– Por Noélia Lopes* –
Depois de quatro anos de estudos, uma nova espécie de inseto, denominada Thraulodes alegre, foi encontrada na região da Cachoeira da Fumaça, que fica no município de Alegre, sul do Espírito Santo, pela bióloga capixaba Thayna Raymundo e sua equipe. O nome da espécie é uma homenagem à cidade onde foi descoberta e o artigo com os resultados da pesquisa está publicado na revista científica internacional Zootaxa.
Segundo a bióloga, a pesquisa nasceu a partir do estudo da revisão do gênero Thraulodes para o Espírito Santo, proposto por Frederico Falcão Salles, então professor da Ufes e orientador de Thayna Raymundo. “O material da nova espécie foi coletado pela pesquisadora Jeane Nascimento, mas, para fazer a revisão, eu peguei todo o material coletado desde de 2011, que estava depositado na Ufes, e comecei a analisá-lo. Com os resultados, encontramos quatro espécies desse gênero para o estado e, como não conseguimos identificar uma delas, percebemos que se tratava de uma nova espécie”.
Com os resultados das pesquisas, no ano de 2018, a equipe iniciou o trabalho de descrição da espécie. A partir da leitura de artigos e trabalhos científicos e da análise detalhada das chamadas “chaves taxonômicas” – um material com o resumo das espécies já conhecidas de um gênero específico para o Brasil -, foi possível comprovar a existência da espécie Thraulodes alegre.
“A descrição envolve analisar estruturas específicas, olhar para outras espécies e ver o que há de comum e diferente em relação a elas. Então, é preciso estudar bem a parte morfológica para entender o que se destaca”, afirmou Thayna Raymundo.
Por ser o gênero Thraulodes um dos mais ricos em espécies no mundo, a bióloga Taís Almeida, co-orientadora de Thayna na graduação, destaca como foi importante a dedicação e o envolvimento de todos os pesquisadores. “O trabalho em equipe conta demais, tudo precisa ser preparado de forma minuciosa, para que o leitor tenha todos os detalhes diagnósticos da espécie. Isso envolve preparação de lâminas da genitália, das asas, fotos em todas as posições do bicho, desenhos e uma descrição escrita muito bem feita. Para isso, tínhamos do nosso lado pesquisadores de referência na área, como o professor Frederico Salles e a pesquisadora Jeane Nascimento”.
Thayna também ressalta que o espaço que teve para trabalhar estava preparado com os materiais essenciais. “O laboratório estava bem equipado, então conseguimos desenvolver um trabalho legal, utilizando lupas, microscópio, computador, câmeras e pinças entomológicas para conseguir ver as estruturas com clareza, principalmente as pequenas estruturas com muitos detalhes, como as genitálias. Sem isso, não teríamos alcançado os resultados”.
Características
A espécie, que faz parte da ordem Ephemeroptera (indivíduos que podem viver de poucas horas até algumas semanas, na fase adulta), possui apenas oito milímetros de tamanho e algumas características particulares, como o final do abdômen esbranquiçado e parcialmente translúcido; lateral final do corpo com manchinhas na cor marrom escuras e formato retangular; asa transparente com coloração amarela esbranquiçada; e três veias basais cruzadas em uma região específica da asa.
Atualmente, somente sua fase adulta é conhecida e, embora seja confundido com um mosquito comum, de acordo com Thayna Raymundo, é um inseto que não representa nenhum dano aos seres humanos. Ele vive em ambientes de água doce com presença de correnteza, podendo servir até como bioindicador da qualidade da água, além de serem alimento para aves, morcegos e sapos.
Quanto aos desafios, a bióloga Taís acredita que o maior deles seja o de expandir o conhecimento sobre a diversidade biológica. “É preciso mostrar para o público em geral, não só dentro da universidade, a importância do nosso trabalho! Nós, biólogos, estamos sempre voltados em prol da conservação das espécies. Espero que cada vez mais divulgações dos nossos trabalhos cheguem aos jornais, às pessoas em casa, no Instagram, e também na universidade, claro, para que eles sejam valorizados”.
Contribuição
Feliz e agradecida pela conquista alcançada, Thayna acrescenta que são muitas as contribuições que descobertas como essa podem dar para a fauna do estado. “É um sentimento de gratidão poder tornar essa espécie conhecida e ter a oportunidade de divulgar para as pessoas e profissionais da área. Além disso, a divulgação é fundamental para que a gente tenha uma noção do quanto o Espírito Santo é rico em espécies, e possa pensar políticas públicas para a conservação dos locais onde as espécies são encontradas”.
Além de Thayna e Taís, também colaboraram para a escrita do artigo o professor Frederico Falcão Salles, do Programa de Pós-Graduação em Entomologia da Universidade Federal de Viçosa (MG), e Jeane Marcelle Cavalcante do Nascimento, graduada em Ciências Biológicas pela Ufes e pós-graduada em Entomologia (ramo especializado no estudo de insetos) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, onde atualmente faz um pós-doutorado.
* Bolsista de projeto de Comunicação
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