quanto ao perfil de risco da dívida dos estados e municípios em relação ao trimestre anterior. No último trimestre de 2000, 22,2% da dívida dos estados e municípios estavam classificadas como de maior risco, enquanto no primeiro trimestre do ano corrente apenas 5,0% foram classificadas no nível H: destaque negativo para o setor habitacional que teve 14,2% de sua dívida classificados como de maior risco, além de ter apresentado uma diminuição dos financiamentos em relação ao último trimestre de 2000.
O aumento da taxa de juros Selic na última reunião do COPOM não permitirá que haja nenhuma redução da taxa de juros “na ponta” do mercado. A diminuição das taxas de juros na ponta é defendida por muitos economistas, como uma forma de ampliar o crédito para pessoas físicas e para o setor industrial, dando mais fôlego à economia brasileira. Ocorre que o BACEN teme pela deterioração das contas do balanço de pagamentos, além do estrangulamento energético e do risco inflacionário, com isso tem aumentado a taxa básica de juros. O imenso spread bancário entre a taxa Selic e as taxas de juros na ponta do mercado é explicado pela inadimplência dos tomadores de empréstimo. Os dados gerados pela classificação em níveis de risco do BACEN comprovam que a inadimplência é muito baixa, o que nos leva a concluir que a explicação para o spread bancário reside muito mais na oligopolização do sistema bancário.
Taxa de Juros
Na 58ª Reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (COPOM), realizada no dia 18 de abril, foi decidido por unanimidade elevar a taxa Selic para 16,25% ao ano. Esse fato foi justificado a partir da análise da conjuntura atual: demanda e oferta agregadas, níveis de preços, conjuntura externa e as metas de inflação. No entanto pode se observar, através da ata da reunião, que a inflação foi o fator de maior preocupação na fixação da taxa de juros.
No contexto externo, a maior preocupação está centrada na recuperação da economia argentina, que continua incapaz de convencer os investidores da possibilidade de sua recuperação. Apesar da economia americana ter entrado em um processo de desaquecimento, que cresceu em seu menor ritmo em cinco anos, no último trimestre do ano passado, ainda apresenta uma taxa de crescimento positiva. A taxa média de crescimento de 7,3% da economia, que mantinha desde 1989, teve uma sensível queda, fato que preocupa o Banco Central brasileiro, pois a qualquer momento pode ocorre uma elevação na taxa de juros americana na tentativa de reduzir o custo de produção e estimular o crescimento.
A taxa de risco cobrada pelos investidores estrangeiros não deverá ser reduzida no curto prazo. Analisando as contas do governo, observa-se um aumento da participação dos títulos de variação cambial de 21,6%, em janeiro, para 23,2% do total da dívida mobiliária federal, em março. Também o prazo médio dos títulos da dívida mobiliária brasileira reduziu-se de 32,2 meses em fevereiro para 31,4 em março. Dessa forma, o aumento do passivo e a formulação de projeções de aumento da inflação para o ano de 2001 estão criando um cenário de formulação de expectativas negativas.
A crise cambial instalada nos últimos meses tem impactado nos preços de alguns produtos. Os produtos eletrônicos, que usam insumos importados, não reagiram à alta do câmbio apresentando, em alguns casos, uma variação negativa. Por outro lado, os produtos alimentícios (aves e carnes bovinas) tiveram um leve aumento e paralelamente ao aumento das tarifas de serviços públicos, foram os principais responsáveis pelo aumento da inflação.
Segundo o Copom, a maior preocupação está centrada no controle da inflação, sendo a preocupação com o câmbio de ordem secundária. Fica claro que a taxa de juros será alterada de acordo com a necessidade conjuntural, pois esse é o instrumento de política monetária em que a transmissão ocorre com maior rapidez.
O câmbio só será um problema para o Banco Central (BC) no momento que interferir nas metas de inflação, ou seja, a curto prazo espera-se a não interferência do câmbio nos preços. Porém, se o mercado não se acalmar, o BC poderá voltar a agir de maneira mais firme no controle do câmbio, política esta abandonada desde a crise cambial de 1999.
