Potência Solar: projeto de extensão é destaque no uso de energia limpa

Estudantes comemoram vitória junto ao barco da competição, no mar
Após vencer o Desafio Solar Brasil 2018, o grupo pretende expandir o uso da energia solar em escolas e na Ufes. Foto: Divulgação/Solares
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– Por Helio Marchioni –

O projeto de extensão Solares desenvolve pesquisas para o uso de energia solar. Entrevista com integrantes do projeto mostra que este modelo de energia limpa tem gerado boas expectativas de mercado e chegou a crescer 400% ao ano no Brasil

Com apenas três anos de existência, o Projeto Solares já tem muito a comemorar. Seus barcos movidos a energia solar levaram dois prêmios na competição nacional, o Desafio Solar Brasil (DSB 2018), realizado em Búzios, no Rio de Janeiro. Na primeira participação, no ano passado, tinham ficado em quarto lugar.

O Solares é um projeto de extensão do Centro Tecnológico da Ufes, que possui uma equipe multidisciplinar coordenada pelo professor do Departamento de Engenharia Mecânica, Bruno Venturini Loureiro, com a participação de 29 estudantes dos cursos de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Comunicação Social. “O Solares tem como missão explorar as aplicações da energia solar e capacitar os seus membros e a comunidade”, afirma o diretor de Marketing, Henrique Nascimento, estudante de Engenharia Mecânica.

O barco Poente ficou em primeiro lugar na classe Catamarã, categoria inicial da disputa, com o maior número de embarcações. Nessa competição os barcos são movidos a energia solar fotovoltaica e competem num rally. Também foi premiado, na categoria Melhor Oficina, o Projeto Girassol, ação para crianças do ensino fundamental que integra o Solares Social, área com ações voltadas para a comunidade. O desafio contou com 19 equipes de diversas instituições brasileiras.

Os projetos de energia solar são desenvolvidos por meio de pesquisas para aprimorar os produtos e para desenvolver novas tecnologias. Muitas delas são realizadas por iniciativa dos estudantes, com apoio dos professores.

Para as próximas edições do DSB, o grupo pretende construir um barco monocasco para participar também da Categoria Livre e, posteriormente, disputar da competição internacional Frisian Solar Challenge. “Como nosso projeto sempre quer trazer algo inovador e sempre queremos crescer, após construirmos o barco monocasco e participarmos do DSB na Categoria Livre, pretendemos futuramente levar o Solares, o Espírito Santo e a Ufes para a Holanda”, disse Henrique Nascimento.

O professor Loureiro conta, em entrevista, que está prevista ainda para este ano a inauguração da Estação Solares, um quiosque alimentado por energia solar off-grid (que não está ligada à rede elétrica) e que poderá ser usado, por exemplo, para carregar celulares ou ligar computadores. A Estação Solares terá uso livre para toda a comunidade e ficará no Centro de Vivências da Ufes, ao lado do Cine Metrópolis, no campus de Goiabeiras.

Revista Universidade – Qual o histórico e como está a realidade do mercado da energia solar?

Bruno Venturini Loureiro – No mundo, a energia fotovoltaica já tem algum desenvolvimento desde 1980. No início eram células muito pouco eficientes, só usadas em laboratório. A tecnologia foi evoluindo até chegar em um nível de ser possível fazer comercialmente. Nos países onde a energia solar começou a se desenvolver, Alemanha e Itália, por exemplo, as pesquisas tiveram início com um forte apoio governamental, pois são países altamente dependentes de fontes não renováveis de energia, como carvão e gás. A Alemanha, a partir do ano 2000, passou a financiar muito a pesquisa, o desenvolvimento de projetos de energia solar e a subsidiar a implantação de energia solar nas residências. Com isso, os países que deram o pontapé inicial viraram referência para o mundo inteiro. Principalmente na questão da regulamentação.

