Pesquisa aponta eficácia do lítio para produzir biocombustível a partir do óleo de cozinha

Método possibilita a reciclagem do óleo de cozinha com o uso de material contido no lixo eletrônico. Foto: EBC
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– Por Mikaella Mozer – 

Um estudo realizado na Ufes busca aumentar o reaproveitamento de dois resíduos sólidos com baixo índice de reciclagem: o óleo de cozinha descartado e o lítio, presente no lixo eletrônico. A pesquisa, desenvolvida por Gilberto Brito enquanto realizava seu doutorado no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental (PPGEA) da Universidade, usa o lítio para produzir biodiesel a partir do óleo de cozinha, sob a orientação da professora Edumar Coelho.

O biodiesel tem sido utilizado e explorado em pesquisas para reduzir o uso de combustíveis fósseis e sua produção de carbono. Geralmente utiliza-se a mistura de óleo vegetal ou gordura animal, álcool e os catalisadores hidróxido de potássio ou hidróxido de sódio. O estudo mostrou que também é possível utilizar hidróxido de lítio.

A pesquisa teve repercussão internacional, com a publicação do artigo “Produção de biodiesel ecológico a partir de resíduos domésticos de óleo de cozinha por transesterificação usando LiOH em misturas de catalisadores básicos”, com destaque, na revista norte-americana mais importante no campo de sustentabilidade, a Journal of Renewable and Sustainable Energy.

Mais de 5,5 bilhões de litros de óleo de fritura são produzidos por ano no país. A maior parte é descartada de forma inadequada: menos de 5% é reutilizado. “Na maioria das vezes, o destino é a produção de sabão, o que é bom, mas não é a única nem a maior forma de reaproveitamento possível”, conta Brito. 

O pesquisador explica que a demora do processo de reação química para a produção de biodiesel é um fator para a falta de investimento das indústrias. Com o objetivo de acelerar esse processo, mantendo a qualidade do biocombustível, Brito testou o lítio como um novo reagente. Além de ser um elemento químico de alta reatividade, o material é encontrado em pilhas, celulares e outros lixos eletrônicos. 

Para os experimentos, foram misturados 5% de hidróxido de lítio comercial, esse encontrado em indústrias,  com os outros catalisadores já utilizados, hidróxido de sódio ou hidróxido de potássio. Como resultado, a nova mistura de catalisadores não alterou ou prejudicou o produto final e obteve rendimento de 90% nas reações, ou seja, cada 1 litro do óleo produziu 900 mililitros de biodiesel.  Brito conta que a solução também ajuda no problema de poluição, já que são poucas as formas de reúso do lítio. O pesquisador já entrou com o pedido de patente no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi).

Clique aqui para ver mais pedidos de patente da Ufes

Separação de componentes

Ao final da reação, denominada transesterificação, é necessário deixar o produto em repouso para a separação entre o combustível sustentável e o glicerol, componente orgânico obtido na reação química. Essa separação, que costuma demorar seis horas, ocorreu em uma hora com o acréscimo do lítio. “Apesar de não ter sido o objetivo inicial, essa descoberta é um outro avanço muito significativo. A velocidade de separação dos componentes é tão importante quanto a velocidade da reação, para atrair o interesse da indústria”, analisa o pesquisador.

Na pesquisa, foi utilizado o hidróxido de lítio comercial. Em um outro projeto de pesquisa em andamento, aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapes), Brito busca desenvolver uma metodologia capaz de recuperar o lítio dos eletrônicos e de transformá-lo em hidróxido, ou seja, em catalisador sustentável na produção de biodiesel.

O pesquisador explicou que esse estudo também pode ajudar na economia, pois os biocombustíveis no Brasil são, em sua maioria, feitos de soja. “Podemos substituir a soja pelo óleo de cozinha na produção do combustível sustentável. Isso significa ter mais soja para exportar, gerando, assim, mais lucro para o país. Tanto na exportação dessa planta quanto na produção do biocombustível”, afirma.

Em seu doutorado, também orientado por Edumar Coelho, Gilberto Brito tratou de outro tema de interesse ambiental: a possibilidade de se usar resíduos de biomassas agrícolas na produção de carvões ativados aplicados na remoção de produtos químicos presentes na água.

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