A posição do BC de elevar a taxa de juros para 16,25% passa primeiramente por uma medida de cautela. Para a equipe econômica, o controle da taxa de inflação é o alvo de toda a política adotada. Nesse sentido, todos os esforços são canalizados para a manutenção do IPCA, atual índice de medida da inflação. Se as metas de inflação não forem alcançadas, muito provavelmente as taxas de juros continuarão numa trajetória ascendente. Então, para saber o provável desfecho da próxima reunião do Copom basta se atentar aos dados sobre a inflação a serem divulgados nos próximos dias.
Política Fiscal
Uma das principais conclusões de um estudo realizado pelo BNDES atesta que o aumento da arrecadação da União, nos últimos anos, foi alcançado com a elevação das alíquotas das contribuições sociais. Dessa forma, argumenta o governo federal, as receitas não precisariam ser divididas com os estados e municípios (FSP, 08/03/01). Assim foi com a Cofins e está ocorrendo com a CPMF. A Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira é assunto ainda para muita discussão. Surgiu como contribuição provisória, em janeiro de 1997, substituindo o antigo IPMF, criado em 1993, ambos com alíquota de 0,20%. A CPMF tinha seu término previsto para janeiro de 1999. Retornou com uma nova roupagem, a partir de 17 de junho do mesmo ano, e com tarifa de 0,38%, quase 100% de aumento. Após um ano, deveria ter sua tarifa reduzida para 0,30% e, assim permanecer por dois anos, quando seria extinta. A redução, porém, durou apenas nove meses, pois voltou a subir para 0,38% em março deste ano, com a desculpa de financiar o combate à pobreza e os gastos com a saúde (A Gazeta, 19/03/01). A utilização em prol da saúde, proposta inicial, foi frustrada, pois o governo cortou recursos que tradicionalmente destinava à saúde. Contrastando com tal “propósito social”, em outubro do ano passado, o governo isentou da CPMF as aplicações do capital estrangeiro, feitas na bolsa de valores. O limite que a emenda constitucional estipula para o fim da CPMF é junho de 2002, mas o governo já se movimenta para mantê-la, ou substituí-la por um novo imposto.
Com tantos impostos e contribuições, as receitas do governo, especialmente do Governo Federal, vêm crescendo sistematicamente, contribuindo para obter os superávits primários prometidos ao FMI.
O resultado primário do governo central, no conceito ‘acima da linha’ (tabela 6.1), foi superavitário em R$ 3,7 bilhões, em março, contra R$ 628 milhões em fevereiro. Entretanto, registra um decréscimo de R$ 300 milhões se comparado com o mesmo mês do ano anterior (R$ 4,0 bilhões). O total acumulado no trimestre manteve-se praticamente estável em relação ao ano anterior, mas, apresentou redução quando calculado como proporção do PIB, caindo de 2,82%, no primeiro trimestre de 2000, para 2,42%, em igual período deste ano. Deve-se ressaltar a promessa feita ao FMI de atingir um superávit primário de 3,0% do PIB, até o final do ano.
A esfera que mais contribuiu para esse resultado, no mês de março, foi o Tesouro Nacional, com R$ 4,5 bilhões. O déficit do Banco Central foi de R$ 43,3 milhões e o déficit da previdência foi de R$ 800,6 milhões. Convém salientar que houve, no mês, aumento em todos os itens das receitas brutas do Tesouro, impostos, 19,3%, contribuições, 9,2% e demais, 11,9%. No total, as receitas brutas do Tesouro cresceram 22,8%, em relação ao mês de fevereiro.