No Brasil, em 2012, foi lançada a norma regulamentadora 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que foi o marco legal inicial da energia solar no país. A partir daí o crescimento se deu exponencialmente, chegando a 400% ao ano. Em números absolutos, a participação da energia solar no mercado de energia brasileiro ainda é pequena. Mas, com a queda dos preços, o surgimento de muitas associações, a importação de tecnologia externa e as diversas opções de financiamento, sejam de bancos públicos ou privados, a tendência é de muito crescimento para o setor. A realidade da energia solar no Espírito Santo ainda está distante de regiões como o Nordeste, por exemplo, onde o Banco do Nordeste já financia projetos de energia solar há mais tempo e com juros muito baixos. Além disso, o Estado foi um dos últimos a adotar a isenção do ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] para projetos de energia solar. Com os elevados índices de aumento na tarifa de energia elétrica no último ano, é muito provável que o mercado tenha uma aceleração no seu crescimento. Os líderes do mercado brasileiro de energia solar são Minas Gerais e São Paulo.

Como a energia solar pode contribuir para a vida das pessoas, do comércio e das indústrias?

Loureiro – A energia solar tem início nas residências das pessoas, mas tanto o comércio quanto a indústria já perceberam que a energia solar é um investimento com uma excelente taxa de retorno. Investindo em um projeto de energia solar, você pode chegar a uma taxa de retorno de 20% ao ano. Comparado com investimentos de renda fixa, você não consegue 10% ao ano e a poupança rende em torno de 5%.

Quais são os exemplos e iniciativas de sucesso de uso da energia solar?

Loureiro – O projeto Solares é um excelente exemplo. Um projeto da Ufes que desenvolve pesquisas, explora novas aplicações e busca as novidades do mercado. Nós temos desde projetos sociais em escolas até um sistema fotovoltaico conectado à rede na Biblioteca Central da Ufes. E o nosso objetivo a partir desse projeto piloto é colocar energia fotovoltaica em mais edifícios dentro da Ufes, estabelecendo uma microgeração razoável na região.

Outro bom exemplo é a nossa embarcação movida a energia solar. Nossas pesquisas podem gerar aplicações para iates, navios e plataformas de petróleo. Além do Solares, existem muitas organizações não governamentais (ONGs) que estão desenvolvendo coisas interessantes. Por exemplo, o litro de luz, que nem é energia fotovoltaica. É simplesmente uma garrafa com um líquido dentro, com uma propriedade fosforescente, que durante o dia capta a energia do sol que é armazenada dentro desse líquido e a noite o líquido brilha. Pode parecer uma coisa menor, mas em comunidades onde a energia elétrica não chega pode ser uma alternativa.

Quando e como surgiu o projeto Solares?

Henrique Nascimento – O Solares nasceu em meados de 2015 como uma iniciativa de alunos junto com o professor Juan Romero, do Departamento de Engenharia Mecânica da Ufes. Antes dessa data, já havia uma estruturação do Solares, mas em moldes diferentes dos atuais. O professor falou em uma aula sobre essa iniciativa de desenvolver um projeto de energia solar e convidou os alunos que quisessem tomar a frente do projeto e transformá-lo, que o procurassem. Alguns deles se interessaram e fundaram o Solares.

Inicialmente, com uma infraestrutura simples e sem dinheiro no caixa, os alunos tomaram as rédeas do projeto e desenvolveram subprojetos, captaram doações de equipamentos com patrocinadores, montaram uma cultura organizacional e estruturaram o que hoje é o Projeto Solares. Todas as atividades foram organizadas e construídas com a proatividade e trabalho duro dos alunos e orientadas pelo professor.

Onde o projeto está inserido dentro da Ufes?

Nascimento – O Solares atua na Universidade na área de extensão, como um projeto de extensão. Sem fins lucrativos nem registro de pessoa jurídica, o projeto conta com infraestrutura da Ufes, uma sala para trabalho e um galpão, que é a oficina. Composto por membros voluntários, tem como missão explorar as aplicações da energia solar e desenvolver os membros e a comunidade.

Quais os principais projetos desenvolvidos e resultados alcançados?

Nascimento – Nós temos o barco Poente, criado para que pudéssemos competir no Desafio Solar Brasil. Participamos pela primeira vez no ano passado e conseguimos o quarto lugar na classe catamarã, na qual esse ano fomos campeões. Além do barco, nós também desenvolvemos um carrinho solar, controlado remotamente por um aplicativo de celular conectado via bluetooth. Outro projeto é a Estação Solares, que será um espaço de convivência com bancos, pergolado e as placas solares alimentando as tomadas que serão de uso coletivo para as pessoas carregarem seus notebooks e celulares. Este projeto ainda está em processo de construção e em breve se tornará real, pela contribuição de todos.

