Pesquisa constata desigualdade social como fator agravante de risco de morte na pandemia

Idosos com comorbidades e usuários da rede pública de saúde apresentaram maior mortalidade. Foto: Senado Notícias
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– Por Sueli de Freitas –

Em artigo publicado na plataforma Scielo, sob o título Fatores associados ao óbito hospitalar por COVID-19 no Espírito Santo, pesquisadores da Ufes apontam maior mortalidade em idosos, com comorbidades e usuários de hospitais públicos. “A pesquisa analisou as 220 primeiras mortes no estado. O principal achado é que esses óbitos estão bem relacionados com a desigualdade social. Morreram mais pacientes de hospitais públicos porque chegaram com comorbidades como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares não controladas. A morte é o evento final da falta de acesso [à saúde preventiva] e da falta de controle dessas doenças; tem a ver com toda dificuldade de acesso ao longo da vida”, afirma a professora do Departamento de Enfermagem da Ufes e pós-doutora em Epidemiologia Ethel Maciel, uma das autoras do artigo. Ela complementa: “Se fosse para resumir em uma frase, eu diria que a pobreza mata!”.

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No estudo, foram incluídas todas as pessoas internadas com COVID-19 na rede hospitalar do estado que tiveram alta ou foram a óbito até o dia 14 de maio deste ano. De lá pra cá, no entanto, não houve alteração no perfil dos pacientes que não resistem à doença. “Outras análises estão sendo feitas, não tivemos mudanças [no decorrer da pandemia]”, informou Ethel Maciel.

Resultados

Até 14 de maio de 2020, foram internadas 889 pessoas com confirmação do diagnóstico para COVID-19, sendo a primeira internação ocorrida em 26 de fevereiro, e o primeiro óbito em 20 de março. No estudo, foram analisados os 200 indivíduos que receberam alta e os 220 que foram a óbito. Do total de pessoas estudadas, 57,1% eram do sexo masculino, 46,4% maiores de 60 anos de idade, 57,9% foram notificados por instituição privada e 61,7% apresentaram mais de uma comorbidade. Na análise ajustada, a mortalidade hospitalar foi maior entre aqueles nas faixas etárias de 51 a 60 e mais de 60 anos, notificados por instituição pública e com maior número de comorbidades.

“Nós investigamos os óbitos para traçar o perfil desses pacientes. Os dados coletados são do sistema do SUS. Levantamos internações, altas hospitalares, onde ocorreram as mortes, comorbidades dos pacientes”, explicou o professor do Departamento de Matemática da Ufes Etereldes Gonçalves Júnior, também autor do artigo. Ele é um dos integrantes do projeto Aplicação de modelos matemáticos no estudo de padrões e tendências da COVID-19 no Estado do Espírito Santo e conurbação da Grande Vitória, desenvolvido pelo Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), formado por pesquisadores da Ufes e do Instituto Jones dos Santos Neves.

As variáveis sociodemográficas analisadas foram sexo, idade, raça/cor da pele e município de residência (região metropolitana de Vitória ou interior). A pesquisa também avaliou a presença de doenças e agravos possivelmente associados ao desfecho do caso, como doenças pulmonares, cardíacas e renais; hepatites; diabetes mellitus; doenças imunológicas; infecção pelo vírus HIV; neoplasias; tabagismo; cirurgia bariátrica; obesidade; tuberculose e doenças neurológicas crônicas.

Para os pesquisadores, a pandemia enfatiza a necessidade de serem criados mecanismos legais para pleno financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS), de forma que o Brasil esteja mais preparado em outras situações de crise sanitária, enfatizando a necessidade da atenção à saúde básica da população.

Além de Ethel Maciel e Etereldes Gonçalves Júnior, também são autores do artigo os professores da Ufes Ricardo Tristão-Sá, do Departamento de Medicina Social; Rita de Cássia Lima e Eliana Zandonade, do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva; a doutoranda Barbara Reis-Santos; além dos pesquisadores do Instituto Jones dos Santos Neves Pablo Jabor e Pablo Lira; e da pesquisadora da Faculdade de Direito de Vitória Elda Bussinguer.

Edição: Thereza Marinho

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