– Por Mikaella Mozer –
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados em 2019 mostram que a população idosa irá dobrar até 2060. A estimativa é que chegue a 58,2 milhões, o equivalente a 25% da população, e ultrapassem, assim, a quantidade de jovens. A expectativa de vida deverá chegar aos 85,5 anos.
O processo de envelhecimento determina variadas mudanças físicas e funcionais. Uma delas é a redução no controle do equilíbrio da postura, o que constitui um fator de risco de quedas em idosos. Com base nisso, pesquisadores do Programa de Pós Graduação em Educação Física da Ufes estudaram a influência da realização de atividades físicas no desempenho da potência muscular, na força, na resistência e no desempenho do equilíbrio de pessoas idosas.
Força muscular e postura
Em seu mestrado, Leonardo Vieira relacionou a ligação da força muscular com a postura, comparando idosos ativos e sedentários. O estudo foi orientado pela professora Natalia Rinaldi, que é coordenadora do Laboratório de Análise de Biomecânica do Movimento da Universidade.
O aumento progressivo da expectativa de vida, do envelhecimento da população e diminuição da prática de atividade física com o avançar da idade foram os fatores que motivaram a pesquisa. “Nesse cenário, a atividade física se destaca por contribuir para a promoção da saúde, melhoria da qualidade de vida e prevenção de doenças crônicas e agravos não transmissíveis”, ressalta Vieira.
Foram avaliados 61 idosos com idades entre 60 e 74 anos, com condições físicas semelhantes. Os participantes foram recrutados no Serviço de Orientação ao Exercício (SOE) e nas Unidades de Saúde da Prefeitura de Vitória. Foram analisadas as dimensões corpóreas, as características cognitivas, o nível de atividade física praticada e a sensibilidade cutânea plantar.
Os testes foram realizados no Laboratório de Força e Condicionamento Físico do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Ciências do Movimento Corporal (Nupem) do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD)/Ufes e a avaliação foi dividida em dois momentos. O primeiro analisou os músculos inferiores e o equilíbrio da postura em testes computadorizados por meio do aparelho plataforma de força. O estudo envolveu a realização de oito tarefas distintas com variações no tipo de base, superfície e perturbação sensorial (ações para impactar o equilíbrio).
No segundo momento, foi avaliada a ligação entre o uso do quadril, do joelho e do tornozelo no controle do equilíbrio. O exame para esse fim, denominado dinamometria isocinética, avalia a potência muscular, a fadiga e a capacidade de as musculaturas do corpo humano produzirem energia, bem como a rapidez com que ela é gerada.
Os testes mostraram que os idosos praticantes de exercícios alcançam melhores resultados e mais qualidade de vida em comparação com os que não praticam, incluindo aspectos como participação social, autonomia e independência. O resultado também demonstra que programas públicos de promoção da atividade física, como o SOE, podem contribuir para a prevenção de quedas. Os integrantes desse grupo apresentaram mais força nos músculos inferiores.
Em relação ao controle da postura, foi comprovado que ele está associado ao quadril, ao joelho e ao tornozelo. Segundo Vieira, essa ligação aumenta de acordo com o nível de dificuldade das tarefas realizadas. Nas mais complexas, depende-se mais dos músculos dos membros inferiores para se manter o controle do equilíbrio, com destaque para os do quadril. “Esses dados demonstram a importância de serem incluídos exercícios para o fortalecimento muscular dos membros inferiores, principalmente os do quadril, para a população idosa”, aponta o pesquisador.
O estudo também contribuiu para esclarecer sobre o uso dos músculos em variados exercícios, em diversos níveis de complexidade, e a sua influência na postura. Segundo Vieira, essa abordagem é uma novidade, uma vez que as pesquisas anteriores se limitavam a avaliar a função do músculo em relação a uma única articulação. Além disso, o estudo mostrou a importância das atividades multicomponentes, ou seja, realizadas em grupo, por possibilitar o funcionamento do corpo, da mente e do convívio social, contribuindo, assim, para a qualidade de vida.
Idosos atletas e fisicamente ativos
Outra pesquisa de mestrado, realizada por Henrique Taveira, analisou se existe diferença na força muscular e no controle postural entre idosos fisicamente ativos e os que são atletas. Também realizada no Nupem/CEFD/Ufes, teve a orientação do professor Rodrigo Vancini. O objetivo do pesquisador era mostrar como a atividade física a longo prazo afeta o corpo na fase acima de 60 anos.
“Percebi que há poucas pesquisas que comparam atletas e outros não sedentários. Estudos como este podem ajudar a identificar se diferentes características de atividades físicas, como intensidade de treino, tipo de estímulo, características biomecânicas e fisiológicas, bem como o nível – competitivo ou recreacional – podem trazer benefícios ao participante, atenuando os declínios funcionais comuns ao processo de envelhecimento”, explica Taveira.
De início, foi feita uma triagem que analisou a função cognitiva, as medidas de diversas partes do corpo, o histórico geral de saúde, o nível de atividade física e a sensibilidade da planta dos pés. A partir dessa verificação, os participantes foram divididos em dois grupos, os de atletas máster (GAM) e os fisicamente ativos (GCOM), cada um com 15 pessoas.
Na análise, Taveira utilizou o exame posturografia computadorizada, em que os participantes são colocados sobre uma plataforma de força em diferentes posturas estáticas, variando a posição dos pés e estando de olhos abertos e fechados para impor níveis de dificuldade. O equipamento indicou variações nos centros de pressão que os pés aplicam no tablado e a velocidade dessa oscilação. Esses aspectos, segundo o pesquisador, têm relação direta com o controle da postura de cada indivíduo e de sua percepção sobre o direcionamento da força.
Também foi aplicada a dinamometria computadorizada, que consiste em analisar a energia, a rapidez e o pico rotacional gerado pela musculatura. Em uma cadeira acessória, que possibilita movimentar apenas o tronco, os participantes fizeram esforços para frente e para trás repetidas vezes. De posse dos dados, o pesquisador determinou a velocidade ideal e o grau de rotação de cada pessoa para obter um resultado mais eficiente.
A análise dos testes mostrou que entre os dois grupos há uma diferença em relação ao funcionamento da musculatura. O grupo de atletas (GAM) demonstrou uma força muscular maior em relação àqueles que apenas praticam atividades físicas cotidianas. O GAM apresentou capacidade superior de tensão do músculo em 21,7% durante a extensão de tronco a 60 graus e em 30,7% para a extensão a 180 graus. Já em relação à postura, os resultados não mostraram nenhum tipo de vantagem ou diferença entre os dois grupos.
Edição: Lidia Neves
Boa tarde. Como poderia ter acesso ao trabalho do Leonardo Vieira?
Olá! procure o Laboratório de Biomecânica do Movimento! https://biomov.ufes.br/
Abs