De olho no céu: novo polo para observações astronômicas em Castelo

Parque Estadual Forno Grande
Parque Estadual Forno Estadual é um polo de observações astronômicas Fotos: Divulgação/ PPGCosmo
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– Por Patrícia Garcia – 

No Parque Estadual Forno Grande, no sul do Estado, pesquisadores de Cosmologia da Ufes observam os astros e compartilham conhecimentos de astronomia com a comunidade.

A astronomia é uma das ciências mais antigas. As primeiras civilizações já observavam o céu noturno e previam os movimentos dos objetos que podiam ser vistos a olho nu. Depois de séculos de observação e estudo, o cosmos ainda guarda vários segredos e inspira muitos pesquisadores e cientistas.

Desde 2016, a Ufes oferece doutorado na área, por meio do Programa de Pós-Graduação em Astrofísica, Cosmologia e Gravitação (PPGCosmo). A Universidade conta também com um grupo de pesquisa em Astrofísica e Cosmologia, o Cosmo-Ufes, que existe desde a década de 1970. Para atender à necessidade desses grupos, e também para o público em geral, foi criado o Polo Astronômico no Parque Estadual Forno Grande, no município de Castelo, sul do Espírito Santo.

O polo é fruto de uma parceria entre a Ufes, o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes), firmada em dezembro de 2017. Desde então, diversas atividades vêm sendo desenvolvidas no parque, visando ao ensino e à divulgação científica.

Vantagens do local

O Parque Estadual Forno Grande compreende uma área de 730 hectares, com variação de altitude de 1.600 a 2.039 metros. Seu ponto mais alto é o Pico do Forno Grande, que recebeu o nome dos colonos italianos por parecer um forno de assar pães.

Devido à sua altitude e à distância de cidades, o parque é um lugar propício para fazer observações de objetos de fora do Sistema Solar. “No Forno Grande, com um telescópio de porte médio, é possível observar estrelas, espectros de estrelas, sistemas binários, aglomerados de estrelas. Já astrofísica de observação de galáxias é algo um pouco mais complicado, mas talvez seja possível em alguns dias do ano com menos nebulosidade. Em Vitória esse tipo de pesquisa seria inviável”, aponta o professor Júlio Fabris, do departamento de Física da Ufes, que é um dos coordenadores do Polo Astronômico.

Outro fator que levou à escolha do parque como sede do Polo Astronômico foi a estrutura já existente no local. Além de ser de fácil acesso, o espaço possui centro de visitantes, alojamento para pesquisadores e espaço para palestras e hospedagem.

Ações para a comunidade

Segundo Fabris, a proposta é viabilizar um espaço em que toda a comunidade possa realizar observações, mas que também seja voltado para a pesquisa observacional em Astronomia e o desenvolvimento de projetos acadêmicos.

“Um projeto que já estamos desenvolvendo no local é chamado Imersões Astronômicas. Reunimos um grupo de estudantes, universitários ou do ensino médio, para passar dois ou três dias na região. Lá, nós fazemos palestras e levamos telescópios para que eles aprendam a manuseá-los e possam fazer observações preliminares”, diz Fabris.

Também estão em andamento os atendimentos à comunidade, em especial a escolas rurais de localidades próximas e projetos de formação. “Estamos em processo de criação um grupo de astrônomos amadores, ou seja, de estudantes locais que possam participar mais ativamente das atividades, como monitores para o atendimento ao público”, explica o professor.

Desde dezembro de 2017, funciona no parque a Trilha Astronômica, uma representação em escala dos oito planetas do Sistema Solar e de suas distâncias em relação ao Sol. No percurso de 2,2 quilômetros de extensão em direção ao mirante do local, os visitantes podem compreender melhor as proporções do Sistema Solar de forma mais fiel do que se poderia ter em uma página de livro.

Estudantes e outros grupos de moradores aprendem a observar o céu com o telescópio

Pesquisa

Depois de fundamentadas as primeiras ações voltadas ao ensino e à divulgação científica, o próximo passo, de acordo com o professor, é investir na pesquisa em Astronomia Observacional. “Além de dois telescópios menores, ideais para o atendimento à população, também já temos um telescópio de porte médio, mais automatizado, com o qual é possível fazer algumas medidas astronômicas. No futuro, pensamos em montar uma estrutura física dedicada à pesquisa observacional, o que implica em construir um pequeno complemento na estrutura já existente no parque, para que seja colocado um ponto de observação melhor.”

Fabris indica que um telescópio de porte médio é o mais adequado para o Polo Astronômico do Forno Grande: devido à nebulosidade, umidade e altitude da região, o local não é ideal para a instalação de um grande telescópio, que demanda uma estrutura complexa e dispendiosa. “O maior telescópio brasileiro está no sul de Minas. É um telescópio bom, potente, mas é um investimento muito grande: precisa ser instalado numa região bastante isolada e alta, e é necessário construir um acesso e uma estrutura para receber os pesquisadores. E aqui não compensa fazer uma estrutura desse porte. No entanto, com essa organização um pouco mais modesta, já é possível fazer coisas de valor científico. Acredito que no próximo ano já teremos formações no nível da iniciação científica nas áreas de astronomia observacional e astrofísica, o que vai ser um salto imenso para a Ufes”, avalia o professor.

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