Com a elevação da alíquota da CPMF, a partir de 18 de março, espera-se nova elevação da receita do Tesouro. O governo prevê arrecadar R$ 3,4 bilhões até junho de 2002, só com o aumento da alíquota para 0,38%. Parte dessa quantia deverá ser destinada ao financiamento de Fundo de Combate à Pobreza (A Gazeta, 02/03/01). Todavia, enquanto a lei complementar que delimita a aplicação dos recursos extras da CPMF não for aprovada, tais recursos estão sendo aplicados na compra de títulos públicos (FSP, 03/03/01). Em última instância, é o governo emprestando para ele mesmo.
A receita da previdência, de R$ 4,77 bilhões em fevereiro, esteve acima da média dos últimos doze meses. Em março, houve um recuo de -2,8%, caindo para R$ 4,65 bilhões. Entretanto, essa receita superou os R$ 14,0 bilhões no primeiro trimestre do ano e foi 13,6% maior do que a receita obtida no primeiro trimestre do ano anterior. O Programa de Recuperação Fiscal (Refis), destacado pelo Governo como importante gerador de recursos para a previdência, está sendo considerado vulnerável, do ponto de vista da sua engenharia financeira, já que possui brechas que podem ser utilizadas pelas empresas para se beneficiarem com o programa (FSP, 11/03/01).
Quanto à despesa total do governo federal, ainda de acordo com a tabela 6.1, houve expansão de 6% no mês de março, R$ 14,8 bilhões, em relação ao mês anterior, R$ 13,9 bilhões. Comparando-se a despesa total do primeiro trimestre de 2001, R$ 44,5 bilhões, com aquela do mesmo período do ano anterior, R$ 13,9 bilhões, verifica-se que houve uma expansão de 14,8%.
O resultado primário do governo central, no conceito ‘abaixo da linha’, apresenta um superávit primário de R$ 5,2 bilhões, em março, contra R$ 2,5 bilhões em fevereiro (tabela 6.2). Tal resultado só vem confirmar a tendência de geração de superávits primários crescentes, fruto de um contínuo e exorbitante esforço implementado pelo governo, como forma de cumprir as metas firmadas com o FMI.
As despesas com juros foram de R$ 2,9 bilhões e de R$ 4,1 bilhões em março, calculadas respectivamente com e sem desvalorização cambial. No acumulado do trimestre, estes valores somaram R$ 9,3 bilhões e R$ 11,7 bilhões. Uma queda de -82,3% em relação ao mesmo período do ano passado, considerando-se a desvalorização cambial, e de -27,5%, sem a desvalorização cambial.
Tendo em vista o superávit primário obtido em março, o resultado nominal do governo central, registrou um saldo positivo de R$ 2,3 bilhões ou R$ 1,09 bilhão, dependendo se leva ou não, em conta, a desvalorização cambial.
Para o setor público consolidado, o resultado primário no conceito ‘abaixo da linha’ e com desvalorização cambial, foi superavitário em R$ 5,7 bilhões, em março. Com tal performance, as contas públicas fecham o trimestre com um superávit primário acumulado de R$ 13,6 bilhões (4,9% do PIB), superando em 112,5% o critério de desempenho estabelecido pelo FMI para o período, que era de R$ 6,4 bilhões. Cabe ressaltar, ainda, que do superávit primário acumulado até março, R$ 9,6 bilhões (ou 3,5% do PIB), foram obtidos pelo governo central, sendo este, portanto, o maior responsável pelo resultado alcançado.
As despesas com juros nominais registraram um total de R$ 4,5 bilhões, com desvalorização cambial, e R$ 5,7 bilhões, sem a desvalorização, em março. No primeiro trimestre do ano, o setor público pagou, de juros, R$ 18,2 bilhões ou R$ 20,6 bilhões, respectivamente, com e sem a desvalorização cambial. Em relação ao mesmo período do ano anterior, estes valores foram inferiores em -70,7% e -19,1%, respectivamente.
