– Por Sueli de Freitas –
A técnica do “DNA Ambiental” ou “eDNA”, usada pela primeira vez no Espírito Santo, detectou uma diversidade no estuário do Rio Doce jamais descrita. São mais de 120 potenciais espécies de animais invertebrados subaquáticos, o que aumenta o número de seres desse tipo conhecidos naquele ecossistema em mais de 20 vezes. É um procedimento que permite a identificação de um enorme número de espécies através do sequenciamento dos DNAs presentes em sedimentos. “É similar aos programas de séries policiais em que se encontra alguém pelos traços de sua pele, cabelo ou sangue. Onde existir DNA, temos a capacidade de identificar a identidade de sua origem”, explica Bernardino. No caso da pesquisa desenvolvida no estuário do Rio Doce, foram coletadas amostras da lama acumulada no fundo do rio.
Em laboratório, é feita a extração do DNA que, posteriormente, é levado para uma máquina sequenciadora. Análises de bioinformática são então utilizadas para identificar cada fragmento das centenas de espécies que viviam naquele ambiente no momento da coleta de amostras. Os computadores, então, trabalham na montagem das sequências e na comparação com os códigos de barras conhecidos dos organismos vivos (micróbios, algas e animais) existentes em um banco de dados.
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“Cruzando os dados, é possível analisar as condições ecológicas do local, espécies mais resistentes, dados do solo, tamanho do grão e outras variáveis”, diz o professor.
Bernardino destaca que os estudos anteriores eram baseados em dados morfológicos dos organismos vivos. “O problema das técnicas tradicionais é a demora e a fragilidade na identificação visual das espécies, porque, manualmente, os pesquisadores olham um organismo de um milímetro de tamanho na lupa. A tendência ao erro é muito grande. Outro problema é o número de indivíduos. Em 300 gramas de sedimento, há milhares de organismos. É um trabalho árduo contar e identificar cada um desses animais. Então, com o eDNA, as técnicas moleculares de sequenciamento estão muito avançadas. Com 300 gramas de sedimentos conseguimos extrair todas as informações e identificar de uma maneira quase automatizada, porque é uma identificação de pares de bases de DNA, quase 70% do DNA que a gente sequencia conseguimos identificação positiva para uma potencial espécie”, comemora.
O trabalho de pesquisa foi coordenado pela Ufes, com colaboração da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Minas Gerais. O sequenciamento de DNA foi feito nos Estados Unidos e toda a pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), Comissão de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
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