Biblioteca da Ufes se adapta à era digital

Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo. Foto: Adriana Damasceno/ Ufes
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Por Adriana Damasceno

A Biblioteca Central da Ufes celebra 56 anos e busca se reinventar num contexto de amplo acesso a conteúdos disponíveis em plataformas digitais

Biblioteca. Na origem grega, a palavra queria dizer caixa (théke) de livros (biblion), e designa o lugar onde são guardados documentos, publicações e outros itens do acervo, armazenado também em formato digital. A caixa de livros da Ufes, com sede no campus de Goiabeiras e com dez unidades setoriais, possui 351 mil exemplares e 151 mil títulos, o maior acervo bibliográfico do Espírito Santo.

Aos 56 anos, completados em julho, a Biblioteca Central (BC) da Ufes vem passando por uma reformulação da sua atividade, que acompanha a transição da “era Gutenberg” (alemão que, no século XV, desenvolveu a máquina que possibilitou a impressão mecânica e a reprodução de textos) para a “era Zuckerberg” (o programador americano que foi um dos fundadores da rede social Facebook), possibilitada pela invenção da web, em 1992, pelas novas tecnologias e diferentes opções de acesso à informação. Com as mudanças, as caixas de livros viram-se obrigadas a adaptar grande parte do seu acervo às plataformas digitais e ampliar a acessibilidade.

Fábio Medina dirige a BC desde 2016. Bibliotecário por formação, ele define as bibliotecas como “guardiãs de obras intelectuais publicadas, sendo
depositárias dos materiais” e percebe que uma das alterações trazidas com o advento das novas tecnologias é a perda do protagonismo dos livros frente às mídias digitais. “Agora, as pessoas não precisam mais vir fisicamente até a Biblioteca para obter informação. Com o aumento da disponibilidade dos recursos eletrônicos e digitais, a comunidade
pode ter acesso aos dados contidos aqui ou mesmo solicitar que sejam transformados em versão digital para acessá-los remotamente”, diz.

Fábio Medina, bibliotecário que dirige a Biblioteca Central desde 2016. Foto: Adriana Damasceno/ Ufes

Cerca de 35 mil pessoas estão aptas a retirar obras da Biblioteca, entre alunos, técnicos-administrativos e professores com vínculo ativo na Ufes. No ano passado, foram registrados aproximadamente 146 mil empréstimos (12.211 por mês). “Observamos que tem acontecido uma sensível diminuição nos empréstimos ao longo dos anos, reflexo, dentre outros fatores, da nova era digital”, aponta Medina.

Reinvenção

Para enfrentar esse novo cenário informacional, a Biblioteca Central vem se reinventando na tentativa de atrair novos e antigos visitantes. Busca tornar-se cada vez mais um espaço de estudo e um centro de referência sociocultural. Por ser um espaço universitário, a BC é, além de depositária do saber, local de produção de conhecimento, onde as comunidades interna e externa podem se encontrar para pesquisar, trocar e criar informações. Medina defende que a biblioteca universitária deve estar integrada à vida acadêmica, possibilitando encontros e formações. “Temos buscado readequar as áreas administrativas para ampliar os espaços destinados aos usuários e deixar entrar também as manifestações culturais, artísticas e científicas, de forma que a comunidade interaja com a Biblioteca. O espaço pode e deve ter um múltiplo uso”, ressalta. Uma das medidas nesse sentido foi a liberação de 400 metros quadrados (m2) – de uma área total de 5.300 m2 – para estudos em grupo ou individuais, após o remanejamento de um acervo de periódicos.

O diretor da BC explica que, ainda que muitos conteúdos estejam dispersos na web, o acesso a algumas bases de dados específicas continua sendo possível somente por meio de uma biblioteca. “Essa é a dualidade hoje. A biblioteca é guardiã do material, mas queremos que ele seja disseminado”, analisa. Como exemplo, Medina cita as obras produzidas pelos programas de pós-graduação da Universidade que, até os anos 2000, só eram disponibilizadas pelos pesquisadores na versão impressa e, atualmente,
também são oferecidas na versão digital.

Serviços

A Biblioteca oferece uma variada gama de serviços à comunidade, como Repositório Institucional (que garante o livre acesso a publicações antes possibilitado somente por assinatura ou compra); autoempréstimo (o próprio usuário pode realizar seus empréstimos por meio de um terminal de autoatendimento); capacitação de usuários; assessoria editorial (em procedimentos de solicitação de ISBN e ISSN e em normas de editoração de publicação); e laboratório de informática.

Quanto aos livros do acervo que estão disponíveis para uso irrestrito e, portanto, mais sujeitos a deteriorações, a Biblioteca dispõe do Setor de Reparações. Nessa seção, as obras que apresentam mais degradação – o que poderia levar ao comprometimento estrutural – passam por minucioso trabalho que visa reverter os danos físicos causados por manipulação, umidade ou calor.

Setor de Reparações da BC. Foto: Adriana Damasceno/Ufes

É oferecido, ainda, o Programa de Comutação Bibliográfica (Comut), um serviço que permite ao usuário obter, mediante pagamento, cópias de documentos técnico-científicos disponíveis em acervos bibliotecários de todo o Brasil, respeitando-se a Lei de Direitos Autorais. “O material solicitado, se estiver no formato impresso, é digitalizado ou fotocopiado e enviado ao solicitante. Dessa forma, ampliamos o acesso ao nosso acervo”, explica Medina.

