– Por Lidia Neves e Sueli de Freitas –
A divulgação da produção científica das universidades foi debatida em duas mesas-redondas na Semana do Conhecimento da Ufes, evento on-line realizado de 29 de novembro a 3 de dezembro. Numa delas, foram compartilhadas as experiências de educação científica em escolas, territórios quilombolas e comunidades indígenas da Bahia e do Rio Grande do Sul. Na outra, foram tratados os desafios da Ufes para a comunicação pública da ciência e a promoção da cultura científica.
Com mediação da professora do Departamento de Ciências Biológicas da Ufes Viviana Borges, os convidados a falar na mesa-redonda Como tornar a ciência atraente para crianças e jovens foram a editora-chefe da Revista Jovens Cientistas e professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Rejane Lira, e o astrofísico e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGS) Alan Brito.
Na Bahia, o Programa Social de Educação, Vocação e Divulgação Científica, desenvolvido na disciplina Atividade Curricular em Comunidade e Sociedade (ACCS), surgiu como proposta inovadora para trazer a extensão ao currículo da Universidade Federal. “A ACCS – aberta a todos os cursos da Universidade – consiste em um conjunto de projetos na área de ensino de ciência, formação de professores e divulgação científica voltados a um objetivo comum: a cultura científica”, afirma Rejane Lira.
Segundo ela, o programa começou levando ciência para escolas públicas. Em um segundo momento, foi ampliado para territórios quilombolas. Na sua avaliação, a consolidação da divulgação científica no Brasil tem se mostrado um grande desafio. “A divulgação científica perpassa a tomada de decisões. Não estamos falando só de química, física e biologia, estamos falando de todas as ciências”, afirmou.
Além da Revista Jovens Cientistas, da qual a professora é editora-chefe, os estudantes das escolas públicas produzem outros materiais a partir dos conhecimentos adquiridos, como jornais, documentários em vídeo, web rádio, entre outros. “Os estudantes são protagonistas da própria história”, afirma a professora. E não é apenas a universidade que vai à comunidade. Anualmente, a UFBA realiza o Encontro dos Jovens Cientistas com premiação de trabalhos. Outro braço do programa são as pesquisas na Universidade sobre esse projeto de extensão, com produção de artigos sobre educomunicação e educação científica.
Experiência gaúcha
No Rio Grande do Sul, o professor Alan Brito trabalha projetos de divulgação científica nas escolas pensando na indissociabilidade dos pilares ensino, pesquisa e extensão. Os projetos chegam também às comunidades quilombolas e indígenas. “Não é uma relação verticalizada, mas uma troca”, afirma.
Segundo o professor, “a astronomia é uma potência de indagação científica, não apenas para crianças, mas entre adultos”. O trabalho tem foco nos estudantes e na formação continuada dos professores. Dentro da Universidade, os dois espaços mais utilizados pelos projetos são o observatório astronômico e o planetário, que recebe de 40 a 60 mil visitantes por ano.
São vários os projetos desenvolvidos na Universidade, todos articulando reflexões sobre as relações ético-raciais. Dentre os citados, estão o Akotirene Kilombo Ciência; Projeto Orumbya – Jornada Internacional de Culturas Afro, Indígenas e a Astronomia; e o Projeto Zumbi Dandara dos Palmares, que prevê pesquisa e ação colaborativa com atividades que os professores estão desenvolvendo nas escolas.
O objetivo do professor é trabalhar a divulgação científica numa perspectiva antirracista, dando outra cara para “essa ciência que desumanizou os corpos negros”, afirmou ele. Para Brito, é preciso que o estudante negro também se veja como um futuro biólogo, físico ou outro profissional da ciência.
Desafios
Na mesa-redonda sobre os desafios da divulgação científica para a Ufes, a jornalista e doutora em educação Mariana Pezzo, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), contou sobre a trajetória daquela universidade em comunicação pública da ciência, que culminou na criação do Instituto da Cultura Científica, do qual agora ela é diretora. Pezzo abordou a importância de se promover a cultura científica, não só para divulgar as pesquisas, mas para a própria transformação da ciência. “Há um papel fundamental das universidades em promover essa cultura científica, com respeito ao público, em todas as áreas do conhecimento, desde a iniciação científica até a pesquisa consolidada”, afirmou.
O diretor de Pesquisa da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Ufes (PRPPG), Fábio Partelli, destacou que “a pesquisa tem de ser escrita, mas também lida e utilizada e cabe a cada pesquisador difundir essas atividades”, apresentando diversas formas de divulgar os trabalhos em todos os níveis de pesquisa, envolvendo a comunicação e também o diálogo direto com a sociedade.
Para uma maior aproximação das instituições de pesquisa e a sociedade, o diretor de Interlocução com a Sociedade da Pró-Reitoria de Extensão (Proex), Marcos Teixeira, propôs uma “ciência subversiva, que interaja com a sociedade de forma mais dialógica, com mais troca e os saberes populares também influenciando a universidade”. Ele ressaltou que, dos 850 projetos e ações de extensão da Ufes, 86 tratam de divulgação, difusão ou popularização da ciência, a maioria deles com um viés na área da educação.
No que diz respeito à comunicação pública da ciência na Ufes, a superintendente de Comunicação, Ruth Reis, apresentou as ações recentes da Universidade nesse sentido, intensificadas nos últimos dez anos, período que coincide com a ampliação da atuação na área de pesquisa. Ela apresentou as ações de comunicação integrada que buscam “mostrar a riqueza imensa desta Universidade, do conhecimento de diversas áreas”, e dar espaço para tratar de ciência na web, redes sociais, rádio, TV e assessoria de imprensa, e destacou desafios da divulgação da ciência. “Precisamos furar bolhas e consolidar a cultura da divulgação científica nas instituições, junto aos pesquisadores”, afirmou.
Os debatedores concordaram com a necessidade de maior integração entre as áreas da Universidade, e entre as várias universidades, para fortalecer a divulgação da ciência e combater a desinformação na sociedade.
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