Temos também o Solares Ensina, uma vertente do projeto que realiza ações e eventos para difundir o conhecimento sobre energia solar para todos os públicos, aproximando a comunidade das descobertas da Universidade. Um dos nossos subprojetos é o Solares Social, que é uma linha de projetos mais voltados para a comunidade e, atualmente, é responsável por fazer visitas em escolas de ensino fundamental com uma apresentação interativa para as crianças aprenderem o conceito solar enquanto se divertem. E, não menos importante, temos o On-Grid, que desenvolve projetos de energia solar fotovoltaica ligados diretamente à rede elétrica (on-grid). O objetivo dessa área é implantar a geração de energia solar em prédios de instituições públicas, como a Biblioteca Central da Ufes, para a qual já foi desenvolvido um projeto para ser implementado em 2019, junto à Prefeitura Universitária.

Após vencer o Desafio Solar Brasil 2018, o grupo pretende expandir o uso da energia solar em escolas e na Ufes. Fotos: Divulgação/Solares e Jorge Medina/Ufes

Quais são os objetivos e os projetos futuros?

Nascimento – Nós queremos concretizar o projeto do on-grid na Biblioteca Central da Ufes no próximo ano, e futuramente em outros prédios do campus e quem sabe em outras universidades. Pretendemos também popularizar a energia solar no estado através do Solares Social, instalar outras unidades da Estação Solares e, com certeza, manter o bom desempenho no DSB, expandindo nossa participação para a classe livre e, futuramente, para o Frisian Solar Challenge, na Holanda.

Existe objetivo educacional nos projetos desenvolvidos?

Nascimento – Com certeza! Com alunos de graduação, seja ela qual for, visamos aplicar o que aprendemos na sala de aula diretamente nos subprojetos. Tanto na parte de Engenharia, quanto na parte de Marketing e Comunicação social. Para a construção de cada subprojeto nosso, é necessária uma bagagem teórica e técnica que conquistamos estudando as disciplinas, mas também em contato com nossos professores auxiliares do projeto, aprendendo pelos livros e pesquisando na internet. Um dos itens da missão do projeto é capacitar os membros, e isso acontece, educacionalmente, quando praticamos o aprendido para desenvolver as aplicações e também quando nos reunimos para realizar alguma capacitação interna, seja oferecida pelos próprios membros ou por alguma instituição especializada. Também tem objetivo educacional o Solares Social, em que pretendemos ensinar o conceito de energias renováveis para as crianças, entre elas a energia solar.

Qual é a equipe atual do projeto?

Nascimento – A equipe atual é composta por 29 membros de diversos cursos. Além das Engenharias, temos membros da Arquitetura e Urbanismo, Jornalismo e Cinema. Para fornecer apoio técnico e pedagógico, temos o atual professor orientador, Bruno Venturini, e outros professores de diversas áreas que auxiliam nossos membros no desenvolvimento dos projetos.

Como o Projeto Solares contribui com o desenvolvimento de pesquisas?

Nascimento – Os membros do Solares desenvolvem pesquisas e estudos relacionados direta ou indiretamente às nossas atividades. As pesquisas são tanto para aplicação e melhoria de componentes ou sistemas de projetos nossos, como o catamarã solar, quanto para desenvolvimento de novas tecnologias e implantação da energia solar em protótipos inovadores. A estudante de Engenharia Mecânica Luma Gonçalves Fraga, que participa do Solares, desenvolveu uma iniciação científica, juntamente com o professor Juan Romero Saenz, sobre a hidrodinâmica do casco do barco em navegação. Analisou cinco modelos de casco e verificou o comportamento e a força de arrasto em diferentes condições de navegação. Essa pesquisa foi exposta na última Jornada de Iniciação Científica da Ufes. Atualmente também temos alguns membros desenvolvendo pesquisas em comunicação de dados através da luz visível e outros no projeto de um controlador de carga.

Todos esses projetos são realizados sob tutoria dos professores auxiliares do Solares. Um diferencial nosso é a proatividade e capacidade dos alunos de também desenvolver projetos e pesquisas. Os professores entram mais na parte pedagógica e auxílio estratégico, mas são os alunos que fazem.

Mais informações sobre o Solares podem ser encontradas em solaresufes.wordpress.com

 

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