Além das novas tecnologias, a Biblioteca Central vem investindo em melhorias no espaço físico. Entre as novidades que começaram a ser implementadas em 2018, estão uma sala multiuso equipada para realização de projeções e videoconferência; um miniauditório; mesas de estudo com conexão à rede elétrica; cadeiras estofadas e ergonômicas; guarda-volumes biométricos; e equipamentos de informática. A BC conta também com o Auditório Carlos Drummond de Andrade, localizado no segundo andar, com capacidade para 70 pessoas, onde são realizadas defesas de teses e palestras.

Auditório Carlos Drummond de Andrade, na Biblioteca Central da Ufes. Foto: Adriana Damasceno/Ufes

Acessibilidade

Para atender adequadamente às pessoas com deficiência, a Ufes está implantando na Biblioteca Central uma sala com recursos de tecnologia assistiva, na qual serão oferecidos serviços de acessibilidade informacional. “Nesse espaço, o usuário vai ter o material que precisar convertido para se adequar à necessidade dele. Por exemplo, o deficiente visual vai ter o texto transformado em audiolivro ou em arquivo passível de leitura por softwares”, explica o diretor.

O edifício conta ainda com elevador, banheiros e bebedouros acessíveis. “Estamos adquirindo também uma impressora em braille a fim de imprimir páginas para os deficientes visuais”, diz Medina, ressaltando a importância da atitude de gestores e usuários. “É preciso que as pessoas se conscientizem e passem a deixar os acessos livres de obstáculos para auxiliar a circulação dentro da Biblioteca. Durante as exposições, temos a preocupação de que as peças não impeçam nenhum tipo de mobilidade dentro do espaço. É a exposição que se adapta à Biblioteca, nunca o contrário.”

Obras raras

Atualmente, o acervo da Biblioteca Central conta com 13 mil títulos de dissertações e 18 mil exemplares de teses, 2.200 títulos com 3.100 exemplares de multimeios e 5.600 títulos com 138 mil fascículos de
periódicos – um montante que está em constante processo de atualização para atender às necessidades acadêmicas e da comunidade externa.

Dentre tantos livros de literatura, registros científicos, jornalísticos e de pesquisa, a Biblioteca Central abriga obras raras e exclusivas, como o acervo pessoal do esportista e ex-professor da Ufes Mário Ribeiro Cantarino Filho, pioneiro no atletismo universitário no Espírito Santo e no Brasil, que morreu em 2012. Ele possuía uma das maiores bibliotecas esportivas particulares do país, com cerca de 5 mil volumes e milhares de recortes de reportagens sobre educação e esporte. A Biblioteca detém, ainda, outras importantes coleções, como a Aloyr Queiroz de Araújo, a Brasiliana, a Ceciliano Abel de Almeida, a Guilherme Santos Neves, a Heráclito Amâncio Pereira, a Mário Aristides Freire, a Nelson Abel de Almeida, a Portuguesa e a Espírito Santo, além de fotografias de ex-reitores da Universidade. “Esse rico material só é encontrado aqui na Ufes”, conta Medina.

As obras raras ficam em um espaço anexo à BC e possuem restrições ao seu manuseio. Devido à fragilidade desses materiais e ao fato de muitos serem itens únicos, está em andamento um trabalho de digitalização, com o objetivo de evitar a degradação. “É uma forma de resguardar o impresso e conseguir disponibilizar essa informação sem riscos”, explica o diretor.

Caixa de livros com história

Localizada em ponto alto e estratégico no campus de Goiabeiras, a atual Biblioteca Central Fernando Castro de Moraes foi inaugurada em 1982 e batizada com o nome do médico que foi também professor e subreitor da Universidade. Antes de se tornar a imponente caixa de livros, com
projeto do arquiteto José Galbinski, era conhecida como
Serviço Central de Bibliotecas, que foi criado em 1963 e
teve como primeira sede o antigo prédio da Faculdade de
Ciências Econômicas, em Vitória.

Atualmente, a Biblioteca Central é responsável por coordenar os procedimentos técnicos das onze unidades que compõem o Sistema de Bibliotecas (SIB/Ufes): além da BC, a Universidade conta com as bibliotecas setoriais Tecnológica, de Artes, do Centro de Ciências Humanas e Naturais, do Centro de Educação, do Centro de Educação Física e Desportos, e do Centro de Ciências Exatas, no campus de Goiabeiras; de Ciências da Saúde, no campus de Maruípe; do Ceunes, no campus de São Mateus; Setorial Sul, no campus de Alegre; e do Núcleo de Estudos e de Difusão de Tecnologia em Florestas, Recursos Hídricos e Agricultura Sustentável (Nedtec), no município de Jerônimo Monteiro.

Como parte das comemorações dos 65 anos da Ufes, a Biblioteca iniciou, em maio, a mostra Obsoletos? A história do audiovisual na Biblioteca Central, com materiais que já fi zeram parte da trajetória do espaço. São equipamentos raros, como disquetes, projetor de 16 milímetros, mapas, fitas VHS, aparelho de som 4 em 1, discos de vinil, televisor, retroprojetor e fitas cassete, objetos que fi carão permanentemente expostos no saguão da Biblioteca, fazendo alusão ao acervo iconográfico da Ufes.

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