O resultado nominal, do setor público consolidado, apresentou um saldo positivo de R$ 1,2 bilhão, em março, decorrente do elevado resultado primário e da relativa estabilidade financeira do período. Isto significa que o Estado conseguiu obter um resultado primário mais do que suficiente para pagar a conta de juros do mês. Entretanto, o primeiro trimestre de 2000 ainda fecha com um resultado nominal deficitário na ordem de 1,7% do PIB, ou de R$ 4,7 bilhões, considerando a metodologia de cálculo com a desvalorização cambial. Se não considerarmos a desvalorização cambial, o resultado nominal foi deficitário em R$ 25 milhões, em março, e acumulou um déficit de R$ 7,0 bilhões, no trimestre.
A dívida líquida do setor público como um todo alcançou, em março, a cifra de R$ 588,72 bilhões, com aumento de 4,5% sobre os R$ 563,16 do fim do ano passado. Esse crescimento foi contínuo nos primeiros meses do ano. Ressalte-se que no conceito de “dívida líquida” já estão deduzidos todos os créditos do governo, inclusive as reservas internacionais.
Setor externo
O setor externo da economia brasileira continua apresentando problemas, limitando o crescimento e expondo as fragilidades do modelo liberal adotado desde o início da década de noventa e potencializado pelo governo FHC. O déficit em transações correntes atingiu US$ 6,68 bilhões no primeiro trimestre de 2001, correspondente a 4,85% do PIB (tabela 7.1). Na média do ano anterior, esse déficit tinha sido de 4,20% do PIB, mostrando um agravamento da dependência dos recursos externos. Só no mês de março, o saldo em transações correntes foi negativo em US$ 2,59 bilhões. As expectativas para o resto do ano, inclusive, não são animadoras. O documento do FMI que relata a sétima revisão do acordo com o Brasil, divulgado em 29/03/01, prevê uma piora nas contas externas do país, com o déficit em transações correntes chegando a US$ 27,0 bilhões até o final do ano.
Ainda de acordo com os números divulgados pelo Banco Central, organizados na tabela 7.1, a balança comercial apresentou um déficit de US$ 279 milhões em março, com exportações de US$ 5,168 milhões e importações de US$ 5,446 milhões. O crescimento significativo das exportações foi acompanhado pelo crescimento das importações. No trimestre, as exportações foram de US$ 13,79 bilhões e as importações, US$ 14,47 bilhões, perfazendo um saldo negativo de US$ 677 milhões. Também aqui, as perspectivas não são nada favoráveis. Segundo a Folha de São Paulo (25/03/01), “o desafio brasileiro de equilibrar suas contas externas encontrou um novo obstáculo: o preço das mercadorias exportadas pelo país está em queda e vai afetar os resultados da balança comercial. Desde o início do ano, o valor dos principais produtos brasileiros encolheu, em média, 6%.” O cenário externo piorou muito por causa da retração das economias americana e japonesa, além da crise na Argentina. Para esses países, além da Europa, se destinam a maior parte das exportações brasileiras.
A conta de serviços e rendas apresentou um déficit de US$ 2,46 bilhões em março, sendo a remessa líquida de juros para o exterior o seu principal componente, que atingiu a cifra de US$ 1,30 bilhão. Observamos um crescimento significativo, em relação aos meses anteriores, tanto da remessa de juros, quanto das outras contas de serviços e rendas. Esse crescimento também foi significativo quando comparado com o mês de março de 2000: aumento de 18,0% na conta de serviços e rendas e de 35,1%, nos juros pagos ao exterior. Entre janeiro e março, a conta de serviços apresentou déficit de US$ 6,4 bilhões, só com o pagamento de juros foram gastos US$ 3,34 bilhões.
No primeiro trimestre de 2001, o Brasil remeteu para o exterior US$ 13,0 bilhões de dólares. Desse total, US$ 6,68 bilhões corresponderam ao déficit em conta corrente e US$ 6,32 bilhões às amortizações de médio e longo prazos. A tabela 7.2 apresenta as fontes desses recursos, isto é, as entradas líquidas de recursos externos no país (com sinal positivo), as aplicações de recursos brasileiros no exterior (com sinal negativo) e a conta de ajuste do balanço de pagamentos, os “ativos de reservas”. Este é o resultado da diferença entre as transações correntes e a conta de capital, mais os erros e omissões.
