Por Yasmin C. Madureira
O MEMBRO ROMUALDO DA FORMAÇÃO SANTANA
A Chapada do Araripe é uma formação geológica de cerca de 12000km² localizada nos estados do Ceará, Piauí e Pernambuco, com sequências estratigráficas de idades paleozoica e mesozoica (ASSINE, 1992), sendo esta rica em fósseis eocretáceos, que representam grupos de vertebrados como actinopterígios, condrictes, pterossauros, crocodilomorfos, quelônios (BOOS, 2007); invertebrados como copépodes, camarões, gastrópodes, bivalves etc (NETO, 2005; DO PRADO, 2014; PINHEIRO et al. 2014); e plantas tais como gnetales, coníferas etc (DE LIMA et al., 2012).
O Membro Romualdo da Formação Santana é uma das unidades dessa sequência alvo de inúmeras pesquisas, popularidade que se deve principalmente à quantidade e à qualidade dos espécimes encontrados nesse sítio paleontológico, comumente encontrados em concreções calcárias características (SARAIVA, 2007), predominantemente fósseis de actinopterígios que frequentemente exibem preservação dos tecidos moles e da tridimensionalidade corporal (MARTILL, 1990; MAISEY, 1991; MALDANIS, 2016), traços que revelam detalhes acerca desses animais, que viveram há mais de uma centena de milhões de anos.
O Laboratório de Paleontologia da Ufes conta com 25 actinopterígios oriundos do Membro Romualdo, pertencentes às espécies Rhacolepis buccalis, Tharrhias araripis e Vinctifer comptoni.
THARRHIAS ARARIPIS
Fóssil muito comum, com tamanho médio de 30cm, ainda que pudessem alcançar 70cm. Juntamente com Dastilbe, representam os Gonorrhynchiformes no Membro Romualdo. (MAISEY, 1991). Todos os gonorrinquiformes, com exceção de Chanos chanos (milkfish), peixe muito consumido no Sudeste Asiático e nas Ilhas do Pacífico, são extintos (NELSON & GRANDE, 2016). Seus holótipos (molde e contramolde) podem ser encontrados na Coleção Rocha do Museu Rocha em Fortaleza.
O Laboratório de Paleontologia da Ufes possui uma única rocha multifossilífera com três (3) indivíduos de Tharrhias, uma (1) concreção completa – ou seja, o peixe em um nódulo, típico do Membro Romualdo, e quatro (5) indivíduos em espécimes únicos.
Ufes-Pal 017 e Ufes-Pal 125, fragmentos de um mesmo indivíduo tombados individualmente devido a um equívoco.
Ufes-Pal 083, um dos espécimes que formam nódulos. Sua parte complementar é o espécime Ufes-Pal 085.
Ufes-Pal 085, um dos espécimes que formam nódulos. Sua parte complementar é o espécime Ufes-Pal 083.
Ufes-Pal 087.
Ufes-Pal 088. É possível observar três indivíduos nessa rocha multifossilífera.
Ufes-Pal 114.
Ufes-Pal 134.
Ufes-Pal 135.
RHACOLEPIS BUCCALIS
Peixe de corpo fusiforme, cabeça anteriormente pontuda e escamas pequenas e ovoides típicas, que foram muito importantes para a identificação dos espécimes do Laboratório, já que em alguns, esse era o único carácter. Podiam atingir 25cm de comprimento total e representam, juntamente com Notelops brama, os crossognatiformes no Membro Romualdo da Fm. Santana, ordem completamente extinta (NELSON & GRANDE, 2016). Recentemente os primeiros e únicos corações encontrados fossilizados foram estudados em espécimes de Rhacolepis, um avanço para a compreensão da evolução do coração de vertebrados (MALDANIS, 2016). Seu holótipo se encontra no Museu de História Natural de Londres (POLCK et al., 2015).
Existem seis (7) indivíduos identificados como Rhacolepis buccalis no acervo do Laboratório de Paleontologia da Ufes. Em um (1) deles, é possível observar as escamas cloacais modificadas características da espécie (MAISEY, 1991).
Ufes-Pal 009.
Ufes-Pal 013.
Ufes-Pal 016.
Ufes-Pal 078a, peça que compõe nódulo com o espécime Ufes-Pal 078b. É possível observar as escamas cloacais modificadas do indivíduo.
Ufes-Pal 078b, peça que compõe nódulo com o espécime Ufes-Pal 078a. É possível observar as escamas cloacais modificadas do indivíduo.
Ufes-Pal 081, espécime que forma um dos nódulo que foram tombados independentemente. Sua peça complementar é o espécime Ufes-Pal 082.
Pal-Ufes 082.
Ufes-Pal 086. Nódulo fragmentado, complementado pela peça Ufes-Pal 093.
