Serviço Social vive simultaneamente crises política, social e pandêmica, aponta artigo

Pandemia agravou a fome, o desemprego e a pobreza, afirma pesquisadora. Foto: Max Fernandes/ Prefeitura de Maceió
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– Por Vitor Guerra* –

A pandemia agravou a desigualdade social ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no período entre agosto e fevereiro de 2021, o país teve um aumento de 17,1 milhões de pessoas voltando à situação de pobreza. Para a professora Maria Lúcia Garcia, do Programa de Pós-Graduação em Política Social da Ufes, e para o professor Gary Spolander, da Universidade Robert Gordon (Reino Unido), o agravamento da desigualdade social é reflexo de uma crise sanitária, econômica e social em curso no nosso país.

Garcia afirma que é preciso pensar a crise sanitária no Brasil, fruto da pandemia de Covid-19, dentro de um contexto em que já havia uma crise econômica e política. “A situação já era muito ruim antes da pandemia: o aumento da pobreza, da fome e do desemprego já estavam em alta. A pandemia fez agravar ainda mais a desigualdade”. 

A professora ressalta ainda que as políticas de austeridade, como a Lei do Teto dos Gastos Públicos (Emenda Constitucional 95/2016), a perda de direitos da classe trabalhadora com a Reforma Trabalhista e os ataques à política social comprometida com causas sociais são ações que dificultam ainda mais a reversão do quadro de desigualdade no país.

“O Brasil vem sofrendo um agravamento da desigualdade social e da saúde de longa data, com a pandemia, os mais vulneráveis pagaram um preço ainda maior.” Garcia destaca que é preciso olhar para as contradições existentes no país. “O Brasil é o terceiro maior produtor de alimentos no mundo, mas tem 16% da sua população passando fome”.

Outro efeito da pandemia, segundo Spolander, foi tornar os problemas dos países muito mais visíveis na sociedade. “Esses problemas sempre existiram, sempre estiveram ali e se tornaram piores com a pandemia. No Brasil, podemos ver o aumento da fome, desemprego e pobreza, consequência de todas políticas de austeridade que foram colocadas em prática na última década e que agora cobram seu preço”, avalia.

Serviço social e as crises

Para Garcia, o Serviço Social está no vórtice das crises social,  pandêmica e política, colocando os profissionais desse campo sob pressão. “O impacto é forte porque o governo Bolsonaro destruiu diversas ações de política social, chegando a afastar trabalhadores de conselhos representativos”. Por outro lado, os profissionais do Serviço Social sofrem também a pressão de parte da população que busca o acesso a programas de transferência de renda.

“A população em situação de pobreza precisa desses programas, mas com as políticas de austeridade mantidas pelo governo Bolsonaro, não era possível incluir todas essas pessoas. Você vê o problema, mas tem que dizer não para a população porque os recursos não são suficientes para todo mundo”, conta a professora.

Garcia alerta para a necessidade de se refletir sobre o trabalho social para além das medidas assistencialistas. “É necessário pensar a partir da estrutura social que vivemos: ao mesmo tempo, o sistema de assistência social atende milhares de famílias em extrema pobreza, eu costumo dizer que essa prática é ‘enxugar gelo’ com toalha de papel, pois não resolve os problemas estruturais da nossa sociedade”.

A situação do Brasil é parecida com a do Reino Unido, segundo Spolander. “Aqui no Reino Unido, o campo do Serviço Social também tende a atuar individualmente com cada família. Se você olhar apenas pela perspectiva individual, acaba esquecendo os problemas estruturais, que não são culpa dos indivíduos, como a falta de empregos, por exemplo”.

Para superar as dificuldades estruturais, Garcia indica a necessidade de combater as causas da desigualdade social, em vez de focar nas suas manifestações individuais. “É também necessário fazer frente ao retrocesso de direitos que perdemos nas últimas décadas, bem como os inúmeros cortes de gastos nas áreas de saúde e educação que o governo anterior vinha realizando”.

A análise completa apresentada pelos pesquisadores pode ser conferida no artigo Social Work in Brazil in the Vortex of Three crises: Pandemic, Social and Political (O Serviço Social no Brasil no Vórtice de Três Crises: Pandêmica, Social e Política). O documento é parte do acordo de cooperação do Programa Institucional de Internacionalização da Ufes (Capes-PrInt) e teve financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa e inovação do Espírito Santo (Fapes).

* Bolsista em projeto de Comunicação

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