Em março deste ano, o ingresso líquido de recursos externos – excluímos das fontes a conta de “ativos de reservas” – alcançou a cifra de US$ 4,04 bilhões, uma redução de -12,0% em relação ao mesmo mês do ano anterior. No primeiro trimestre do ano, os ingressos líquidos foram de US$ 14,79 bilhões. Destacam-se, entre esses recursos externos, os investimentos estrangeiros diretos, na forma de participação no capital, e os desembolsos de médio e longo prazo, principalmente os empréstimos tomados na forma de bônus, notes e commercial papers e empréstimos diretos.
Os investimentos estrangeiros diretos ficaram em US$ 2,09 bilhões, em março de 2001, apresentando queda de -7,1% em relação aos valores do mesmo mês do ano anterior (US$ 2,25 bilhões). No primeiro trimestre deste ano, entraram no Brasil US$ 4,73 bilhões como investimentos diretos, tendo como principais países de origem: os EUA, com 28,8% do total, os Países Baixos com 15,6%, as Ilhas Cayman com 11,2%, a Espanha com 8,9%, as Bermudas com 7,1% e a França 6,3%. Desse montante, 84,8% foram destinados ao setor de serviços com destaque para telecomunicações (49,1%) e intermediação financeira (19,0%) – 15,0% para a indústria e, apenas, 0,2% para a agropecuária.
Os desembolsos de médio e longo prazos referem-se aos empréstimos em moeda captados no exterior pelas empresas brasileiras. Comparando março de 2001 com o mesmo mês do ano anterior, observamos uma redução de -12,5% na entrada desses recursos: foram US$ 2,46 bilhões em março deste ano, contra US$ 2,81 bilhões no ano anterior. Essa redução reflete as dificuldades observadas nos mercados internacionais, derivadas da crise argentina, da redução do crescimento da economia americana e da recessão japonesa, acrescidas à própria vulnerabilidade externa apresentada pela economia brasileira.
As reservas internacionais, no mês de março, totalizaram US$ 34,41 bilhões tanto no conceito de caixa, quanto no de liquidez internacional. Observa-se uma redução de, aproximadamente, -US$ 1,00 bilhão nas reservas disponíveis do país, no mês de março. No mês, houve uma perda de -US$ 310 milhões só com as intervenções que o Banco Central foi obrigado a fazer no mercado, com o propósito de segurar a taxa de câmbio. Tal situação deriva, em primeiro lugar, da crise argentina, mas, também, da desaceleração das economias americana e japonesa e, ainda, da própria crise política interna. O que conta, na verdade, é a credibilidade do país junto aos investidores internacionais. À medida que as crises referidas e a própria situação das contas externas do país sinalizam com dificuldades para honrar os compromissos assumidos, há uma retração dos bancos internacionais que se reflete na entrada de recursos externos, insuficientes para fechar as contas e, portanto, na alta do dólar e na queima de reservas.
As limitações observadas nas disponibilidades de financiamento externo apresentam como consequência vantajosa a estabilização da dívida. A dívida externa total manteve-se praticamente no mesmo patamar quando se compara os meses de janeiro (US$ 238,30 bilhões) e fevereiro (US$ 238,23 bilhões). A dívida de médio e longo prazos cresceu apenas 0,9% entre dezembro e fevereiro. O setor privado, em conjunto com os bancos públicos, é o principal devedor, responsável por US$ 117,57 bilhões. O setor público não financeiro estava comprometido com US$ 90,51 bilhões. A dívida de curto prazo manteve-se em torno de US$ 30,0 bilhões, em fevereiro, ela era, em sua quase totalidade (US$ 28,19 bilhões) de responsabilidade do setor privado em conjunto com os bancos públicos.