Fóssil de espécie extinta de inseto aquático é encontrado no Nordeste

Escavação na Formação Crato - Foto: Flaviana Lima
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– Por Noélia Lopes* –

Um fóssil de uma nova espécie de inseto aquático batizada de Protoligoneuria heloisae foi encontrado na unidade geológica Formação Crato, pertencente à Bacia do Araripe, localizada no sul do estado do Ceará. É resultado do trabalho da doutoranda e bióloga Arianny Storari, do Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas – Biologia Animal (PPGBAN) da Ufes. O fóssil, que está datado do período Cretáceo Inferior, entre 113 a 125 milhões de anos, é um representante da família Hexagenitidae e da ordem Ephemeroptera.

Holótipo da Protoligoneuria heloisae (Acervo do Museu
Americano de História Natural, Nova York)

Para a realização dessa pesquisa, Arianny Storari contou com a orientação da professora Taissa Rodrigues, da Ufes, e com a colaboração dos professores Antônio Álamo Feitosa Saraiva, da Universidade Regional do Cariri (Urca) e Frederico Falcão Salles, da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Além dos  brasileiros, contribuíram para o trabalho pesquisadores da Alemanha e da Ucrânia.

Segundo Storari, trata-se de uma descoberta rara, pois, apesar de o gênero Protoligoneuria ter apresentado fase larval abundante na região do Crato, na fase adulta os fósseis são raros. Isso porque suas larvas sofriam eventos de mortalidade em massa por causa de estresses climáticos na região durante o Cretáceo, além de serem insetos cuja característica era viver poucos dias na vida adulta.

A espécie, anteriormente descrita por um pesquisador americano, Dr. McCafferty, já falecido, por conta de um erro na interpretação teve que ser novamente descrita pelos pesquisadores. “Tivemos que olhar um espécime que já havia sido descrito e uma outra espécie do mesmo grupo, proveniente das últimas escavações do pessoal da Urca. Além disso, trabalhamos com a literatura”, disse Storari.

Nessa descrição, foram utilizados materiais específicos para facilitar o trabalho e técnicas de fotografia ultravioleta, porque não dava para ver detalhes menores a olho nu. “No caso de ainda estar coberto de calcário, preparamos um material químico para tirar essa massa e facilitar a observação [do fóssil] no microscópio”, informou a pesquisadora.

O nome Protoligoneuria heloisae foi escolhido para homenagear a bióloga Paula Heloísa, uma colega de laboratório da Ufes que faleceu em junho de 2021. “Queríamos homenageá-la, por ser uma descoberta fruto do laboratório em que ela também trabalhava. Decidimos então nomear essa espécie de efêmera em tributo a uma jovem pesquisadora e amiga que se foi tão cedo”, diz Storari. Paula Heloísa também era orientada pela professora Taissa Rodrigues.

Em relação aos desafios enfrentados durante a descoberta, a bióloga afirma que são os mesmos obstáculos encontrados por qualquer paleontólogo que faz pesquisas na região da Bacia do Araripe. “Muitos fósseis não estão aqui, mas, sim, fora do país. Para o pesquisador brasileiro, que não tem muita verba, é difícil viajar para o exterior para ver os fósseis. Esses deveriam estar aqui, porque são patrimônio científico brasileiro”.

A doutoranda destaca que descobertas como essa são importantes para a fauna brasileira: “Nessa fase adulta há várias informações anatômicas nas asas; os fósseis ajudam a identificar os grupos. Como não é sempre que encontramos adultos, eles são importantes para a descrição das espécies e para pensar perdas, estudar processos de extinção, tanto os recentes quanto os do passado”.

* Bolsista de projeto de Comunicação

Edição: Sueli de Freitas

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