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Boletim Nº 20 – Julho 2001

Apresentação

O quadro econômico brasileiro apresenta uma situação cada vez mais grave. A crise da economia americana, a continuidade da estagnação da economia japonesa e o agravamento da crise argentina constituem alguns dos fatores externos que aguçam ainda mais os determinantes internos da crise brasileira. Desde o final do ano passado, as forças políticas que sustentam a aliança entre as frações de classe no poder encontram-se cada vez mais divididas. As disputas pela direção política do poder e pelos espaços políticos que permitam viabilizar as candidaturas no próximo ano – não só para Presidente da República, mas também para os governos estaduais e para o Congresso Nacional – acirraram ainda mais as contradições. Parte dessas contradições foi solucionada com a renúncia dos senadores Antônio Carlos Magalhães e Roberto Arruda, acusados de falta de decoro parlamentar pela violação do painel eletrônico de votação e por faltarem com a verdade no Senado. Até o momento, a situação do Presidente do Senado, Jader Barbalho, ainda não foi solucionada. A investigação sobre o desvio de recursos públicos, em benefício próprio, ainda continua. Nesse quadro, o próprio Presidente da República parece ter “jogado a toalha”. Segundo Clóvis Rossi (FSP, 10/07/01), “FHC não tem a menor idéia do que vai fazer com o país que governa, como se não passasse de um observador distante, que apenas constata se choveu ou fez sol”.

O interesse pelo desenvolvimento interno das contradições políticas foi substituído pela crise energética e pela nova crise cambial. A crise de energia é a consequência do programa energético desenvolvido de acordo com o princípio de que o mercado é auto-regulador e propicia sempre um resultado melhor do que o planejamento estatal. Ela não é de responsabilidade da natureza – da falta de chuvas – e nem o resultado do acaso. Segundo César Benjamin, “Foi loucura, mas houve método nela” (Caros Amigos, junho de 2001). Associado à crise energética, os analistas e economistas ortodoxos defendem a idéia de que a intensificação da crise argentina estimulou o processo de desvalorização cambial do real pela deterioração das expectativas e pelo aumento do risco. Segundo a teoria que fundamenta a equipe econômica, a política de câmbio flutuante levaria o “mercado” à uma taxa de câmbio de equilíbrio, pois a racionalidade dos agentes impediria que comprassem divisas a preços muito acima desse preço de equilíbrio. Para tanto, o Banco Central divulgou recentemente o que eles consideram o que seria a taxa real de câmbio. Chamada de paridade de poder de compra (PPC), ela é estimada pela diferença entre a inflação americana e a inflação nacional. Essa taxa seria de R$ 2,218 por dólar. Entretanto, a realidade está mostrando que a crise cambial brasileira não é somente o efeito das contradições externas, mas está profundamente enraizada nas contradições internas, decorrentes da mudança no processo de inserção do Brasil no sistema mundial, após o plano real. Contrariando a teoria que defende, a equipe econômica aumentou mais agressivamente a taxa básica de juros visando arrefecer a desvalorização cambial. Porém, o papel da taxa de juros, após a adoção da política de câmbio flutuante e das metas de inflação, seria o controle do nível geral de preços e não da taxa de câmbio. Paralelamente, foram tentados três diagnósticos diferentes para a crise cambial. O primeiro foi que o aumento do risco decorrente da deterioração econômica da argentina pressionou os agentes a buscarem proteção (hedge) para os compromissos futuros denominados em dólar. Para atender à essa demanda, de forma melhor do que através de moeda corrente, o Banco Central aumentou violentamente a oferta de títulos da dívida pública indexados à variação cambial. Nesse caso, os devedores em dólar não só teriam a garantia de comprar o dólar sem as desvalorizações futuras, como receberiam juros adicionais. A diferença entre a taxa atual de câmbio e a taxa futura, mais os juros, serão pagos, em última instância, pelo Tesouro Nacional, ou seja, pelos impostos que pagamos. O segundo diagnóstico foi que a desvalorização cambial seria decorrente de uma bolha especulativa. Para enfrentá-la, o Presidente do Banco Central anunciou que teria à disposição US$ 10,8 bilhões para oferecer ao sistema financeiro e entrou no mercado vendendo dólar corrente. Em menos de quinze dias vendeu US$ 880,0 milhões sem afetar a tendência de desvalorização cambial. O resultado levou o BC a concluir que não existe nenhuma bolha especulativa. Enfim, constatou que existe realmente falta da moeda estrangeira no mercado e, para não afetar negativamente as expectativas e nem falhar por falta de comunicação, anunciou que tem US$ 6,0 bilhões para vender até o final do ano. Mais ainda, anunciou que venderá exatamente US$ 50,0 milhões por dia. Assim, atenderia a todos que necessitam de dólares até o final do ano (hedge), eliminaria a volatilidade das expectativas quanto à futura oferta de dólares no mercado e estabilizaria a taxa de câmbio e, com sorte, ela poderia voltar ao ponto de equilíbrio. Os primeiros resultados dessa nova postura do BC parecem demonstrar o contrário e a culpa recai novamente sobre a Argentina.

Essa política do BC tem duas consequências importantes. A primeira é o aumento da dívida interna e das despesas com a conta de juros, atual e futura, o que agrava ainda mais as perspectivas quanto à possibilidade de solvência do governo. A segunda reduz rapidamente as reservas internacionais e o Crédito Doméstico Líquido (CDL), limite estabelecido para a emissão de moeda nacional no acordo firmado com o Fundo Monetário Internacional, em 1998. Para recompor as reservas e o CDL, o Brasil terá de recorrer novamente ao FMI estendendo ainda mais o período em que a gestão econômica continuará monitorada pelo Fundo. Segundo o que apresentamos, a política do BC e da equipe econômica do governo confirma e permite generalizar a interpretação de Rossi (FSP, 10/07/01) sobre um ponto da entrevista de FHC ao jornal Valor. “Quer dizer, então, que um órgão da maior relevância como o BC faz ‘besteiras’, e o seu chefe supremo ainda brinca com elas? Pior: estamos todos convidados a não acreditar em nada do que digam organismos públicos, pelo menos enquanto estiverem sob o comando de alguém que acha perigoso acreditar no que dizem”.

Mestrado em Economia - Graduação em Economia | Departamento de Economia | Universidade Federal do Espírito Santo

Grupo de Estudos e Pesquisas em Conjuntura

Coordenadores: Fabrício Augusto de Oliveira e Paulo Nakatani.

Professores Pesquisadores: Maurício de Souza Sabadini e Sebastião José Balarini.

Colaborou neste número: Angela Maria Morandi e Reinaldo A. Caracanholo

Participaram neste número: Aline Faé Stocco, Aline Yukiko Yshii, Ana Letícia Espolador Leitão, Anderson Rubens Fonseca, Andressa Nunes Amorim, Caroline Nunes Lopes Santos, Débora Sader, Elaine Delpupo, Estevão Nicolau R. dos Santos, Everlan Montibeler, Fernanda Martins Mariani, Flávia Miranda Pinheiro Ronconi, Lucas Pena Vetekesky, Oberdan Pandolfi Ermitão, Polyana Baldi Nazário, Priscila Santos de Araújo, Rodrigo Emmanuel S. Borges, Roger Pereira Ferreira, Rômulo Patrick da Silva Santos, Sérgio Manhans Jr, Tyago Ribeiro Hoffmann, Tyeli Tozato Alves, Vanessa Pelissari Azevedo, Vanuza da Silva Pereira.

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