Pesquisa revela que pardos e negros morrem mais por COVID-19

A pesquisa ocorreu em parceria da Ufes com a Universidade de Cambridge.
A pesquisa foi realizado em parceria da Ufes com a Universidade de Cambridge. Imagem: Freepik
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– Por Sueli de Freitas –

Um levantamento de dados epidemiológicos realizado no Brasil mostra que pessoas pardas e negras, principalmente no Norte e do Nordeste do país, têm mais chances de morrer vítimas do vírus SARS-CoV-2 do que as que se identificam como brancas. Esse foi o resultado do estudo realizado a partir dos registros de 11.321 pacientes com COVID-19 cadastrados no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe, do Ministério da Saúde, utilizado para monitorar os casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG – ou SARS, do inglês Severe Acute Respiratory Syndrome) nos hospitais.

Os dados publicados no artigo Ethnic and regional variation in hospital mortality from COVID-19 in Brazil(link is external) (Variação étnica e regional na mortalidade hospitalar por COVID-19 no Brasil) foram reunidos na primeira fase de uma pesquisa que pretende adaptar para o Brasil o Cambridge Adjutorium, uma ferramenta que usa aprendizado de máquina/inteligência artificial, a partir de dados reais despersonalizados, para montar um sistema que auxilia médicos e diretores de hospitais na tomada de decisões sobre recursos físicos e pacientes. O modelo foi desenvolvido pelo laboratório de Machine Learning and Artificial Intelligence for Medicine da Universidade de Cambridge.

A pesquisa é uma parceria entre a Ufes e a pesquisadora Mihaela Van der Schaar, professora da Universidade de Cambridge e pesquisadora do Instituto Alan Turing, no Reino Unido. Pela Ufes, participam o professor do Programa de Pós-Graduação em Astrofísica, Cosmologia e Gravitação (PPGCosmo) e do Programa de Pós-Graduação em Física (PPGFis) Valério Marra, e seu pós-doutorando Pedro Baqui, auxiliados na área da saúde pela professora epidemiologista Ethel Maciel, do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva.

Proteção

O professor Valério Marra, que obteve os dados epidemiológicos e socioeconômicos da pesquisa, diz que a publicação do artigo com o resultado da primeira fase visa alertar para a necessidade de ações efetivas do poder público de proteção às regiões e às populações mais expostas aos riscos. “Achamos oportuno publicar esse artigo na esperança de que o Governo adote medidas. Os estados com alto risco e as etnias mais vulneráveis devem ser protegidos”, afirmou.

O estudo mostra que ser da etnia parda foi o segundo fator de risco mais importante para a COVID-19, só perdendo para a idade. Outro dado é que os brasileiros hospitalizados nas regiões Norte e Nordeste tendem a ter mais comorbidades do que no centro-sul, com proporções semelhantes entre os vários grupos étnicos. Na análise por estado, o Rio de Janeiro é a exceção do centro-sul, pois apresenta taxas de risco comparáveis às dos estados do Nordeste.

De acordo com os pesquisadores, a variação étnica (efeito horizontal) e a regional (efeito vertical) pode ser explicada pelas desigualdades sociais e de acesso à assistência de saúde. “Especulamos que o efeito vertical seja impulsionado pelo aumento dos níveis de comorbidade na região  Norte, onde os níveis de desenvolvimento socioeconômico são mais baixos, enquanto o efeito horizontal pode estar relacionado a níveis mais baixos de acesso ou disponibilidade de cuidados de saúde (incluindo cuidados intensivos) para brasileiros pardos e pretos. Para a maioria dos estados, os efeitos verticais e horizontais são correlacionados, proporcionando uma maior mortalidade cumulativa”, aponta o estudo.

“Nossa análise motiva um esforço urgente por parte das autoridades brasileiras para considerar como a resposta nacional à COVID-19 pode proteger melhor os brasileiros pardos e pretos, bem como a população dos estados mais pobres, do maior risco de morte por infecção por SARS-CoV-2”, afirmam os pesquisadores.

Próxima fase

A próxima fase da pesquisa é a obtenção dos dados epidemiológicos anônimos dos capixabas vítimas da COVID-19. “Temos por objetivo adaptar o software Adjutorium à população capixaba para depois entregá-lo aos hospitais do Espírito Santo. Posteriormente, pretendemos levá-lo a todo território nacional. Com essas predições, a direção do hospital terá uma estimativa da situação a ser enfrentada, dando base para uma administração mais eficiente”, afirmou o professor Marra. A expectativa é que a primeira versão do Adjutorium para o Brasil esteja liberada em três meses.

Edição: Thereza Marinho

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