Estudo mostra comorbidades surgidas em pessoas que tiveram a forma grave da covid-19

Pacientes apresentaram alterações na saúde física e mental após a internação. Foto: Rawpixel.com / Freepik
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– Por Sueli de Freitas –

Um estudo coordenado pela médica e professora do Departamento de Clínica Médica da Ufes Jéssica Polese, com 44 pacientes curados da covid-19, mostra que variadas comorbidades podem surgir no organismo daqueles que tiveram a forma grave da doença. O estudo foi iniciado em setembro de 2020 com o objetivo de avaliar a função pulmonar na pós-recuperação, mas outros sintomas foram detectados nos exames realizados 30, 90 e 180 dias após a alta hospitalar.

Segundo a professora, por meio de uma parceria com o Departamento de Ciências Fisiológicas e o projeto Elsa (Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto) – sob a coordenação do professor José Geraldo Mill –, o trabalho foi desenvolvido em quatro frentes: investigações psiquiátrica, metabólica, radiológica e de função pulmonar.

“Nos primeiros 30 dias, os pacientes estavam com muitas lesões. Seis meses depois, apresentaram melhora, mas ainda com muitas queixas que não sabemos se vão resultar em sequelas definitivas ou não”, diz a médica.

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O estudo abrangeu 32 homens e 12 mulheres, com idade média de 51 anos. Nos exames dos 180 dias, cujos dados ainda estão sendo tratados para publicação, pelo menos 25% dos entrevistados apresentaram alguma queixa relacionada a dores musculares, 17% relataram dispneia, 13%, tosse, 7%, dores de cabeça e 10%, dores generalizadas no corpo. Para avaliação da saúde mental foram utilizados questionários como a Escala Hospitalar de Depressão e Ansiedade (HADS) e o Inventário de Depressão de Beck (BECK-BDI). Preencheram critérios de depressão 28% dos pacientes, de ansiedade, 36%, de fadiga, 44%, e afirmaram que dormem mal 44% do total. Sobre a qualidade de vida, 44% afirmaram limitação por aspectos emocionais e 40%, por aspectos físicos.

Pré-diabetes

Os exames laboratoriais mostraram prevalência significativa de hiperglicemia. Um quarto dos pacientes que não tinham histórico da doença ao final de seis meses estavam no estágio de pré-diabetes. “Podemos ter um problema de saúde pública no pós-pandemia, com grande número de diabéticos por conta da covid-19”, afirmou a médica. Ela relatou que as taxas de colesterol também foram elevadas, mas o dado foi relativizado, pois os pacientes tinham sobrepeso anterior à doença.

Para avaliar a função pulmonar, foram excluídas pessoas com problemas respiratórios e fumantes. Dos que participaram dos testes, 15% ainda apresentaram algum grau de disfunção pulmonar leve, seis meses após a cura da covid-19. Um teste de caminhada foi utilizado para medir a capacidade de desenvolver atividades do dia a dia. Vinte e quatro por cento apresentaram alguma limitação para realizar tarefas do cotidiano.

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A professora Jéssica Polese avalia que a rede pública de saúde não está preparada para receber os pacientes após a alta hospitalar. Ela destaca que essas pessoas que ficaram em isolamento, muitas vezes entubadas e sem contato com familiares, necessitam de cuidados, tanto no aspecto emocional quanto para tratar as comorbidades decorrentes do coronavírus. São transtornos psiquiátricos, passando por controle de hiperglicemia e outras doenças que acometem quem teve a forma grave da covid-19. “Esses pacientes precisam ser acolhidos e tratados”, afirma.

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