– Por Sueli de Freitas –
Um dos detalhamentos do estudo aponta que 25,3% dos adolescentes apresentaram grau de dependência grave ou moderada do uso da internet
Uma pesquisa realizada pelo Laboratório de Projetos em Saúde Coletiva (Laprosc) da Ufes reuniu uma das mais completas bases de dados sobre fatores de risco a que estão expostos jovens entre 15 e 19 anos da Grande Vitória na atualidade.
Os dados estão sendo tratados por alunos do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC), ao qual o Laprosc é vinculado, em trabalhos de mestrado e doutorado que permitem pensar propostas para cuidar dessa população jovem.
“Existe uma lacuna na literatura científica sobre essa faixa etária, considerada adolescência tardia pela Organização Mundial da Saúde. Nesse estudo, foram abordados vários aspectos, com foco nos fatores de risco”, explica o coordenador da pesquisa, Edson Theodoro dos Santos Neto.
Entre os temas abordados, estão ansiedade, depressão, bullying, aspectos sociodemográficos, prática de atividades físicas, comportamento sexual de risco, qualidade do sono, saúde bucal, autoestima, dependência da internet e acesso às redes sociais, álcool e drogas, violência e acidentes, alimentação, histórico de adversidade na infância e capital social.
O questionário, com 384 perguntas, foi aplicado a 2.293 jovens de 54 escolas de ensino médio dos municípios de Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica, Viana, Guarapari e Fundão, entre os anos de 2016 e 2017. Os pesquisadores levaram até as escolas – 43 da rede pública estadual e 11 da rede privada – um total de 60 computadores portáteis para que os alunos respondessem à pesquisa presencialmente e durante o período de aulas. Assim, foi construída a base de dados disponível para análise em diversas pesquisas.
Dependência
O pesquisador George Bueno está estudando a dependência da internet e de redes sociais a partir desses dados, com foco no uso excessivo da internet para atividades que não sejam estudo ou trabalho e o consequente adoecimento dos jovens. Alguns dos dados já tratados pelo pesquisador revelam que o problema é grave.
Do universo de 2.293 pesquisados, 25,3% apresentaram grau de dependência grave ou moderada. Os critérios são baseados no Internet Addiction Test – IAT (teste de dependência de internet), uma ferramenta utilizada internacionalmente para identificar vício em internet. As 20 perguntas do teste integraram o questionário geral da pesquisa com os adolescentes de Vitória. Por meio das perguntas do IAT, foi possível identificar o grau da dependência.
“O perfil desses dependentes de internet são os mais novos, entre 15 e 16 anos, estudantes do primeiro ano do ensino médio. Observamos que os filhos de chefes de família menos escolarizados têm maior risco de serem dependentes. Nossa hipótese é que pais mais escolarizados prestam mais atenção no uso excessivo da internet pelos filhos, enxergando isso como um problema”, avalia Bueno.
Segundo o pesquisador, o acesso diário está associado à dependência. “Se o adolescente fica conectado de quatro a seis horas por dia, ele dobra as chances de se tornar dependente. Se o tempo de uso for superior a seis horas, as chances quintuplicam”, afirma. Ele alerta que os dependentes de internet têm 80% mais chances de desenvolver ansiedade e depressão.
“Quando a pessoa deixa de lado o contato afetivo do namorado ou da namorada, a companhia dos pais, de um amigo; deixa de ir ao cinema e de praticar esportes para ficar sempre em rede social ou jogar, é preciso ficar alerta”, afirma Santos Neto, que orienta Bueno em sua pesquisa. “É o abandono da vida real para viver o mundo virtual que caracteriza a dependência da internet”, afirma o professor.
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