– Por Mikaella Mozer *–
Analisar as fontes alimentares e habitats preferenciais de algumas espécies do inseto da tribo Rhodniini, popularmente conhecido como barbeiro, que transmite a doença de Chagas, e verificar se mudanças nesses fatores influenciam na migração do animal silvestre para as cidades foram os objetivos da pesquisa de mestrado de Matheus Dalbem, com orientação do professor Gustavo Leite, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas – Biologia Animal (PPGBAN) da Ufes. O resultado da dissertação pode referenciar ações para evitar o deslocamento do animal silvestre para o meio urbano, prevenindo, assim, o aumento do número de casos da doença de Chagas.
Os barbeiros vivem tanto em meios urbanos – chamados, neste caso, de animais sinantrópicos –, quanto em ambientes silvestres. Esses insetos hospedam e transmitem o Tripanosoma cruzi, protozoário causador da doença de Chagas, sendo os sinantrópicos os mais importantes no ciclo de contaminação por estarem mais perto dos humanos. Com os programas de vigilância e controle de animais causadores de doenças vetoriais do Ministério da Saúde, no entanto, a disseminação do protozoário foi controlada. O receio, agora, são os animais silvestres, que podem migrar para as cidades. “Ao conhecer suas práticas, é possível direcionar ações de preservação do habitat da espécie para evitar um deslocamento e a sua presença não se tornar relevante no ciclo da doença de Chagas”, explica o professor Leite.
Resultados
Os resultados das análises confirmaram que o gênero Rhodnius, da tribo Rhodniini, tem diversidade de comportamento em relação a alimentação e habitat, com algumas observações importantes sob o ponto de vista do planejamento de ações para manter os insetos silvestres longe das cidades. A espécie Rhodinius domesticus, por exemplo, faz seus ninhos na moradia dos gambás. Daí a necessidade de monitoramento de outros animais com os quais o barbeiro se relaciona.
Outro exemplo é a espécie Rhodinius brethesi, que se aloja na palmeira piaçava, muito utilizada na indústria. Leite aponta que se essa árvore deixar de existir, os barbeiros perderão seu habitat e poderão migrar para o meio urbano, podendo ocasionar aumento de casos da doença de Chagas. “A manutenção desse habitat é de extrema importância. Se isso não for feito, mais casos da doença podem aparecer”, conclui.
Passo a passo
O primeiro passo na pesquisa foi catalogar as espécies com base na literatura científica, registrando os dados de habitat já existentes. Também foram pesquisados locais de ocorrência do animal e plantas consumidas pelos barbeiros. A catalogação mostrou maior presença do inseto na região neotropical, que abrange a parte sul da América do Norte, a América Central e a América do Sul.
Com essas informações, foram construídos modelos de adequabilidade climática para a região neotropical, nos quais foram alocados os barbeiros da tribo Rhodniinis com o fim de descobrir o local de maior probabilidade de presença das espécies modeladas.
As ambientações foram feitas com o Software Maxent 3.3.3k. “Esse programa combinou os pontos de ocorrência do barbeiro da espécie-alvo com as variáveis ambientais da região neotropical: temperatura, precipitação e umidade”, explica Dalbem. Segundo o pesquisador, para cada espécie de barbeiro da tribo Rhodniinis foram construídas dez réplicas diferentes de possíveis ambientes e meios alimentares e dez de habitats de maior incidência encontrados no processo de catalogação. Também foram construídos modelos de adequabilidade climática das possíveis fontes alimentares e de habitats originalmente encontrados ao fazer o catálogo.
“Utilizamos a média aritmética dos valores adquiridos como um dos fatores para identificar quais ambientes possuíam mais chance de adequabilidade climática para as espécies de barbeiro”, conta Dalbem. Além disso, os pesquisadores utilizaram uma curva matemática, ROC-AUC, para determinar se os mapas de adequabilidade climática realmente faziam sentido biológico. Assim, obtiveram as fontes alimentares e formas de habitat de preferência dos barbeiros.
Edição: Sueli de Freitas
*Bolsista de Jornalismo
Eles podem morar nas maderas, portas das casas?
Segundo a Biblioteca do Ministério da Saúde, eles podem morar em frestas ou em pilhas de madeira ou de palha: https://bvsms.saude.gov.br/doenca-de-chagas-10/