Mundo pode demorar 67 anos para alcançar a igualdade de gênero na mídia noticiosa

Mulheres ainda são a minoria das entrevistadas em programas jornalísticos. Foto: Reprodução/TV Brasil/EBC
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– Por Sueli de Freitas –

Vinte e cinco anos após a 4ª Conferência Internacional de Mulheres, realizada em 1995, na cidade de Pequim, na China, as desigualdades de gênero continuam sendo realidade na mídia brasileira e mundial, com poucos avanços para as mulheres. Esse é o resultado do monitoramento do Global Media Monitoring Project (GMMP), o maior estudo sobre a representação feminina na mídia, realizado em 2020.

Os resultados detalhados do monitoramento no Brasil serão apresentados nesta quinta-feira, 30, no seminário on-line Observações, que será transmitido a partir das 17 horas no canal no YouTube do Observatório da Mídia, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Territorialidades da Ufes. A coordenadora do GMMP no Brasil, Elizângela Carvalho, mestre em Estudos de Linguagem pela Universidade Federal do Piauí e estudante de doutorado em Ciências da Comunicação na Universidade de Coimbra, fará a apresentação dos resultados. A mediação será da professora do Departamento de Comunicação da Ufes Patrícia D’Abreu, uma das coordenadoras do monitoramento no Brasil.

Assista à apresentação:

O GMMP é resultado de um compromisso assumido por países presentes à Conferência de Pequim em busca da equidade de gênero no planeta. É coordenado pela World Association for Christian Communication (WACC), uma ONG global que promove os direitos de comunicação para a justiça social.

Números

A sexta edição do estudo levantou dados em 116 países. Segundo as pesquisadoras, “caso a presença das mulheres, tanto na produção noticiosa quanto nas representações midiáticas, permaneça no ritmo atual, serão necessários 67 anos para fechar a lacuna de igualdade de gênero na mídia noticiosa em todo o mundo”. 

Para monitorar os veículos de imprensa no Brasil, foram formados 14 grupos que analisaram como as mulheres apareceram no noticiário no dia 29 de setembro de 2020 – data definida para a pesquisa aleatoriamente –, seja como produtoras, sujeito ou fontes das notícias. O trabalho contou com o apoio de 88 voluntárias e voluntários que monitoraram e analisaram notícias veiculadas em 23 veículos, entre jornais, rádios, telejornais, portais de internet e perfis noticiosos no Twitter.

Os dados do GMMP no Brasil mostram que, das 371 notícias codificadas, 245 estavam relacionadas à covid-19, ou seja, 66% dos conteúdos. Apenas 25% dos especialistas ouvidos eram mulheres. Os homens ficaram entre 69% (Twitter) e 74% (rádio) das fontes, que são as pessoas entrevistadas nas matérias jornalísticas. Já as mulheres, quando ouvidas, apareceram mais vezes (59%) falando da sua “experiência pessoal”.

Em apenas 24% das histórias em que apareceram, as mulheres ocuparam um lugar central na notícia; 22% das mulheres foram identificadas por suas ligações familiares (mãe, esposa, irmã) nas notícias e apenas 8% dos homens eram identificados dessa maneira. “Em outra variável, notamos que mais mulheres do que homens foram identificadas como vítimas, com destaque para os crimes de violência doméstica, violações sexuais/estupros, assassinato”, afirmam os pesquisadores.

Em relação à profissão de jornalista, apesar de um certo equilíbrio numérico entre mulheres e homens atuando na produção de notícias, as mulheres ainda são representadas de maneira desproporcional na mídia brasileira.

“O cenário mostra que nós, mulheres, apesar de sermos metade dos profissionais de jornalismo, somos minoria como sujeito das matérias e um quarto das fontes especializadas. Quando fazemos um recorte de mulheres negras e indígenas, os números são assustadoramente menores”, afirma a professora do Departamento de Comunicação da Ufes Patrícia D’Abreu, que coordenou o monitoramento no Jornal Nacional no GMMP 2020.

Na avaliação da pesquisadora, em 25 anos de monitoramento, houve pouca mudança no que diz respeito aos estereótipos. “As mulheres ainda aparecem nos estereótipos de gênero, como mãe, esposas, e em menor número como especialistas”, afirma. D’Abreu lembra que temos um mundo marcado pelo machismo e patriarcado, por isso os resultados da pesquisa no Brasil dialogam com aqueles de outros países, em que pesem as variações na narrativa das notícias decorrentes das diferenças culturais de cada local.

Texto: Sueli de Freitas
Edição: Thereza Marinho

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