Fabricia Benda de Oliveira, professora do Departamento de Geologia (Centro de Ciências Exatas, Naturais e da Saúde)
“Nós, mulheres, sofremos preconceito todos os dias! Não somente no Brasil, mas no mundo inteiro, as mulheres são diariamente testadas quanto ao seu conhecimento, pois, para muitos, a mulher ainda é o sexo frágil, aquela que cuida da casa e dos filhos.
A decisão de cursar Engenharia, curso praticamente masculino, foi o primeiro passo tentando superar a barreira do preconceito. Na minha turma, por exemplo, havia 40 alunos, desses apenas 6 eram mulheres. Esse pequeno número gerou preconceito por parte da família, dos amigos, dos colegas de turma e até de professores.
Outro desafio que tem me estimulado na academia é que, apesar de atuar na área de Geologia, pois pertenço a esse departamento dentro da Ufes, mesmo sendo a única professora não geóloga do departamento, fato que também já me causou constrangimentos e julgamentos por preconceito, hoje sou a coordenadora do curso. Atualmente, as estatísticas do nosso curso mostram que estamos à frente, pois somos 13 docentes e entre eles, surpreendentemente, temos 7 mulheres! Nos cargos administrativos de chefe de departamento e coordenador de curso, hoje temos mulheres atuando, o que já é um diferencial em relação a outros departamentos.”
Credibilidade é do homem
“Enquanto pesquisadora, certa vez, um homem que participava comigo de uma mesa-redonda, em um evento, insinuou que eu estava falando a coisa errada. Já aconteceu também, duas vezes, de homens, usarem como sendo deles, os projetos escritos por mim. Já ocorreu, inclusive, de usarem minha fala como se fossem deles!
Esse mesmo homem citado acima, apesar de ter dito várias coisas erradas, o que deveria desqualificá-lo, foi exaltado pelo simples fato de ser homem, e então ter mais ‘credibilidade’ do que eu (mulher).”
Pesquisa, docência e família
“Lecionando é onde sinto menos preconceito, pois, por parte dos alunos, sempre senti admiração pelo meu trabalho e tento estimular neles a consciência de que a superação do preconceito de gênero poderia melhorar a ciência.
Além disso, percebo que ser mentora na área científica impacta na escolha da carreira dos meus orientandos, que muitas vezes têm atuado em áreas similares à minha.
Além disso, vivo o desafio diário de cuidar da família, da casa, dos filhos e ainda ser cobrada e testada o tempo todo no trabalho. Nós, mulheres cientistas, precisamos provar o tempo todo que somos competentes!
O principal dilema que eu vivo atualmente é que o trabalho científico demanda longas horas de pesquisas e viagens, e como vivo duas rotinas (trabalho e gestão do lar), torna-se difícil optar por algo que não seja a família, principalmente os filhos, e sustentar as pressões da carreira. Por diversas vezes já deixei de participar de eventos, de palestras, de comissões etc. por estar grávida, amamentando, cuidando dos filhos.
Na realidade, atuar como professora e pesquisadora demanda muito tempo, e as 40 horas de trabalho semanais são insuficientes para fazermos tudo que precisamos, como preparo de aulas, correção de atividade, provas, orientações, produção intelectual, projetos etc.
Eu sou extremamente motivada por desafios, e o fato de superar o preconceito é um desafio diário que me impulsiona a conquistar cada vez mais um lugar de destaque junto à academia. Pois sei que sou exemplo de mulher junto aos meus alunos, familiares, alguns colegas e, principalmente, para minha filha e que isso a incentivará na sua independência.”
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