–Por Laís Santana–
Pesquisa desenvolvida na Ufes possibilitará diminuir os alagamentos nas ruas da Barra do Jucu
Uma dissertação de mestrado realizada no Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Desenvolvimento Sustentável da Ufes buscou, por meio da adoção de novos conceitos em drenagem, a aplicação de um modelo de pavimento que possibilitará reduzir os alagamentos nas ruas da Barra do Jucu, bairro de Vila Velha. O engenheiro civil Luciano Motta verificou, no estudo, que o uso de blocos de concreto poroso, em substituição aos revestimentos tradicionais de asfalto, contribui para mitigar inundações.
A pavimentação das ruas com asfalto impermeável exige um sistema de escoamento que afaste a água da chuva por meio de obras de canalização, sobrecarregando os córregos receptores. Contudo, essa técnica vem se demonstrando ultrapassada: o aumento da urbanização e da impermeabilização do solo resulta em inundações, como ocorre no município de Vila Velha. “Nesses momentos difíceis para todos, por causa dos alagamentos, reforçamos o conceito de combater a impermeabilização do solo e de utilizar medidas sustentáveis, a exemplo do pavimento permeável”, explica Motta.
O novo pavimento em blocos de concreto poroso é fabricado com maior quantidade de cimento e menos areia, no intuito de aumentar a sua permeabilidade e possibilitar a infiltração da água. De acordo com os estudos sobre o Coeficiente de Escoamento Superficial, o valor esperado de absorção do pavimento permeável é de 60% da água das chuvas. Esse padrão é de 20% no caso dos blocos de concreto convencionais e de 5% no de asfalto. “O bloco de concreto permeável permite mais tempo para levar a água às caixas coletoras e aos ralos. Como resultado, o pico de inundação é atenuado”, afirma o professor de Engenharia Ambiental Daniel Rigo, orientador da pesquisa.
Rigo acrescenta que o novo conceito rompe com o raciocínio de tirar a água das ruas o mais rápido possível. “O pavimento também precisa ter uma função drenante. Essa é a novidade.” A Barra do Jucu será o primeiro caso de pavimento permeável instalado por um órgão público no Espírito Santo. A obra será executada pela Prefeitura Municipal de Vila Velha, que espera que a solução auxilie na redução dos alagamentos que o município enfrenta há décadas.
Valores
Motta conta que, quando o trabalho teve início, percebeu-se que não havia muitos fornecedores desse tipo de bloco no Espírito Santo, já que é pequena a demanda pelo produto. No decorrer das pesquisas, averiguou que o valor da produção do pavimento permeável é aproximadamente 15% superior ao dos blocos tradicionais, devido à retirada de parte da areia do concreto e ao acréscimo de cimento. Mas os benefícios associados ao novo material compensam o custo da obra, como a retenção das águas de chuva, a recarga do lençol freático, a filtragem de poluentes e a diminuição das chamadas “ilhas de calor”. A redução de gastos se dá na parte de tubulações da rede de drenagem, o que deixa o valor total equivalente àquele das técnicas comuns.
“Em condições normais, precisaríamos coletar a água das chuvas e levá-la para uma tubulação em declive para depois lançá-la no canal receptor. Se parte da água é infiltrada, o escoamento superficial é reduzido e, portanto, o diâmetro das tubulações será menor. Com uma vazão menor, a declividade pode ser menor também”, aponta Daniel Rigo.
No primeiro momento das obras de pavimentação com o novo bloco de concreto, serão calçadas dez ruas da Barra do Jucu: Albatroz, Guignard, Toulouse-Lautrec, Paul Cézanne, Van Gogh, Édouard Manet, Humberto Lodi, Auguste Renoir, Odilon Redon e Rua da Sereia, e ainda a Av. Anderssen Fidalgo. No total, 27 ruas e avenidas do bairro receberão o novo pavimento
poroso.
Aplicação
A base do pavimento é considerada fundamental para o funcionamento da função drenante. “A estrutura que vem abaixo do pavimento deve funcionar como reservatório e permitir que a camada superficial transmita a água para o solo. Ela também deve ser porosa, feita com materiais como brita ou areia”, diz o professor Rigo. “Sem a camada debaixo devidamente preparada, o pavimento não poderá ser considerado permeável”, acrescenta.
Ele também explica que o pavimento poroso tem uma resistência mecânica menor que os convencionais. Por isso, o bloco de concreto permeável não pode ser utilizado em áreas de tráfego pesado, como avenidas e rodovias. “Esse tipo de bloco tem um local específico de aplicação, não é uma solução generalizada. Por sorte, as vias de tráfego intenso são minoria no Brasil, a maior quantidade são ruas de bairros. O novo pavimento também pode ser colocado em calçadas e ciclovias, já que são submetidas a tráfego leve comparadas a avenidas e rodovias”, afirma.
Exemplos internacionais
Diversas cidades no mundo que sofrem com fortes volumes de chuvas e enchentes já se adaptaram e investiram em mecanismos para controlar inundações em áreas urbanas. Na China, as chamadas cidades- esponja substituem superfícies de asfalto ou concreto por pavimentos que absorvem águas de chuvas ou rios alagados.
A infiltração das águas pluviais imita o ciclo hidrológico natural e pretende substituir o escoamento superficial do ciclo hidrológico urbano. É o caso de Hong Kong e Berlim, além de outras regiões dos Estados Unidos, do Japão, da França, da Austrália e do Reino Unido, que se adequaram à técnica da permeabilização para resistirem às mudanças climáticas.
No Brasil, a primeira medida foi uma certificação da Prefeitura do Rio de Janeiro criada em 2012 para incentivar empresas a utilizarem pavimentos permeáveis. Em 2013, São Paulo realizou uma especificação técnica sobre uso, aplicação e produção do asfalto poroso. Em agosto de 2015, a Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT) publicou a norma NBR 16416/2015, contendo requisitos e procedimentos sobre pavimentos permeáveis de concreto, elaborada pelo Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados.
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