Projeto usa cartas para integrar indígenas em época de coronavírus

Projeto da Ufes promove interação com povos indígenas para evitar isolamento das aldeias em tempo de pandemia
Ao atender a demanda do edital para Projetos de Extensão em Época de COVID, a professora Fernanda Camargo montou o projeto em conjunto com a UFSB para evitar o isolamento dos indígenas e mostrar a resistência deles. Imagem: Pixabay
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– Por Mikaella Mozer –

Com o objetivo de propagar a cultura, manter a integração dos povos indígenas diante da realidade do novo coronavírus e dar visibilidade às experiências de resistência em época de pandemia, a professora de Pós-Graduação em Educação e coordenadora do Grupo de Pesquisa Imagens, Tecnologias e Infância (GPITI) da Ufes, Fernanda Camargo, em parceria com a professora da Universidade Federal do Sul da Bahia e coordenadora do Núcleo de Pesquisa Ensino e Extensão em Experiência do Sensível (NUPEEES), Marina Rodrigues Miranda, criaram a iniciativa Cartas dos(as) guardiões(ãs) da Terra e do Céu: experiência de escritas originárias das crianças indígenas para o mundo.

Nela, as crianças das aldeias Comboios, em Aracruz, e Pé do Monte, no sul da Bahia, recebem, por meio das professoras moradoras do povoado, cartas enviadas pelo site do Projeto Tupiabá, uma rede de cooperação entre instituições que tem a proposta de dar maior visibilidade a grupos indígenas. Após 15 dias, as coordenadoras recolhem as cartas escritas pelas crianças como resposta.

Fernanda Camargo conta que o projeto Tupiabá(link is external) foi lançado em 19 de abril, data em que se celebra o Dia do Índio, atendendo a demanda do edital Projetos em Tempos de COVID: “Apesar de ter sido lançado recentemente, eu e a professora Marina já desenvolvemos trabalhos e pesquisas nessa área. Com isso surgiu o Tupiabá”.

Ela explica que a metodologia proposta possibilita a autonomia das crianças, por ser esse o foco nas pesquisas tanto do GPITI quanto do NUPEEES. “Nós as compreendemos como autoras, autônomas em suas falas e ações. As atividades propostas foram organizadas de modo a elas serem visibilizadas como sujeitos de uma comunidade de resistência”, afirma. Para a professora, ao trazer para o site as mensagens, respostas e imagens, entre outras ações, provoca-se na sociedade não indígena um outro olhar sobre essa cultura e um novo olhar sobre o modo de se relacionar com a terra, lugar de vida e morte.

Ela destaca que o projeto também foi uma forma de diminuir a diferença social entre indígenas e não indígenas em tempos de COVID-19, já que o ensino a distância não atende a demandas das escolas localizadas nas aldeias. As cartas das crianças serão publicadas em uma coletânea entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021.

Outros projetos

Essa iniciativa ainda trabalha com outros nove projetos. Os trabalhos visam envolver pessoas de fora do meio acadêmico ao qualificar os programas, advindos de pesquisas universitárias, para uma lógica de participação ativa. “Inicialmente, o Tupiabá foi pensado para atender a crianças de aldeias em tempos de isolamento, porém a proposta ganhou um envolvimento social, e hoje temos parcerias firmadas com algumas secretarias municipais e ampliamos os sujeitos para comunidades quilombolas, pomeranas e povos campesinos”, conclui Fernanda Camargo.

Um deles é o A vida na tela: narrativas impressas, em que acontecem rodas de conversas com estudantes negros em escolas da Serra sobre suas relações no âmbito escolar e social. Após os diálogos, os alunos são incentivados a publicar suas histórias de vida em telas.

“Caminho por este lugar, acreditando na potência da educação dialógica, apresentando aos estudantes os possíveis caminhos de produção de novos saberes e fazeres ao valorizar suas aspirações e talentos” conta a idealizadora do A vida na tela e pós-graduanda no Mestrado Profissional em Educação na Ufes Márcia Beloti.

Edição: Thereza Marinho

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