Ufes-Pal 093.
Espécime sem registro.
VINCTIFER COMPTONI
Vinctifer faz parte da ordem Aspidorhynchiformes, a qual possui apenas uma família, Aspidorhynchidae, um grupo extremamente especializado completamente extinto, conhecido do Jurássico Médio ao Cretáceo Superior (CANTALICE et al., 2016).
De morfologia característica, Vinctifer comptoni possui rostro alongado e escamas altas e retas dispostas lateralmente ao corpo, e chegava a 60cm de comprimento. É um dos peixes mais abundantes do Membro Romualdo. Assim como o holótipo de Rhacolepis buccalis, seu lectótipo se encontra no Museu de História Natural de Londres (POLCK et al., 2015).
Estão armazenados no Laboratório de Paleontologia da Ufes oito (8) indivíduos. Em apenas três (3) indivíduos houve a preservação de parte do crânio, o que facilitou muito a sua identificação. Em outros quatro (4), apenas partes do tronco puderam ser observadas, juntamente com suas escamas típicas. Em um (1) espécime, apenas as escamas foram preservadas.
Ufes-Pal 010.
Ufes-Pal 011.
Ufes-Pal 012.
Ufes-Pal 089.
Ufes-Pal 092.
Ufes-Pal 118.
Indivíduo formado pelos fragmentos Ufes-Pal 127, Ufes-Pal 119a e Ufes-Pal 119b.
Fragmento sem registro.
Outro fragmento sem registro, do mesmo indivíduo que o anterior.
ASSINE, Mario L. Análise estratigráfica da bacia do Araripe, Nordeste do Brasil. Revista Brasileira de Geociências, v. 22, n. 3, p. 289-300, 1992.
BOOS, Alessandra Daniele da Silva. Levantamento bibliográfico da paleofauna de vertebrados registrada na Formação Santana (Cretáceo, bacia do Araripe), e comentários acerca do patrimônio fossilífero brasileiro. 2007. 66p. Monografia apresentada no Setor de Ciências Biológicas da UFPR para obtenção do grau de bacharel em Ciências Biológicas.
DE CARVALHO, Marise Sardenberg Salgado; SANTOS, Maria Eugenia C. Marchesini. Histórico das pesquisas paleontológicas na Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil. Anuário do Instituto de Geociências, v. 28, n. 1, p. 15-34, 2005.
DE LIMA, Flaviana Jorge; SARAIVA, Antonio Álamo Feitosa; SAYÃO, Juliana Manso. Revisão da paleoflora das formações Missão Velha, Crato e Romualdo, Bacia do Araripe, nordeste do Brasil. Estudos Geológicos, v. 22, p. 1, 2012.
DO PRADO, Ludmila Alves Cadeira; PEREIRA, Priscila Albuquerque; SALES, Alexandre Magno Feitosa; BARRETO, Alcina Magnólia Franca. ANÁLISE TAFONÔMICA E TAXONÔMICA DA CONCENTRAÇÃO DE INVERTEBRADOS FÓSSEIS DO TOPO DA FORMAÇÃO ROMUALDO, CRETÁCEO INFERIOR DA BACIA DO ARARIPE EM ARARIPE, CEARÁ (CE). Estudos Geológicos, v. 24, n. 1, 2014.
MAISEY, J. G. Santana fossils: an illustrated atlas. Neptune: TFH Publications Incorporated, 1991. 455p.
MALDANIS, Lara et al. Heart fossilization is possible and informs the evolution of cardiac outflow tract in vertebrates. Elife, v. 5, p. e14698, 2016.
MARTILL, David M. Macromolecular resolution of fossilized muscle tissue from an elopomorph fish. Nature, v. 346, n. 6280, p. 171, 1990.
NELSON, Joseph S.; GRANDE, Terry C.; WILSON, Mark VH. Fishes of the World. Nova Jersey: John Wiley & Sons, 2016.
NETO, Rafael Gioia Martins. Estágio atual da paleoartropodologia Brasileira: hexápodes, miriápodes, crustáceos (Isopoda, Decapoda, Eucrustacea e Copepoda) e quelicerados. Arquivos do Museu Nacional, v. 63, n. 3, p. 471-494, 2005.
PINHEIRO, Allysson P.; SARAIVA, Antonio AF; SANTANA, William. Shrimps from the Santana Group (Cretaceous: Albian): new species (Crustacea: Decapoda: Dendrobranchiata) and new record (Crustacea: Decapoda: Caridea). Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 86, n. 2, p. 663-670, 2014.
SARAIVA, A. A. F. et al. Concreções calcárias da Formação Santana, Bacia do Araripe: Uma proposta de classificação. Estudos Geológicos, v. 17, n. 1, p. 40-57, 2007.