– Por Noélia Lopes* –
Uma pesquisa desenvolvida na Ufes apontou que a prevalência de anomalias dentárias em crianças com Síndrome de Down (SD) é maior do que a média das crianças. No Dia Internacional da Síndrome de Down, comemorado nesta segunda, 21, a Revista Universidade apresenta o estudo realizado pela cirurgiã-dentista Ingrid Ramos, durante seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Clínica Odontológica da Ufes, orientado pelas professoras Danielle Camisasca e Ana Maria Gomes. O objetivo da pesquisa foi verificar os tipos de alterações sistêmicas e anomalias dentárias presentes nas crianças com Síndrome de Down, por meio de comparação com crianças não sindrômicas.
Camisasca conta que a ideia do estudo surgiu a partir do grupo de estudos coordenado por Gomes, intitulado Avaliação da saúde bucal e de alguns parâmetros salivares em crianças com Síndrome de Down. “Ela envolveu alunos da graduação, na forma de iniciação científica, e de mestrado, além de outros professores, para trabalharem na abordagem de vários aspectos da saúde oral dos pacientes com Síndrome de Down”, detalha.
O estudo considerou uma amostra de 93 crianças, sendo 31 com a síndrome (denominado grupo experimental) e 62 crianças sem a síndrome (grupo controle), todas com idade entre 6 e 12 anos. Inicialmente foi desenvolvido um formulário para a coleta de informações clínicas das crianças. Então, foram feitos exames radiográficos panorâmicos e outros procedimentos. “Realizamos também a avaliação clínica bucal, a avaliação do fluxo salivar, do pH e capacidade tampão da saliva”, ressalta Ingrid Ramos.
Resultados
Nas radiografias panorâmicas, foram avaliadas as alterações de desenvolvimento dentário e nos ossos da face, bem como o estágio de maturação dentária. “As anomalias dentárias de desenvolvimento são prevalentes em 74,2% das crianças com a síndrome, e em 25,8% das sem a síndrome. As anomalias dentárias mais comuns em SD são hipodontia, taurodontismo e microdontia”, detalha Camisasca.
A hipodontia é caracterizada pela falta de um a cinco dentes decíduos ou permanentes e é causada principalmente por fatores genéticos que alteram a formação da arcada dentária. Já o taurodontismo ocorre quando há uma variação anatômica do dente, o que faz com ele apresente uma coroa dentária longa, câmara pulpar grande e raízes pequenas. A maior frequência de casos dessa anomalia é em dentes molares inferiores permanentes. A anomalia denominada microdontia, por sua vez, ocorre como resultado de uma ruptura no início do crescimento e desenvolvimento do dente durante a gestação e, como consequência, os dentes desenvolvem-se em um tamanho inferior ao normal.
Segundo a pesquisa, a prevalência das anomalias em crianças sindrômicas foi mais observada na faixa etária de 9 anos, enquanto nas crianças do grupo controle, a idade com mais casos de anomalias foi 8 anos. Em relação à localização dessas anomalias dentárias, o estudo mostrou que, para o grupo sindrômico, elas são mais frequentes nas regiões da maxila (maxilar superior) e da mandíbula (maxilar inferior), e nas crianças não-sindrômicas, apenas na maxila.
Quanto à variação no grau de maturação dentário, a comparação dos exames dos dois grupos não apresentou diferenças significativas, o que sugere que crianças com a Síndrome de Down têm o desenvolvimento dental semelhante às crianças não-sindrômicas.
Além disso, foi possível perceber, no estudo, que há um menor índice de cárie em crianças com a síndrome, o que pode ser explicado devido ao fato de os pais levarem as crianças desse grupo mais cedo ao dentista, à erupção tardia dos dentes e à menor presença de Streptococcus Mutans (microrganismo associado à formação da cárie dentária) na saliva. Por outro lado, a incidência maior de cáries em crianças não-sindrômicas pode explicar as alterações ósseas, encontradas apenas nesse grupo.
“A pesquisa auxilia na compreensão das particularidades da dentição das crianças com Síndrome de Down, o que pode levar a um tratamento mais direcionado e adequado para esses pacientes, com preservação da saúde bucal e qualidade de vida do paciente”, ressalta a Camisasca.
* Bolsista em projeto de Comunicação
Faça um comentário