Monitoramento pesqueiro permite conhecer melhor a cultura regional, apontam pesquisadores

Pescadores da bacia do Rio Doce e do litoral capixaba participam do monitoramento. Foto: Divulgação do projeto
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– Por Lidia Neves* –

O Laboratório de Pesca e Aquicultura da Ufes identificou que 2021 foi um bom ano para a safra de baiacu no Espírito Santo. O peixe, utilizado na moqueca capixaba, é uma das mais de 170 espécies monitoradas no estado pelo projeto de pesquisa coordenado pelo Laboratório, vinculado ao Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas da Ufes, no Centro Universitário Norte do Espírito Santo (Ceunes), em São Mateus. 

O levantamento, que está disponível para consulta, aponta que desde o início deste monitoramento, em fevereiro de 2021, foram pescadas 27,4 toneladas de baiacu-arara, em 339 descargas feitas por 91 unidades produtivas. “A moqueca capixaba é o símbolo cultural do Espírito Santo, então nós precisamos valorizar o pescador e o pescado. E a gente valoriza conhecendo”, destaca o pesquisador Joelson Musiello em entrevista ao programa Ciência Ufes, da Rádio Universitária. 

O site pesca.ufes.br, lançado neste ano, dá acesso à consulta on-line ao banco de dados, cujas informações podem ser agrupadas por município, por frota pesqueira e por região. Além disso, o site oferece boletins, informes e galerias de imagens, entre outras informações. “O objetivo é obter e transferir conhecimento, além de construir e compartilhar informações para a retomada do desenvolvimento social e econômico da atividade pesqueira e da região, com sustentabilidade e qualidade ambiental”, aponta o professor Mauricio Hostim. Ele afirma que, além da bacia do Rio Doce, em Minas Gerais e no Espírito Santo, e do litoral capixaba, o projeto vai se estender para outras regiões marinhas alcançadas pela frota pesqueira.

O monitoramento retomado no ano passado estava interrompido desde 2011, quando teve início, em uma parceria entre a Universidade e o Ministério da Pesca e Aquicultura. Esta nova etapa do projeto conta com o financiamento da Fundação Renova, por meio da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio (Fundepag) e da Fundação Espírito-Santense de Tecnologia (Fest), e com a parceria do Instituto de Pesca de São Paulo, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) em Piúma, além de outras universidades e colaboradores.  “Depois do colapso de Mariana, houve uma determinação de compreender o que estava acontecendo com as espécies, tanto de água doce quanto marinhas”, lembra Hostim.

Os professores destacam a colaboração essencial dos pescadores (dos rios e do litoral) e da população ribeirinha ao redor do Rio Doce nesse monitoramento. “Não há informação de um pescador específico, mas sim do conjunto dos pescadores, para que se conheçam os dados da atividade pesqueira. A informação de um pescador, individual, a gente repassa apenas para ele mesmo. E muitas vezes, esse relatório é usado por esse pescador para comprovar que ele exerce essa atividade. O compromisso ético é o que move o projeto. É a confiança com o sigilo de dados que faz com que o pescador fale a verdade para o pesquisador”, detalha Musiello.

* Colaboraram Hélio Marchioni e Luiz Vital

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